Por Clovis Vieira
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No dia 31 de março de 1964, o Brasil acordou sob o peso de um golpe militar que mudaria o curso da sua história durante os próximos anos. Esse estado de coisas perdurou até 1984, quando se começou a articular uma transição para a redemocratização no país. Esse momento histórico se deu em 15 de janeiro de 1985, quando, de forma indireta, Tancredo Neves e Paulo Maluf disputaram a presidência da República. O primeiro saiu vitorioso e a transição se concretizaria em 15 de março do mesmo ano, o que não ocorreu em face de um mal súbito que acometeu Tancredo Neves, às vésperas da posse.

O vice de Tancredo, José Sarney, assumiu interinamente o comando do Brasil, até que o presidente eleito pudesse tomar posse. A internação deixou o país atônito. Tancredo faleceu em 21 de abril, aos 75 anos, sem oficialmente tomar posse do cargo. Primeiro na linha de sucessão, Sarney assumiu de forma definitiva a Presidência da República e governou até março de 1990.
IMPORTÂNCIA
Sarney foi o primeiro civil a presidir o Brasil em 21 anos – o último havia sido João Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964. Coube a ele realizar o processo de redemocratização, passo importante para o Brasil, pois permitiu o restabelecimento da democracia no país, com a realização de eleições livres e diretas, a criação de uma nova Constituição e a garantia dos direitos humanos. Além de colocar fim ao período de repressão do regime militar, este processo ampliou os direitos sociais e o desenvolvimento econômico do país, com a abertura do mercado brasileiro ao comércio internacional e a atração de investimentos estrangeiros.
EM SÃO JOÃO
O atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Sidney Beraldo, esteve à frente da Prefeitura de São João da Boa Vista entre os anos de 1983 a 1988 e vivenciou este momento histórico. “Somente quem viveu sob a ditadura é capaz de dimensionar o que foram os ‘anos de chumbo’. Aqueles que hoje pedem o retorno desse período se esquecem de que só o fazem porque a democracia lhes assegura o direito à livre manifestação. Durante mais de 20 anos, muitos que lutaram pelo fim do regime militar pagaram com a vida pela liberdade de que hoje desfrutamos”, comentou. “Valorizar essa conquista é fundamental principalmente diante dos acontecimentos recentes, que nos mostraram que a vigilância permanente é o preço a se pagar para que os erros cometidos jamais se repitam”, destacou o ex-prefeito.
Acompanhando de perto cada movimento, O MUNICIPIO publicou artigos e matérias com informações atualizadas sobre a redemocratização. Em resposta a esse esforço editorial, inúmeros cidadãos opinaram sobre a nova república que vinha sendo anunciada. “O MUNICIPIO não poderia omitir-se à data histórica que atravessamos e, ainda que de modo conciso, realizou uma pesquisa junto à população sanjoanense. Uma única pergunta foi feita a todos os entrevistados: O que espera do novo governo?”.
Em matéria publicada à página 5 da edição que ciculou entre 9 e 16 de março de 1985, 20 leitores do jornal expressaram suas esperanças e receios. Entre eles estavam Adelnofre Mansi, José Mauro Tavares, Cleusa Maria Vasconcellos, Denise Barbosa e Vanderlei Ferreira Rodrigues. Havia um consenso nas respostas dos entrevistados: todos ansiavam pelo cumprimento das promessas feitas em campanha, pela valorização do cidadão brasileiro e pela busca de soluções aos muitos problemas enfrentados no país até aquele momento.