Como driblar a melancolia de fim de ano

Por Marly Camargo
Cadeira nº 6 – Patrono: Mário Quintana

Dezembro. Mais doze meses passaram por nós?! No meu caso – que faço aniversário no 1º dia do último mês do ano – tudo torna-se um pouco mais doloroso à medida que o tempo avança. Sim, pois estas festas – sempre sinônimo de alegria, de ruas e casas cheias de luzes – em contrapartida, me trazem à memória lembranças daqueles que não estão mais entre nós.

Filha de uma professora de piano, as músicas natalinas fazem parte da minha vida. Em especial, “Boas Festas”, de Assis Valente – uma das poucas cantigas natalinas 100% brasileiras – me faz refletir muito, quando não me traz lágrimas. “Papai Noel, vê se você tem a felicidade para você me dar”. Quem não deseja um presente assim, que nos chega envolvido na imagem de um bom velhinho, personagem tão universal e, ao mesmo tempo, tão particular?

Quando chega essa época, é inevitável não me lembrar de tantas pessoas queridas que determinado ano me tirou – “presentes” que, ao invés de ganhar, eu perdi, em decorrência da própria ordem natural da vida. Há anos, meus amados pais e, assim, sucessivamente, perdas irreparáveis… Recentemente, foram alguns amores: Thaís Marcondes, Pistelli, dona Ica Assad, Kaká Padovan…

Porém, durante toda essa alegre espera pelo Natal, quem me faz uma falta gigantesca – dentre tantos amados – é o Nino Barbin! Mais que um confrade, ele era um amigo cujas palavras jamais serão capazes de descrever! Palavras, por sinal, eram companheiras com as quais ele sabia lidar melhor do que qualquer outra pessoa – sendo o poeta sensível, especial, um viajante das entrelinhas.

A saudade que eu sinto dele é imensa, especialmente no Natal, quando as famílias em todo o mundo tendem a se reunir: fico imaginando como o Nino deve estar passando o dele. Quantas poesias e trovas esse meu saudoso amigo trovador deve compor, ao contemplar ali, do seu lado, as estrelas? Não as que decoram árvores de Natal, mas as próprias constelações universais. Com certeza, sendo alguém justo, observador e culto, Nino deve passar seus Natais sempre muito bem acompanhado. Imagino-o em um local onde o Sol é ameno, onde outros espíritos trabalham. Nino, alegre e entusiasmado, conversando com São José e se perguntando como os “da Terra” vão passar seus Natais. E o que o Messias planeja para os próximos 365 dias, já que voltará, 2025 anos depois, em um mundo que ainda está em guerra?

Ah… se eu pudesse pedir a felicidade ao Papai Noel de Assis Valente, o retorno de certas pessoas queridas. Quisera eu que pudessem tocar a campainha, na minha casa… e dizer que conseguiram permissão para estar comigo, mais uma vez, já que a noite é de Natal. “Onde estarão? Nas nuvens ou na insensatez? Me beijem só mais uma vez, depois voltem para lá…”(*) Feliz Natal para todos! E lembrem-se que, para driblar a melancolia, basta se apegar aos que a gente ama – em qualquer plano em que estiverem.

 (*trecho da música ‘Bem-te-vi”, de Paulinho Pedra Azul)

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