Por Ana Paula Fortes
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A recente morte de dois bebês por bronquiolite em menos de uma semana em São João da Boa Vista causou uma grande comoção e chamou atenção para os perigos da doença. Anthony Gabriel Dias e Maitê Sossai Bueno, ambos com apenas dois meses, foram vítimas desta infecção que é causada pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR).

Atualmente todo o Brasil está em alerta diante do crescimento acelerado dos casos de bronquiolite e também da Influenza A, principais responsáveis pelo aumento das internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), especialmente entre crianças e idosos.
Segundo dados divulgados pelo Instituto Todos pela Saúde (ITpS) e pelo boletim Infogripe, da Fiocruz, mais da metade das unidades federativas do país se encontram em nível de alerta, risco ou alto risco para SRAG.
O relatório, publicado em abril, mostra que o VSR atingiu a maior taxa de positividade para o período dos últimos três anos. O vírus, causador da bronquiolite, afeta principalmente os pulmões dos bebês e é hoje uma das principais causas de internações infantis no Brasil. Já o Influenza A, que vem em crescimento desde dezembro de 2024, apresenta aumento em todas as faixas etárias, com concentração nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
RISCO MAIOR PARA OS PEQUENOS
A pediatra Maria Raquel Moreira Garutti Yazbek, gastropediatra e especialista em nutrologia infantil, afirma que a bronquiolite, causada principalmente pelo VSR, acomete com mais gravidade bebês e crianças pequenas, cujos sistemas imunológico e respiratório ainda estão em formação. “Ela inflama os bronquíolos, dificultando a passagem de ar e provocando chiado no peito. Costuma começar como um resfriado comum, com nariz escorrendo, tosse e, às vezes, febre. Mas o que preocupa é quando o bebê começa a respirar muito rápido, faz esforço para respirar, fica sonolento demais ou não consegue mamar direito. Esses são sinais de alerta para procurar o pediatra o quanto antes. É diferente de uma bronquite ou pneumonia”, explicou.
A pediatra alerta ainda que o tratamento da bronquiolite é de suporte, ou seja, não inclui o uso de antibióticos, a não ser que haja infecção bacteriana associada. “Manter a hidratação, fazer inalações com soro fisiológico e manter o nariz limpo são medidas simples e eficazes”, orientou.
PREVENÇÃO
A campanha nacional do Ministério da Saúde, iniciada em 7 de abril, prioriza grupos como crianças pequenas, gestantes, idosos e pessoas com comorbidades.
Para o VSR, a proteção tem avançado. A rede pública já disponibiliza o palivizumabe (anticorpo monoclonal) para bebês de alto risco, como prematuros ou portadores de cardiopatias e doenças pulmonares crônicas. Também há vacinação disponível para gestantes durante o pré-natal, passando proteção ao bebê. Na rede particular, tanto gestantes quanto alguns bebês podem ser vacinados.
“Diversos estudos comprovam a eficácia dessa imunização na redução dos casos graves de bronquiolite, trazendo mais segurança para as famílias”, ressaltou a pediatra.
O QUE DIZEM AS MÃES
A jornalista Ana Laura Moretto, mãe da pequena Catarina Maria, de sete meses, compartilha o medo que sentiu diante da possibilidade da filha contrair a bronquiolite. “Desde a gravidez, esse era um dos meus maiores temores. Quando meu marido adoeceu, me isolei o máximo possível e continuei amamentando, com todos os cuidados. O leite materno foi a melhor proteção que pude dar para ela”, relatou emocionada.

Ela também desabafa sobre a falta de compreensão de parte da família ao restringir visitas. “Muitos não entendem o porquê desses cuidados. Acham exagero. Mas é o mínimo que podemos fazer para proteger nossos filhos de doenças sérias”, lamentou.
Thais Arrigucci Bernardes, mãe da pequena Beatriz, de um ano e dez meses, viveu uma experiência semelhante. “Beatriz nasceu no auge do frio. Na época ainda não existia vacina contra o VSR. A mantivemos em casa, recebendo só a rede de apoio, com muito cuidado. Só depois dos seis meses, com boa parte da vacinação feita, começamos a frequentar ambientes fechados”, contou.

RESPONSABILIDADE COLETIVA
A imunização não é apenas uma questão individual, mas de saúde pública e unida com a amamentação, boa higiene das mãos, locais não aglomerados e ambientes ventilados são fundamentais para a saúde do bebê. “Sabemos que ver um filho doente traz muita angústia, mas é importante ter em mente que a maioria dos casos de bronquiolite evolui bem com os cuidados adequados. Estar atento aos sinais, seguir as orientações do pediatra e manter a calma ajudam a tornar esse momento mais leve. Estamos juntos para cuidar e atravessar esse momento com segurança.”, finalizou Ana Laura.