CLINEIDA JUNQUEIRA JACOMINI
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“De boas palavras está cheio o meu coração! ”. Sl 45.
Para quem perdeu alguém muito querido!
Escrevi sobre as 10.000 edições do jornal para o qual escrevo há 28 anos com grande e sincera satisfação/aceitação. Já tive vários companheiros de página, excelentes; e agora, sozinha, a última cronista de tão gloriosos tempos. O jornal tem 108 anos de existência e como nada muda (ou tudo muda) nessa terra, vou fazer algumas considerações sobre a morte, sempre temida; muitas vezes não bem-vinda; outras, até desejada; mas sempre certa!
Já escrevi sobre uma série da Universal, canal 140 da Sky: Blue Blood, ‘sangue azul’, traduzido literalmente. O nome faz referência à polícia de Nova York em seus uniformes azuis. É a saga de uma família irlandesa de policiais, do avô passando pelo filho até aos netos: detetive um; policial, outro e promotora, a única filha. O pai, (Tom Selleck) poderoso comissário da polícia, perdeu o filho mais velho, também policial por causa de membros corruptos e todos sofrem com a perda mesmo depois de anos passados. Num dos episódios, o filho de um pastor negro, (sempre polêmico em suas atitudes e em conflito com a polícia), é morto por um elemento de uma gangue num processo de iniciação. Uma tristeza! Todos trabalhando arduamente para descobrir quem o matou e o pai, inconformado com a morte do único filho, acusando a polícia. Mas, descoberto o autor do crime, Frank e o pastor se reconciliam e esse sofrido pai até pede que o comissário compareça ao velório e fale sobre o luto. E Frank diz o seguinte: _ “E mesmo quando dormimos, a dor que não pode ser esquecida; cai gota a gota no nosso coração. E para nosso desespero, contra a nossa vontade, chega até nós a sabedoria pela temível graça de Deus! ”. Da autoria de Ésquilo, o maior escritor grego de tragédias, essa frase me ficou na cabeça. E comecei a me lembrar o porquê comecei a escrever minhas crônicas para o jornal em setembro de 1995!
Em junho daquele ano havia morrido uma querida amiga e prima de acidente automobilístico. Aquilo, como todas as perdas de pessoas amadas, me abalou profundamente! Um dia, visitando seu túmulo no cemitério, pensei: _Não posso deixar que se perca tudo aquilo que penso! Preciso deixar escrito! E comecei! Minha sábia mãe me dizia sempre: _Não escreva coisas tristes! Só coisas boas, encorajadoras e para levantar os leitores; nunca para deprimi-los com tragédias e mazelas! Procurei fazer isso durante esses 28 anos de convívio com o jornal! Confesso que às vezes isso se torna difícil, senão impossível! Tantas coisas esdrúxulas, trágicas, escandalosas e ruins por aí que não se pode deixar de mencioná-las! Quem diria, por exemplo, que viveríamos, a minha geração, de meus filhos e netos, uma pandemia que ceifou tantas vidas e mudou o comportamento de todos nós?
Às vezes pensava: _O que tenho de especial para ser uma cronista? Sou muito “Clineida”! Será que poderei passar alguma coisa útil aos meus leitores? Aí respondo a mim mesma: _Sim! Posso! Pois sou: mulher, mãe, esposa, avó, irmã, professora, paulista, brasileira, agricultora… agora viúva e aposentada! Então sou representativa de uma área significativa de nossa sociedade. O que penso, sinto e escrevo se torna porta-voz de todas as mulheres que não têm acesso à mídia e comunicação! E continuo!!