Os 10 shows musicais produzidos pelo jornal O MUNICIPIO foram muito importantes na medida em que trouxeram de volta muitas canções já esquecidas pelo público; composições, por exemplo, de Chiquinha Gonzaga, de Pixinguinha, de Luiz Gonzaga. O roteiro daqueles shows era escrito com base na história da música desse País, década a década. Eu tive a honra de fazer a direção musical de oito dos shows realizados. Lembro-me de atravessar madrugadas escolhendo as músicas que seriam apresentadas no palco do Theatro Municipal.
A repercussão junto ao público foi sempre a melhor. Nos dias que antecediam as apresentações, eu era abordada nas ruas por pessoas querendo saber quais seriam os cantores, quais músicas foram as escolhidas, se eu tinha ingressos para fornecer… Eu me lembro de um casal de amigos que marcava presença no Theatro Municipal desde os ensaios. Descer a avenida Dona Gertrudes depois do show, então, era uma apoteose!
É importante registrar que a parte mais jovem do nosso público nos shows ouviu muitas músicas brasileiras pela primeira vez. Claro que algumas canções sempre foram muito conhecidas, como, por exemplo, a “Carinhoso”, do mestre Pixinguinha com João de Barro. Eu penso que essa abertura que o jornal ofereceu, ampliou muito o ‘repertório’ pessoal de muita gente naquele Theatro.
Era parte da minha função escolher os cantores e as músicas que fariam parte de um show. Com base no meu conhecimento da voz desse ou daquele cantor ou cantora, a escolha musical era feita, sempre com o objetivo de ‘tirar o melhor’ de cada artista. E uma cultura desses personagens começou a existir: as pessoas me paravam nas ruas para saber quem cantaria, quais músicas ele ou ela cantaria naquele show.
Foi um tempo muito bom em vários sentidos. Em todos os shows produzidos musicalmente por mim, eu nunca sofri qualquer tipo de interferência do jornal para inserir esta ou aquela música, este ou aquele cantor. Os organizadores tinham total confiança em mim para isso. Quero citar dois cantores em especial, sem desmerecer os demais: o show do O MUNICIPIO lançou, através da minha escolha, o jovem cantor Fábio Nogara, subindo pela primeira vez num palco; e a querida Walgra Maria que, mesmo enfrentando uma grave doença, em tratamento pesado, participou com sua garra e talento e o público nem percebeu o drama que ela estava enfrentando.
Ponto importante a ser registrado é que aqueles shows criaram oportunidades a inúmeros cantores e músicos sanjoanenses. Muito deles já eram cantores da noite. Todos tiveram muito maior visibilidade nessas apresentações. Foram acompanhados por músicos de enorme talento e os aplausos que arrancaram do público foram a prova de que estávamos acertando.
Por determinação do diretor do O MUNICIPIO, Dr. Joaquim Cândido de Oliveira Neto, também idealizador desses eventos maravilhosos, não era cobrado ingresso na portaria. Havia, sim, a troca dos ingressos por alimento não perecível, que era direcionado a entidades assistenciais da cidade. A verdade é que o Dr. Joaquim era a alma daqueles shows. Ele nunca mediu esforços para que eles acontecessem da melhor maneira possível. Ele faz falta, os shows fazem falta…
Claro que, agora, seria o momento de outras pessoas assumirem a direção musical dos possíveis futuros shows do jornal O MUNICIPIO. Mas, aproveitando a frase da canção do Gonzaguinha, se eu pudesse “começaria tudo outra vez”.
Célia Bertoldo, musicista