Acasalamento Natural

O galanteio e os odores naturais são peças chaves no enlace “amoroso” dos animais. Coreografias complexas misturadas com uma diversidade de cores e apêndices de todas as formas fazem parte da maioria das aves asiáticas, bem como, os cantos mirabolantes das aves dos trópicos. Depois de depositado num tronco de árvore, a urina e secreções de uma onça pintada fêmea no cio, pode fazer o macho da região andar mais de 80 quilômetros para encontrar sua possível namorada. Sem contar aquela orquestra de anfíbios coaxando numa várzea inundada após uma chuva de primavera. Já os que passam despercebidos, mas não menos vigorosos na intenção de perpetuar sua espécie, as serpentes fazem seus bolos de machos em fêmeas férteis. Enfim, toda natureza depende de seu “enlace” de gametas para perpetuar suas espécies e melhorar como tal, “preocupações” da biologia da conservação, a perpetuação da biodiversidade e a manutenção do fluxo gênico mantém a vida no planeta.

Os mecanismos que a natureza usa para fecundação estão compostos na teia da vida e têm como base os elementos do planeta; ar, fogo, água e terra são o palco das múltiplas formas de fazer o “namoro” acontecer. Mecanismos como zoocoria, o mutualismo, o vento, as correntes marítimas, o sol e a chuva incrementam as possibilidades de conjunção dos fatores reprodutivos. Tudo é uma questão de equilíbrio e percepção por parte da fauna e flora para participar do milagre da vida.

Transpondo nossa realidade, ficamos feios perto de toda beleza da natureza. O homem é tão dependente do artificial que até um dia pra namorar foi marcado no calendário. Substituímos nossas capacidades naturais de galanteio que, Desmond Morris descreve bem em sua obra “O Macaco nu”, por contas bancárias recheadas, carros de luxo, viagens luxuriantes, motéis cafonas, bebidas para desinibir, roupas de marca e todo o artifício possível para chegar ao acasalamento. O homem chegou ao ponto de escolher por casta sua parceira. Jogou fora toda sua natureza para comprar um dote. São poucos enlaces que ainda guardam a natureza animal. Por mais prazer do que amor, ou preocupação com melhoramento da espécie humana, o homem é viril e promíscuo em busca, num ato natural, o seu deleite egocêntrico. Não que não haja casais bonitos em nossa espécie. Existe sim! E são muitos, que transformam com muita privação o ato de copular por uma crença familiar de monogamia e constituição de uma família.

A reflexão é que, de um ato natural de perpetuação e melhoria da espécie na natureza, passamos para um mundo erótico, sensual e malicioso dirigido, às vezes, pelo poder do dinheiro. Enfeiamos nossa raça e espalhamos a inversão do sentido da vida. Precisamos de mais amor no mundo, um amor verdadeiro, um namoro natural, uma vida distante da luxúria aclamada por tantos.

Hoje, na hora de comprar um vinho, uma lingerie, escolher um restaurante ou mesmo comprar um presente, pense no homem ou mulher que você pode ser para a natureza e a melhoria da sua epécie para um planeta melhor. Não pense no gozo da vida; pense na vida do planeta! A lógica, “não quero filhos para por nesse mundo ruim”, seria na verdade, que prole é essa que estamos deixando para o planeta?

Plínio Aiub

é médico veterinário especializado em animais silvestres

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