Orquestra Jazz Sinfônica pela primeira vez de fora do Natal de São João

Por Marcelo Gregório
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A ausência da Orquestra Jazz Sinfônica de São João da Boa Vista da programação de Natal, pela primeira vez, em 13 anos de história, supostamente seria uma demonstração de desinteresse por parte da Prefeitura em apoiar a associação musical na cidade. O ‘jejum’ de apresentações — já são 11 meses de orquestra parada — reforçaria a preocupante ‘tese’.

No Theatro: Orquestra Jazz Sinfônica sempre foi ovacionada nas apresentações no espaço (Divulgação/Arquivo Pessoal)

Na cidade, circula, principalmente entre fãs, admiradores, apreciadores, familiares e os próprios músicos, o receio de quê a orquestra encerre as atividades por falta de incentivo tanto do Poder Público quanto da iniciativa privada. No cronograma de artistas da 46ª edição da Semana Guiomar Novaes, realizada em setembro, a orquestra também passou em branco.

Diante da repercussão entre os amantes da música, na terça-feira (7), questionamentos foram enviados pelo O MUNICIPIO ao Executivo para saber os motivos pelos quais a associação musical ficou de fora da programação natalina da cidade e por qual razão a orquestra estaria inativa há quase um ano. A única resposta obtida foi que averiguações seriam feitas junto ao Departamento Municipal de Cultura, no entanto, até o fechamento desta edição não houve respostas.

ESQUECIMENTO

Em busca de detalhes sobre o que estaria ocorrendo, de fato, o maestro Agenor Ribeiro Netto foi procurado. O renomado profissional, que está à frente do trabalho desde o início da formação, em 2010, mostrou-se chateado, com o possível ‘esquecimento’ da orquestra. Perceptivelmente cabisbaixo, o experiente músico optou por não entrar no assunto publicamente. Mesmo com voz abatida, ele, momentaneamente, se animou ao recordar das apresentações memoráveis executadas pela orquestra. “Uma [foi] em Araras onde tocamos no aniversário de um jornal da cidade com um público enorme. Duas semanas depois, o [maestro] João Carlos Martins esteve no mesmo local. Segundo o secretário de Cultura, o nosso público no dia era em torno de 6 a 7.000 pessoas. Esse público não arredou pé até o final e ainda dançou com a gente. No evento do João Carlos Martins, o público [foi] mais ou menos o mesmo, só que acabou esvaziado com menos da metade da plateia que estava no começo de sua apresentação. O prefeito resolveu fazer uma pesquisa popular perguntando qual a atração que eles queriam no aniversário da cidade e, com 87%, o pedido foi a Jazz (à frente de artistas populares). Voltamos [e], segundo a PM, [foram] 15 mil pessoas”, relatou Ribeiro Netto, enaltecendo o respeito da orquestra fora da cidade.

CUSTOS DE MANUTENÇÃO

Fundada em 2010, a Jazz Sinfônica de São João reúne 70 músicos (cordas, sopro, percussão), além do maestro-titular, maestro-adjunto, carregadores, secretária e um contador. De acordo com Agenor Ribeiro Netto, durante todo esse tempo, o variado repertório (erudito e popular) foi ouvido por cerca de 400 mil expectadores distribuídos em 40 cidades de São Paulo e Minas Gerais. A reportagem apurou que a manutenção da orquestra giraria em torno de R$ 48 mil mensais e quase R$ 600 mil por ano. Para o maestro, esses valores poderiam ser inseridos nas leis de incentivo à Cultura, com apoio da Prefeitura.

RESISTÊNCIA A PROJETO

Outra demonstração de que a orquestra não faria mais sentido para o Executivo sanjoanense foi reforçada com o veto da prefeita Maria Teresinha de Jesus Pedroza (PL) ao Projeto de Lei, de autoria do vereador José Cláudio Ferreira (Claudinho — MDB), para declarar a associação musical de utilidade pública. “Foi aprovado por unanimidade na Câmara [e depois] foi para a prefeita. A prefeita vetou o projeto [e] voltando para a Câmara nós conseguimos quebrar o veto dela. Foi um dos poucos projetos que até a base dela votou com a gente, um projeto da oposição. Uma vez que quebrou o veto, ela deveria tomar as providências necessárias e, no mínimo, deveria ter trabalhado para ajudar a orquestra”, explicou o vereador Claudinho.

Mesmo com resistência da chefe do Executivo, a Lei Municipal 5.195/2023, que declarou a Jazz Sinfônica de utilidade pública, entrou em vigor no dia 10 de outubro. A aprovação habilitou a orquestra a receber subvenções e auxílios do Estado, entretanto, os músicos ainda continuam sem se apresentar. “Estou com 73 anos. Eu gostaria de morrer no palco regendo a orquestra. Se não houver uma providência urgente, ela pode acabar”, temeu Ribeiro Netto.

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