O livro “Palmeiras x Corinthians, 1945: o Jogo Vermelho” (Editora UNESP, 2009), de autoria do ex-ministro do esporte (2011/2015) Aldo Rebelo, retrata o conturbado cenário político da época e seus reflexos no meio esportivo, resgatando a partida entre os rivais que teve como finalidade arrecadar fundos para trabalhadores do país. A obra cita o sanjoanense Leonardo Fernando Lotufo como um dos organizadores do evento, ele que ocupava o cargo de 2º vice-presidente do alviverde.
Filho de imigrantes italianos, Leonardo Lotufo nasceu em São João da Boa Vista no ano de 1868 e faleceu, aos 85 anos, no dia 09 de julho de 1953, estando sepultado no cemitério local. Reconhecido como empresário de sucesso, era proprietário na capital da Neon Brasil Luminosos, sendo aqui em nossa cidade homenageado como nome de rua no bairro Solário da Mantiqueira por determinação do prefeito em exercício de 1981, João Tarifa Lorencini, através do Decreto Nº 405.
Como quase a totalidade dos `oriundi´ residentes no país no início do século 20, Lotufo tinha no sangue a paixão futebolística pelo Palestra Itália. Guindado a vice-presidente no início dos anos 1940, participou ativamente de uma das mais importantes decisões tomadas no clube em todos os tempos, ou seja, alteração do nome por pressão do governo Getúlio Vargas, reflexo da 2ª Guerra Mundial, que colocou o Brasil ao lado dos aliados e contra os países do eixo Alemanha, Japão e Itália. O Palestra, fundado em 26/08/1914 por descendentes, era popular entre o numeroso proletariado de origem italiana de São Paulo, cidade que nos anos 1920 chegou a ter mais habitantes nascidos na Itália que no Brasil.
Por causa da guerra, em 1942, um decreto de Vargas obrigou as agremiações com denominação estrangeira a buscarem alternativas, sob o risco de perderem seus patrimônios. Rezam antigos palestrinos que o São Paulo FC exercia todo tipo de pressão – baseado na decisão governamental – de olho no Parque Antarctica, acirrando uma rivalidade que transcendeu a existente dos italianos com o Corinthians.
Foi então que, no dia 14 de setembro daquele ano, em reunião tensa presidida pelos vices Mário Minervino, Leonardo Fernando Lotufo e capitão Adalberto Mendes (na ausência do presidente Ítalo Adami), decidiu-se alterar o nome para Sociedade Esportiva Palmeiras, após sete meses – de março a setembro – como Palestra de São Paulo.
Lotufo, voz ativa no clube, ainda participaria de outra data de igual importância, seis dias depois. Em 20 de setembro os palmeirenses se viram na situação de enfrentar o São Paulo na decisão do título paulista, no Pacaembu. Com rumores de que a torcida tricolor armara uma estrepitosa vaia como recepção aos rivais, ele e a direção alviverde surpreenderam. Na frente dos jogadores, abrindo caminho, um oficial do exército brasileiro – o capitão Adalberto Mendes, 3º vice – entrou no gramado carregando uma enorme bandeira do Brasil.
O time acabou aplaudido de pé, ganhou o título com vitória por 3 a 1 sobre o Tricolor, dando origem ao slogan: “Palestra morre líder, Palmeiras nasce campeão!”. Leonardo Lotufo também marcou sua passagem pela Sociedade Esportiva Palmeiras por injetar recursos pessoais para a aquisição de jogadores importantes durante toda a década de 1940.
Leivinha Oliveira