Setembro Amarelo na Literatura

Por Marly Camargo
Cadeira nº 6 – Patrono: Mário Quintana

Desde 2015, no Brasil o mês de setembro ganhou – como apelido – a cor amarela, em alusão ao automóvel Mustang em que o jovem Mike Emme, 17 anos estava, quando decidiu pôr fim à própria vida, nos EUA. A partir de então, a campanha tem sido amplamente divulgada em todo o mundo, como forma de alertar para os ‘sinais de perigo’ que as pessoas dão, e criar consciência de que é possível ajudá-las.

O suicídio, uma das maiores causas de mortes entre jovens, também está presente na literatura. Fiódor Dostoiévski e Albert Camus aproveitaram esta triste temática em suas obras e valeram-se de narrativas densas para levar os leitores a refletir sobre o assunto.

Mas inúmeros outros personagens chamam a atenção, inclusive pela época em que chegaram a público. Romeu e Julieta, por exemplo, é de 1597 e isso deixa evidente o quanto é remota a atitude de encurtar a própria vida, quando alguém se vê tomado por um desespero ou situação que parece não ter saída.

‘O Sofrimento do Jovem Werther’, de Goethe, ‘Madame Bovary’, de Flaubert, e ‘Anna Karenina’, de Tolstói, porém, são três obras que se destacam diante da notícia de um suicídio, pois, em cada uma delas, os autores trazem um recorte diferente acerca da mesma questão: os relacionamentos amorosos. Nestas três histórias, à medida em que as desventuras e desilusões dos personagens vão se expandindo, suas vidas adquirem tonalidades cada vez mais sombrias, que culminam em finais terrivelmente trágicos.

Apesar dessas tragédias literárias, desejamos que a vida real não tenha um final assim. No mundo fora dos livros, não dá para fechar o volume, guardar na estante e seguir em frente. Em São João, por exemplo, os índices de suicídio têm sido motivo de preocupação, e é sempre importante estar de olho nas pessoas ao nosso redor.

Recentemente, em uma palestra, um psicólogo contou a história de uma artista plástica que deu um presente um tanto curioso: uma pintura do seu gato. Dias depois, tirou a própria vida, deixando o amigo com a responsabilidade de cuidar do bichano. Parece até coisa de filme, mas foi real infelizmente.

Então, é importante lembrar que, até quem parece viver rindo à toa – como aquele seu amigo que faz piada de tudo – pode estar carregando dores que não vemos. A melhor coisa que podemos fazer é ser uma presença de apoio, oferecer um ouvido amigo e, talvez, até sugerir uma saída criativa – a arte, afinal, salva! Nada de julgamentos ou conselhos de autoajuda prontos. A pessoa não quer acabar com a própria vida, mas, sim, com os problemas que estão pesando.

Se ficarmos atentos, podemos fazer do setembro de alguém uma primavera, cheia de renovações e florescimento, ao invés de um triste final de capítulo. Porque, cá entre nós, a vida pode ser dramática, mas não precisa ter um desfecho tão pesado. Bora colorir esse setembro com esperança – e com todas as cores do arco-íris, se possível!

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