Por Luciana de Andrade Ferreira Gomes
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Tenho um caso sério com as jabuticabas; ele vem de muitos anos.
Quando criança, na casa dos meus avós, bem de frente a uma das janelas de um dos quartos, tinha um pé. Meu avô, Zé Carlos, escolhia e apanhava as maduras; era uma por uma. Ia para a pia, lavava todas e me chamava para sentarmos num banco branco, de balanço, que ficava na área, bem do lado do pé.
Eu pegava as maiores e ele as menores. No final, quando ia procurar as maiores, já não existia mais nenhuma e ele sempre falava:
_Deixei as melhores por último e agora? Onde elas estão? E lá no finalzinho da frase, soltava um sorriso maroto!!
Hoje, apesar de adorar essa fruta, não sei o que era mais gostoso: o seu gosto ou a bacia cheia delas, na cadeira de balanço na casa dos meus avós, bem no trevinho, perto da Igreja do Perpétuo Socorro.
Alguns anos se passaram e meu pai teve um sítio na Serra da Paulista, depois do “Deus me Livre”. E fui apresentada para a Jabuticaba do Mato, diferente das que eu já conhecia. Eram grandes, doces e a casca até brilhava de tão pretas. Um dia tive a curiosidade de contar quantos caroços tinha em uma só. Olha, não é “conversa de pescador”, mas cheguei a contar 12!!!
Isso para alegria da minha mãe que dizia que tinha que só ficar com o caldinho, e jogar o restante fora; mas isso sempre foi impossível para mim.
Existia um pé que eu subia e conseguia me sentar lá em cima, pois um galho ia para a lateral e era perfeito para me entupir de tanto chupar jabuticaba. Nesse pé, meu pai não deixava ninguém pegar uma fruta sequer, pois a deixava só para mim!!! Lá devia ter uns seis pés, todas do mato e era um cenário perfeito para minha fiel amiga e eu fazermos guerra de jabuticaba!!! Era cada lançamento… Muitas acertavam em cheio o alvo. Kkkk.
Na minha infância, ia para casa da minha bisavó, a vó Zoca, e lá era nas jabuticabeiras que eu, minha irmã e minhas primas brincávamos de casinha. As folhas eram amontoadas e serviam de parede para cada cômodo. As redes colocadas entre elas, eram as camas das bonecas e tinha até uma caixa d’ água, feita de cimento, que era a cozinha. Lá ficavam as panelas, o milho, o feijão, as cenouras, (tudo de verdade) para fazermos as comidas. Só o fogo que não existia. Uma vez fizemos um bolo de barro com milho, decorado com flores de jabuticaba que as galinhas adoraram!!!!
O tempo passou…. As jabuticabas do mato? Outras pessoas e os passarinhos devem estar saboreando agora as pretinhas. A jabuticabeira, na casa da minha vó Mercês foi substituída por concreto e as centenárias, da casa da minha bisavó, ainda continuam me alegrando e eu saboreando as deliciosas pretinhas. Nesse ano, menores, pois foram castigadas pela seca, mas doces como um mel! Afinal na natureza tudo é perfeito!!
Junto com as jabuticabas, tantas lembranças vieram, com meus bisavós, meus avós, meu pai… E penso que na eternidade estão sorrindo como eu, quando vejo o pé pretinho, de tanta jabuticaba!
Posso afirmar, sem sombra de dúvida que tive uma infância plena! Fui uma menina feliz que se transformou numa adulta realizada, cheia de lembranças reais e felizes dos amados que já se foram! Mesmo não estando mais entre nós, são inesquecíveis! Vivem para sempre!