Por Marly Camargo
Cadeira nº 6 – Patrono: Mário Quintana
O cartunista Mauricio de Sousa completou 89 anos de idade em 27 de outubro e, coincidentemente, na mesma semana, a plataforma Globoplay disponibilizou a primeira temporada de ‘Turma da Mônica – Origens’. Neste seriado – com locações em Poços de Caldas e a participação do sanjoanense Matheus Lianda numa figuração – a famosa ‘Turminha do Limoeiro’ reencontra-se, já na terceira idade, para ajudar a Mônica a recuperar sua memória. Eu o assisti, em uma rara pausa da rotina escolar, na companhia dos meus netos, e fiquei bastante tocada com as mensagens subliminares.
Na trama, Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão e Milena voltam ao local onde se conheceram, na infância. Estar no ‘Limoeiro Palace Hotel’, (no Parque José Affonso Junqueira), em Poços e revisitar as memórias infantis traz à tona o nível de importância que essa amizade tem na vida dos personagens.
Com muita sensibilidade, a série aborda como as crianças lidam com a raiva, com as dúvidas e com o medo – seja o da rejeição, o da mudança ou o de levar a culpa por atitudes impensadas, próprias da idade. Mas, de todos eles, a força da amizade sempre surge inabalável, na lembrança dos personagens, que concluem que, juntos, são capazes de superar todos os obstáculos.
Um dos momentos mais marcantes, a meu ver, é quando o pai da personagem Milena a leva para passear no Parque e lhe ensina como funciona um telescópio. A garotinha está com muito medo de se mudar com a família para o bairro do Limoeiro e o pai mostra que, assim como este instrumento, a vida tem muitos ângulos – é preciso olhá-la sob outros prismas antes de julgar se a mudança será boa ou má. Seriados à parte, eu volto às origens, a minha análise como professora de Língua Portuguesa e me recordo que Mauricio de Sousa transformou sua filha, Mônica, em desenho, no ano de 1963. Naquele tempo, ela já tinha seu coelhinho Sansão – não azul, mas amarelo – comprado em uma feira. E a Maria Cebolinha, por sua vez, é Mariangela, a primogênita do cartunista. Em um artigo publicado no seu LinkedIn, ele confessa uma doce situação, vivenciada como pai de primeira viagem. “Tenho uma foto da minha primeira filha, Mariângela, ainda bebezinho, espiando com a maior atenção e curiosidade os próprios pés, embrulhadinha numa toalha de banho. Acabara de descobrir uma estranha parte do corpo, cheia de pontinhas esquisitas que se moviam. Depois, iria aprender que aquilo eram os pés, um esquerdo e um direito e que serviriam para ela andar, pular, correr…”
Mauricio de Sousa soube aproveitar a própria paternidade para criar todo um universo que, há 65 anos (idade do Bidu), torna mais rico e significativo o imaginário – não só de crianças, mas de todas as pessoas. Das filhas, Mônica e Magali, até a Vó Dita e Chico Bento – respectivamente, avó e tio-avô do cartunista – estes personagens estão aí para nos lembrar o valor imensurável da verdadeira amizade. Que possamos nos inspirar neles!