Atuação e GEAS

Um pouco mais de uma década de trabalho e podemos mudar o mundo universitário. “A universidade é um pequeno mundo”, construções de mentes são elaboradas num campus, numa sala de aula, no ambiente acadêmico.

O GEAS – Grupo de Estudos de Animais Silvestres foi criado na UNIFEOB em 2013 (primeiro da Universidade), grupo que tem um olhar para aqueles animais não convencionais que lidamos na Medicina Veterinária. Diferente dos pets e dos animais de produção, os animais silvestres sempre estiveram em nosso contexto; aliás antes de qualquer espécie hoje doméstica, porém até meados de 1980 esses animais tinham seus cuidados predominantemente em zoológicos, criadores ou CeTAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres).

Percebemos que teríamos de ter um olhar para a fauna na década de oitenta, quando o Brasil começou sua expansão do setor energético por hidrelétricas, onde os desmatamentos seguidos de enchimento “mostraram” ao homem que ele não estava sozinho quando quisesse tomar espaços naturais. Foram muitos animais ilhados que os barqueiros dos rescaldos tiveram que capturar durante o enchimento dos reservatórios. Praticamente ali se notou a necessidade de elaborar programas de afugentamento e resgate de fauna prévios e aprimorar as técnicas. Já em 2007 saiu nosso primeiro tratado de medicina de animais selvagens (reunindo os melhores veterinários de selvagens do Brasil para tal compilação) e daí por diante tudo passou a ser muito mais estudado e elaborado nessa medicina.

Quando comecei a dar aulas na Faculdade, dessa matéria, em 2016, o GEAS já trabalhava nessa área, porém, eram menos de 2% de alunos interessados na área. Cerca de uma a quatro pessoas por turmas de 80 a 100 alunos. Hoje, em turmas menores, de 30 a 60 alunos, temos cerca de 10 a 15 alunos interessados nesse ramo da Medicina Veterinária. Houve um colossal desenvolvimento de consciência nos alunos, quase sempre acostumados a ver a vaca como um copo de leite; o boi como um pedaço de carne; a ave como um ovo e o pet como um filho. A Veterinária de silvestres (principalmente de animais de vida livre) trouxe um contexto real da aplicação da Medicina, onde não se trabalha para comer o paciente depois da cura, ou colocar um chapeuzinho de aniversário num pet que mal tem contato com a natureza lupínica ou felídea. A Medicina de silvestres cuida do paciente na sua essência! Não tem outro interesse que não a sua saúde e sua importância ecológica no planeta. Essa Medicina é a que chega mais perto do verdadeiro valor da cura e da sanidade, sem interesses econômicos ou qualquer outro que seja.

Essa consciência mudou o ambiente acadêmico! Mostrou ao aluno o que é um animal na mesma teia de vida dele; trazendo ao estudante a sensação de ser útil para o planeta e não apenas para o mercado. Conferiu a ele, enquanto estudante e futuro Médico Veterinário o que é verdadeiramente essa Medicina! Esse aluno aprendeu a alimentar adequadamente um animal para garantir sua saúde e não somente para engordar ou produzir algo para vender/exportar. E isso, não só aqui em nossa Faculdade: existem GEAS em todas as Medicinas Veterinárias.

O aluno “encarou” o modelo de ensino de sempre buscar a produção, onde aprendemos a fazer salames, queijos e produzir alimentos, mas não aprendíamos a importância da ecologia, resgate e salvamento de animais em seu meio ambiente. Em seu habitat natural. Isso mudou!

Com 11 anos de GEAS sinto um orgulho enorme de participar desse redemoinho de ideias que uma Universidade séria nos proporciona! Dou parabéns ao GEAS e à UNIFEOB que sempre acata as mudanças e nos incentiva a mudar. Com isso, todos nós crescemos e o mundo fica bem melhor!

 

Plínio Aiub

é médico veterinário especializado em animais silvestres

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