“Omelete-se”

Por Lucinda Noronha
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Três ovos batidos delicadamente, com um garfo de sobremesa, em uma vasilha, de preferência, funda e de cerâmica. Aprendi isso com Paolla Carosella, a chef argentina de quem sou muito fã. Ela disse que a boa omelete não pode ser muito batida, que os ovos não podem ter muita liga para que o tal prato se assemelhe ao da gastronomia francesa. Confesso que essas dicas e cuidados me carregam para a culinária, às vezes.

E digo, às vezes, porque geralmente só ocorrem aos finais de semana ou em feriados, pela impressão de que detalhes assim na cozinha demandam tranquilidade e tempo. Às 12h45 de uma quarta-feira eu dificilmente me pego tentando fazer a omelete perfeita. Geralmente nem almoço em casa. Um filho na escola, outro morando fora, marido trabalhando… Como algo na rua mesmo e chego com pacotes de redações para corrigir ou com algo em mente para o preparo de provas e aulas da semana.

Enfim, com as incumbências rotineiras e assalariadas, sempre me pressiono a agir sistematicamente, sem quebras do cotidiano.

E a vida parece seguir o cronograma, ou melhor, será que o cronograma estabelece a vida? Talvez nós nos sucumbimos tanto aos protocolos diários que não nos parece correto qualquer desvio deles.

E a vida pesa. E começo a pensar que pode ser por isso que os finais de tarde e o anoitecer dos domingos surjam como uma pontinha de depressão. É porque a vida pesa!  E nessa reflexão peguei o caminho de volta pra casa no horário de almoço.

Mudança de planos: decidi fazer a delicada receita de omelete e, vejam só a ousadia: com uma taça de vinho e ao som de uma playlist de Bituca no Spotify!

Deliciosa meia hora temperada com um ato de desapego do impiedoso e rígido cronograma! Uma sensação “gourmetizada” de rotina rompida fez com que uma pequena parte de meu dia perdesse não somente o peso do momento, mas de uma vida.

A partir de agora, toda vez que sentir as amarras do fim de tarde de domingo, hei de permitir-me pensar: se pesar, posso ainda fazer minha omelete com sintomas de solitude! No mais, longe de mim garantir alguma frase motivacional, mas deixo a dica e o neologismo: quando a vida pesar, “omeletem-se”!

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