Por Mariana Mendes De Luca
Vocês já notaram que todas as vezes que falamos sobre a bebida mais antiga do mundo a relacionamos com o seu valor? Seja por ter um alto custo ou por termos aproveitado aquela “promoção”.
Algumas pessoas, inclusive, só conseguem ver qualidade no vinho, dependendo do preço que aquela garrafa custou. É como se o tanino ficasse mais elegante, a acidez se equilibrasse ou ainda o vinho traduzisse perfeitamente o terroir de onde ele veio. Mas será que realmente não é isso que acontece? A pergunta de milhões é: por que um vinho custa R$ 100 e o outro custa R$ 1.000?
Um dia visitando uma vinícola, me foi falado que vinho bom se faz no campo. Se realmente for assim, eu adoraria ter a sorte de no “meu campo”, saírem as garrafas que custam R$ 1.000. Afinal, se o vinho se faz no campo, para que servem os enólogos? E as barricas de carvalho? E os diferentes métodos de vinificação?
A verdade é que na hora de se precificar uma garrafa de vinho, todo mundo quer puxar sardinha para seu pupilo e muitas vezes esquecem-se de realmente entender o que faz dos vinhos de alto custo, custarem o que custam.
O campo é a porta de entrada para um bom vinho, é dali que vai vir o terroir da região que vai agregar ao vinho suas propriedades, mas ali é só o começo! Se a vinha tiver uma boa condução, as chances de o vinho ser bom são altas. Já se a uva for colhida no tempo errado, o tanino terá seu nível alterado. Se não for conservada corretamente após a colheita, boas propriedades se perdem. Se não for limpa e separada, pode ter certeza de que você vai provar um vinho bem rústico. O campo até pode entregar um bom fruto, mas se não soubermos o que fazer com ele, de nada adianta.
Se analisarmos, por exemplo, o cultivo de vinhos na Espanha, vemos que o país se mantém como líder disparado em superfície cultivada, mas o fato curioso é que eles não são os maiores produtores de vinhos, eles ocupam a sexta posição no ranking da produção mundial. Isso ocorre porque, ao invés de produzir em toda a área de cultivo, a grande maioria dos produtores procura espaçar as parreiras para que o sol interfira de forma homogênea em toda ela. Todo esse processo tem custo e tem sabor!
Quando falamos que o vinho tem um ótimo custo benefício, queremos dizer que o que se paga naquela garrafa é equivalente ao que se é entregue por ela. Quanto mais especificidade tem uma região, quanto mais tempo se leva para a comercialização daquela garrafa, e quanto mais profissionais especialistas temos trabalhando por aquele produto, maior será seu custo final, porque no mundo do vinho, não existe milagres.
É por isso que eu sempre digo que a diferença entre o vinho de R$ 100 e o vinho de R$ 1.000 é que esse segundo tem a obrigação de ser melhor que o primeiro, já que seu processo com certeza foi mais trabalhoso.
Um brinde à bebida mais democrática do mundo e até a próxima taça!