Causa Animal

Habituados a ouvir e ler “Causa Animal”, soa estranho o inverso e, realmente, é o inverso que devemos entender. O que o animal causa em seu meio e no seu entorno? Para que serve um animal? Qual sua função? Importante saber o outro lado da compaixão e entender sob o ponto de vista do corpo técnico: a Vigilância Sanitária, o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses), os hospitais e as clínicas veterinárias, os postos de saúde e todas aquelas entidades e instituições que além da compaixão, veem sanidade no cuidado dos animais.

Estamos vendo uma das maiores demonstrações de compaixão para com os animais nos últimos tempos! Ações que mostram o amor por eles, muito em função de um movimento de proteção animal, que aqui na nossa cidade, está prestes a completar 30 anos de existência, com a bela atuação de nossa USPA (Unidade Sanjoanense de Proteção Animal).

Uma vez adquirido o status de amor aos animais é importante saber o que os animais causam. Um filho é maravilhoso: dá-se de mamar, depois vem a infância, a adolescência, a juventude e tudo que implica de cuidados, preocupações e investimentos durante essa jornada para, em seguida, vê-lo sair de casa e ganhar o mundo sozinho. Diferente de um filho, o pet, além de todas as fases citadas, ainda tem a vida adulta e a senilidade quando deverá ser cuidado! Portanto, a adoção é só um começo, a parte mais fácil; depois o compromisso continua e se estende, em média, por 13 anos. Acho que aí é que entra o que o animal causa na vida das pessoas, da comunidade, do município, do Estado e da Federação.

Desde que conseguimos essa proteção aos pets, o número de cães e gatos abandonados, errantes, em lares temporários e abrigos parece só aumentar. Mesmo com múltiplas castrações e todo trabalho para encaixar os animais em lares de amor, a demanda é grande.

O controle sanitário dos ambientes onde há excedente de animais é um desafio e o controle de zoonoses fica mais difícil. Os atendimentos dos veterinários diante de animais provindos de abandono, maus tratos e todas as ocorrências inerentes, têm mostrado um reflexo negativo traduzido pela volta de doenças e problemas que já não aconteciam com tanta frequência! Acidentes por brigas de aglomeração, ataques em adotantes e cuidadores, fugas, doenças venéreo transmissíveis, doenças sem um diagnóstico (o animal é um “vertedouro” de patógenos) e de uma série de problemas que estavam mais controlados no passado. Nos postos de saúde, é possível apurar a incidência de doenças correlacionadas aos animais, como: alergias, ácaros, bicho geográfico, verminoses e infecções, sem contar os inúmeros danos à fauna silvestre causados pelos animais errantes ou aglomerados.

Portanto, o ANIMAL CAUSA uma série de circunstâncias na civilização que têm sido negligenciadas em prol só do amor. É preciso dar voz à razão! Fazer o resgate, achar um lar temporário, dar amor e castrar é apenas uma mínima parte de uma ação organizada. Adquirir um animal e cuidar dele como membro da família é tarefa árdua e de muita responsabilidade. Um animal, durante sua vida, pode passar por diversos problemas de saúde que custam valores, muitas vezes, altos. E o pior de tudo isso? O mercado se aproveita e cada vez mais canis clandestinos e estímulo a se ter um animal ganha força num país que nem resolveu sua própria situação humana de abandono.

O animal é uma vida e a vida custa na sociedade. Para se ter um animal com dignidade não basta só o amor, é o cuidado que muitos não conseguem oferecer, ou por falta de recursos, ou por achar que ter é só comprar ração e colocar no quintal. Não é crítica, é reflexão!!!

Plínio Aiub é médico veterinário especializado em animais silvestres

COMPARTILHAR

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here