Um Cabral, Dois Cabrais, Três Cabrais…

Literatura: Dr. Alfredo Soares Cabral Junior é o autor do livro ‘O Diário de um Jovem Médico (Divulgação/Arquivo Pessoal)

Acacio Vaz de Lima Filho

Assim saudava outrora os meus primos quando os encontrava reunidos no “Caprice”, em frente da minha casa da Avenida Dona Gertrudes. Eu me chegava à mesa em que estavam Cabrais de várias estirpes, e os cumprimentava. Lá se encontravam Wilson e Walter (Tio Zé do Comércio), Milton (idem) e Chico Malheiros (Tia Mariquinhas). Apontava para cada um e ia contando: Um Cabral, dois Cabrais, três Cabrais, quatro cabrais… por último, apontava para mim mesmo e dizia: — Cinco Cabrais!… o único “não cabral” do grupo era o meu tio, Coronel Sinésio Netto de Lima. Mas, eu o dava como “naturalizado na Fazenda São Paulo”…
Esta minha saudação vem a propósito de outro Cabral, e por sinal que muito ilustre: Trata-se do Dr. Alfredo Soares Cabral Junior, filho de Alfredo Soares Cabral e neto do Capitão Maneco Cabral, este último, sobrinho e afilhado do meu bisavô, Felipe Cabral de Vasconcellos. O pai do Dr. Alfredo, também médico, era na família chamado de “Alfredinho.” Ele, em contrapartida, é “Dão”, que eu chamo de “Fredão.”
Médico diplomado pela tradicional Escola Paulista de Medicina, turma de 1969, o Dr. Alfredo Soares Cabral Junior muito cedo demonstrou uma grande vocação para a cirurgia, à qual se dedicou ao longo da sua profícua carreira. Diziam os gregos que, quando os deuses desejavam castigar alguém, davam a este alguém o dom de ensinar. Como eu próprio, que sou um professor universitário, o “Fredão” foi castigado pelos deuses, pois lecionou por muito tempo na Faculdade de Medicina de Santo Amaro…
Foi o romance “Lucina”, iniciado por minha saudosa mãe, e por mim finalizado, que me aproximou do primo Alfredo Soares Cabral Junior. Este livro, biografia romanceada de minha bisavó Lucina Raposo de Vasconcellos, faz menção, como é óbvio, a todos os ancestrais do “Fredão”…
A aproximação entre Alfredo e eu foi feita por meio de um livro, e da aproximação nasceu uma sólida amizade, calcada em inúmeras afinidades… uma dessas afinidades reside em que nós ambos somos Oficiais da Reserva do Exército Brasileiro, sendo ele um Oficial Médico, e eu, um Oficial da Arma de Cavalaria… mas os pontos de contato não param por aí: Nós dois servimos na Quarta Divisão de Cavalaria, naquela famosa “Divisão Guaicuru”, sediada em Campo Grande, Mato Grosso… ambos fomos comandados pelo General Plinio Pitaluga, cavalariano dos bons, herói da Força Expedicionária Brasileira, e comandante do legendário “Esquadrão Tenente Amaro…”
O “Diário de Um Jovem Médico”, livro escrito em um linguajar coloquial, despretensioso e agradável, é o “retrato sentimental” do amor profundo de um rapaz cheio de ideal por uma jovem cheia de esperança, pois que contém as cartas que Alfredo, Oficial Médico do Exército Brasileiro, escrevia à sua então namorada, e hoje esposa Lecy, que tenho o prazer de conhecer.
Apenas pela razão apontada, o livro do “Fredão” mereceria ser lido. Há mais a dizer, no entanto: São os escritos de um moço do tempo em que os jovens destes Brasis tinham ideais, tinham patriotismo, e consideravam honrosa a prestação do serviço militar. De uma juventude que, em síntese, possuía uma tábua de valores com a qual pautava a sua vida.
A leitura para mim é altamente nostálgica: Revi a minha velha Campo Grande e o Quartel General da 4ª Divisão de Cavalaria; revi o quartel do 17º Regimento de Cavalaria, em Amambai, e até Ivinhema, onde fui com um comboio buscar recrutas!… quando dei fé, estava repetindo uma voz de comando familiar, que enunciei muitas vezes: — “Atenção pelotão!… preparar para montar!… a cavalo!… em frente ao passo, maaaaaaarche!… ordem ao pelotão: Abandonar estribos e cruzar loros!… preparar para o trote!…”
“Fredão” conseguiu despertar a minha saudade da fronteira paraguaia… “Saudade, minha saudade, único bem que me resta!… em toda a parte em que estou, eu sinto um cheiro de festa, mas sei que a festa acabou!…”
Alfredo Soares Cabral Junior, que já se notabilizara com a biografia do seu avô materno Abilio Soares, com esta nova obra demonstra que, a exemplo de médicos antigos como Afrânio Peixoto, Gastão Cruls e Pereira Barreto, podem ainda hoje existir médicos que sejam, ao mesmo tempo, humanistas. E o meu ilustre primo é reconhecido “aquém e além mar”, porquanto é integrante da Sociedade de Geografia de Lisboa…Parabéns, Fredão! “És um gajo supimpa”, como diriam os nossos ancestrais!…

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