Virada Animal

Muita comilança de um lado, escassez em alguns lugares (imagine as zonas de conflito de guerra, deve ser vergonhoso para quem solta uma bomba essa época né? imagina impedir entrada de alimentos!!!). Harmonia e paz são o que todos esperam. Presentes distribuídos, espirito de compaixão, amor aflorado, ideais postos em prática. Tudo no nosso mundo está em alta nesta época “mágica”, como chamam os mais empolgados. Nosso mestre Jesus, fez aniversário e seguimos na fé. O calendário virou a página e nós vamos esperar mais do mundo agora, como se o planeta fosse para nosso consumo.

Enquanto isso, na Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos do mundo, o mico-leão-dourado tenta sair do status de ameaçado de extinção. Já fizeram tantas campanhas, inclusive internacionais, para salva-lo, mas… Ele é lindo, então, o homem cobiça. Para o mico, o Natal e a passagem do ano não vai alterar sua batalha por sobrevivência, uma vez que seu bioma é um hotspot mundial. O lobo-guará até escutou e viu nos céus alguns rojões, mas a coceira era tanta na sua pele que ele mal pode se preocupar com isso, seu corpo já nem tem mais pelos porque a sarna já tomou conta. Seus primos, os cães domésticos, são tão bem cuidados que já existe até cão rico e cão pobre (desigualdade social canina) e esse pobre foi morar no mato e transmitiu sarna a ele. Mas quem se importa?

Quando o oceano começou a receber um número enorme de sujeiras e excremento, este sim conseguiu mostrar para toda a população que mora nas suas águas salgadas que a virada do ano chegou e que tudo muda até acabarem as férias. Lá no cerrado sim, a estação das chuvas chegou. O Pantanal está enchendo de novo e essa, realmente, é uma virada na vida. Enquanto houver chuva haverá esperança e nem foi o Papai Noel ou o calendário que trouxe essa esperança, foi o clima mesmo. Aliás, as estações do ano é que realmente são as viradas verdadeiras para os seres vivos.

O Natal e o Ano Novo são genuinamente humanos. Os animais não tem nada com isso. Na verdade eles são os grandes colaboradores para que possamos ter tudo que temos e fazemos. A biodiversidade é responsável pela vida no planeta, embora ainda achássemos que são os homens e sua tecnologia que possibilitam a vida. Comemoramos a vida humana, a história teísta e todas as parábolas que a envolve, adicionado com todo o comércio por trás do Papai Noel. Tudo isso faz a gente até esquecer que existem animais, a não ser a rena voadora!!! Para mantermos o estado de progresso e conforto do mundo, os animais precisam ir dando lugar a nós. É isso que se comemora, a vitória da nossa corrida pessoal ao sucesso, nossos sonhos realizados, nosso progresso e nossa riqueza como nação. É uma época do ápice do especismo, ou seja, o mundo é dos homens e mulheres.

Não que os animais não participem, participam e muito, aliás, sem eles, não haveria a ceia. Eles nos servem como alimentos para esbanjarmos (ou não) nossa fartura. Os animais estão em praticamente tudo em cima das nossas mesas. Lá no bioma deles ou na fazenda de criação deles, não há muito que se comemorar, ao contrário, “eles sabem” que a equação do holoceno é o decréscimo para eles, pois tudo provem de um recurso natural, justamente a casa deles.

O Natal e o Ano Novo são humanos, mas, a vida do planeta e mais do que isso e ela só precisa que a humanidade queira menos e respeite mais.

Plínio Aiub é médico veterinário especializado em animais silvestres

COMPARTILHAR

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here