No mundo animal, não existe uma organização cujo interesse pelo poder não seja por força bruta, experiência de vida ou reprodutivo. O mundo político dos animais é definido, mais ou menos, nesses critérios e isso tem a ver com pontos de sobrevivência, soberania e descendentes fortes. Não há moedas de troca que não estejam envolvidas nesses pilares. A vida de um líder ou de uma hierarquia de liderança não é nada tranquila, vazia ou cheia de regalias. Ao contrário: é bem conturbada e cheia de dedicação e estado de alerta. Ser líder, normalmente, traz cicatrizes, ferimentos e constante força mental e física. Não há privilégios para quem quer governar a não ser deixar seu legado genético, experiência de vida aos seus e, algumas vezes, o direito da prioridade no alimento para recarregar a energia gasta.
Transpondo a nossa organização social e política, observo inúmeros candidatos a cargos políticos e penso: Ser um político requer um desprendimento enorme da sua própria vida; uma necessidade de abdicar de seus afazeres para servir o Município, Estado ou País. O político é um servidor. Ele não necessita prometer nada que não seja conduzir bem a máquina para e por nós. No Legislativo ou no Executivo sua responsabilidade em enfrentar problemas, dificuldades, desafios, encrencas e escassez de recursos, será seu mote. O seu dia-a-dia será um sacerdócio para com a comunidade e nunca será suficiente. A possibilidade de vida pessoal e familiar ficará restrita, pois nós brasileiros, vemos o político como um ser notável que pode nos ajudar em tudo de cunho pessoal (até arrumar um emprego!). Mesmo o político fazendo tudo corretamente vão criticá-lo, pois nossos anseios como eleitores são egoístas. Se ainda assim um candidato sentir-se preparado, ele deverá fazer uma constante autoanálise, sentir se é, mesmo, um cidadão responsável, correto, ilibado, moralmente decente, gentil, forte e tolerante. Ser candidato não é para qualquer um! Não basta ser, ou se achar ser, uma pessoa ideal. Componentes de caráter altruísta, livre de ego, aversão às rodas de amizade, aos jantares, às causas que o elevem ou conduzam à notoriedade (bandeiras), isenção de ambições pessoais ou corporativas, devem ser fundamentadas em sua personalidade. Zelar para que seus rendimentos mensais e mordomias não o distanciem da realidade. A possibilidade de regalias e poder do cargo podem, sem que se perceba, distanciá-lo da realidade do povo em geral. A efetividade de um gestor público é bem diferente de esbravejar mudanças e criticar poderes de plantão. O que muda uma sociedade é a humanidade educada e compromissada num propósito coletivo. A política ajuda, mas, por vezes, pode virar ideologias opostas, disfarçadas de democracia, mas ajuntadas no poder. Não precisamos de ideologias! Precisamos de candidatos vazios de mente, com sentimentos nobres, desprendidos e prontos para uma coletividade diversa. Pergunto-me:_ Se não houvesse salário, status e poder, teríamos esse número de candidatos dispostos a trabalhar para a sociedade, como um líder animal?
Plínio Aiub é médico veterinário especializado em animais silvestres