Vinho Reservado: reservado para quem?

Por Mariana Mendes De Luca | @marianamdeluca

Há alguns anos, arrisco dizer que há 15 anos, quando eu começava a me aventurar no mundo do vinho, estava em uma roda de amigos e fizemos um brinde. Alguém olhou para o vinho tinto em taça e perguntou:

— Que vinho é esse?

— Esse é um reservado! — respondeu quem o levou

E em seguida alguém da roda disse:

— Reservado para quem?

Todos riram, inclusive a pessoa que levou o vinho, enquanto eu olhava e sorria forçadamente sem entender nada da piada. Foi nesse dia que eu conheci uma das maiores jogadas de marketing do mundo do vinho.

E se você não entendeu a genialidade desse rótulo, eu vou te contar!

Mas para isso eu não vou falar do vinho reservado, porque talvez faça mais sentido eu falar sobre vinhos verdadeiramente especiais.

Todo mundo, ao menos uma vez na vida, já escolheu um vinho porque achou o rótulo legal, sem nem entender nada do que ali estava explicado.

A verdade é que no rótulo estão todas as informações necessárias para que você entenda o que está provando — é como se ele fosse a vitrine de um vinho. Se não soubermos interpretar o que está nele, podemos facilmente ser convencidos de estarmos tomando um bom vinho enquanto se prova um mediano.

Para facilitar a identificação da especificidade de um vinho, na década de 1930, a França, um dos maiores produtores da bebida no mundo adotou um sistema de rotulagem com termos que nos permite identificar a localização e os métodos que foram produzidos alguns vinhos especiais, são as AOC’s — Appellation d’Origine Contrôlée.

Trinta anos depois, vendo como bem-sucedido esse sistema, os italianos criaram sua própria denominação, os DOCs — Denominazione d’Origine Controllata. Hoje, feita de maneira ainda mais rigorosa, esse sistema exige que as áreas vitivinícolas, para receber essa classificação, estejam dentro de um padrão de cultivo, tenham uma importância histórica, prestígio e sejam também submetidas a testes realizados por órgãos do próprio governo, para garantir o padrão da qualidade dos vinhos.

Saindo do continente europeu e falando de forma mais abrangente, um outro título que vemos em alguns vinhos especiais são os termos Reserva ou Gran Reserva.

Essa denominação quer dizer que você está diante de uma safra exclusiva e de um vinho que passou por um processo de envelhecimento de ao menos 12 meses (para vinhos tintos), já um Gran Reserva pode ser considerado o vinho premium da vinícola em questão, que levou ainda mais tempo até chegar à sua mesa. Em resumo, Reserva e Gran Reserva são títulos dados a vinhos que cumprem critérios específicos e quando apresentados no rótulo — é possível identificar que o vinho tem uma qualidade superior.

Ok! Mas e o reservado?

O reservado nada mais é que uma brilhante jogada de marketing para fazer um vinho comum parecer um vinho especial.

No Brasil, o vinho reservado pode, por lei, receber esse título, caso ele seja um vinho para ser consumido jovem, com 10% de álcool. Ou seja, se você fermentar na sua casa um suco de uva, pode ser que você atinja esse percentual, fazendo com que essa lei não diferencie em absolutamente nada o vinho reservado de qualquer outro vinho comum.

Leia os rótulos, busque as informações e escolha o vinho que mais te agrada para brindarmos a nossa Próxima Taça.

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