Por Mariana Mendes De Luca | @marianamdeluca
Colocar gelo no vinho é igual acrescentar açúcar no café.
Altera o paladar da bebida não se faz necessário, mas tem quem não viva sem.
Talvez sendo sucinta dessa forma, esse seria o artigo mais curto que eu já escrevi até agora, mas a verdade é que o papo não parou por aqui, porque dentro desse balde, ainda tem muito gelo para derreter.
Certo dia eu fui visitar uma amiga que mora fora do país e ela me serviu um vinho local que possui um apelo muito comercial aqui no Brasil. Um vinho que inclusive, já fui presenteada e já presenteei algumas vezes, ele faz a linha de vinhos com o custo médio, ideal para se tomar entre amigos dentro de uma piscina em um dia de calor.
Seria coincidência se não fosse exatamente essa a proposta do vinho.
Voltando a casa da minha amiga, ela após servir as taças, distribuiu algumas pedras de gelo dentro delas e disse: “estou colocando gelo pois o jeito certo de servir esse vinho é com gelo”.
Ora, faria todo sentido, afinal de contas se a proposta é prová-lo no calor, nada mais justo que manter sua temperatura por mais tempo.
A única coisa que não faz sentido aí, é de fato abrir uma garrafa, acrescentar gelo e permitir que não só a água como também a temperatura dele, altere o paladar do vinho.
Vou propor aqui que você escolha uma garrafa de vinho branco ou rosé, que são ótimos para provar em uma temperatura mais baixa, e a distribua em três taças e em três temperaturas diferentes. Esse será o melhor jeito para compreender como que a temperatura ideal influencia no paladar do vinho!
Enquanto ele estiver na temperatura ambiente, antes de colocar para gelar em torno de 30º, você vai sentir mais os aromas e com eles, os defeitos também vão ficar evidentes e principalmente o álcool vai parecer desequilibrado.
Agora se ele estiver gelado demais, abaixo de 5º, acredite, será pior ainda! Os aromas e sabores irão sumir e a adstringência vai aumentar.
Já na temperatura ideal, em torno de 10º, você vai desfrutar do que de melhor o vinho tem para te oferecer, os aromas vão se abrir e o vinho ficara mais perfumado e em boca vai parecer mais macio.
Se com o recurso de controlar a temperatura do vinho, seja com uma adega ou um balde de gelo, você consegue chegar em uma temperatura ideal para prová-lo, porque acrescentar gelo e resfriá-lo mais do que o necessário?
Além da temperatura, o gelo quando derretido em taça, vai alterar por completo os aromas do vinho, é como se você acrescentasse água naquele que são os vinhos mais difíceis de serem produzidos.
Isso mesmo! O vinho branco é o vinho que exige uma maior complexidade em sua produção. Estima-se que o surgimento das primeiras videiras de uva branca tenha acontecido cerca de 2.000 a.C. no Egito, em média 2.000 anos depois das videiras de tinto.
Por conta disso, as videiras de uvas brancas mais raras, eram confiadas aos melhores profissionais e o consumo reservado ao faraó e à elite da sociedade egípcia.
Hoje, sabemos que é possível produzir vinho branco a partir de uvas proveniente de videiras de tinto, e é justamente aí que torna seu processo mais complexo.
O tanino encontrado na casca da uva é quem “protege” o vinho por ser uma substância química antioxidante, mas como no processo de vinificação do branco a casca não fica em contato com ele, seu grande inimigo é o oxigênio. Tornando assim necessário o acréscimo de SO2 em sua composição.
E é quando entendemos toda a complexidade que existe por trás de uma produção que concluímos que brinde bom se faz com vinho sem gelo.
Um brinde e até a A Próxima Taça!