O governo, que nem começou, vai dando seus encontrões e mostrando como será a retórica para os fracassos. Titubeando, vacilando em pontos importantes, avançando e recuando quando a proposta, que parecia a última cereja do bolo, cai em desgraça, como no caso do Ministério do Trabalho. Sei que todo o novo governo merece um tempo de maturação, de paciência, até que se acostume com a máquina pública e a forma de conduzi-la. Mas, algumas propostas são tão bizarras que acabam por enfraquecer o que mal nasceu.
O novo governo vem para trazer mudanças, se fosse para deixar tudo como estava, largava-se o Temer. Mas, propor mudar a embaixada brasileira para Jerusalém, é de uma bestialidade sem precedentes. Apenas dois países o fizeram, o todo poderoso EUA (o espaço no jornal não permite aprofundar os motivos) e a Guatemala. A irresponsabilidade do gesto causou indignação no mundo árabe e a recusa do Egito em receber o chanceler brasileiro. Fez pronunciamentos que causaram irritação na China, nosso maior parceiro comercial, e não mostra o caminho que pretende seguir na política externa, a não ser adorar o sacrossanto estado norte-americano. Se a política externa derrapar, de quem será a culpa?
Outro gesto que poderia ser evitado, emitir opinião sobre a votação no Senado do aumento aos Ministros do STF. Primeiro, que criou um enfrentamento com os dois outros poderes em assunto que já estava decidido, gastou saliva, esperneou, mas não adiantou. Melhor cuidar do que pretende fazer a partir de janeiro e não tentar empurrar mudanças usando o governo Temer. O mesmo ocorreu com a reforma da previdência, queria alguma coisa para este ano e voltou atrás.
Por enquanto, lua de mel iniciando, todos os recuos são permitidos. O problema será quando o governo começar a afirmar: “Não consegui porque o Congresso não ajudou, as coisas não mudam porque o STF é feito de petistas e vermelhos, a imprensa não pensa no país.” Quando as desculpas começarem, já que os resultados positivos pedem muita habilidade política, tentar-se-á consegui-los na bala?
Fernando Dezena
[email protected]