Quatro técnicas de enfermagem demitidas denunciam perseguição

Por Marcelo Gregório

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As quatro técnicas de enfermagem da rede pública municipal de São João da Boa Vista demitidas na segunda-feira (9) disseram que houve perseguição devido ao envolvimento delas em um grupo de WhatsApp criado para discutir formas de reivindicar da Prefeitura o pagamento do Piso Nacional da Enfermagem.

Em princípio formado apenas por profissionais da saúde, o grupo pretendia sugerir entre eles quais ‘caminhos’ deveriam ser tomados para que o Executivo municipal liberasse o dinheiro retido desde agosto. Porém, uma conduta supostamente agressiva de alguns integrantes, percebida por ‘espiões’ inseridos no grupo, teria contribuído para a punição das mulheres. Elas eram contratadas do Instituto Dra. Rita Lobato (IDRL) e trabalhavam nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) dos bairros Jardim Azaleias, Santo André e Durval Nicolau. “Eu sei muito bem porque estou sendo demitida. Por que chamaram as duas [profissionais] do Azaleias? Porque foram as que criaram o grupo e me adicionaram, e nós passamos para os próximos [funcionários]. Quem mais xingou e botou a boca no trombone não foram chamados. Eu achei uma baita injustiça. Infelizmente, alguns puxa-sacos colocaram a prefeita e secretários para espionar. Acabamos sendo demitidas. Estranho, né? Deus vai pôr as mãos e mostrar o caminho correto”, desabafou a técnica de enfermagem Nádia Gimenes.

Azaleias: duas profissionais de enfermagem foram desligadas apenas dessa unidade (Marcelo Gregório/O MUNICIPIO)

SEM INTERFERÊNCIA

Mesmo a Organização Social (OS) estando sob intervenção da Prefeitura por suspeita de graves irregularidades administrativas, ela teve o aval para o corte das profissionais. Poucas horas depois das demissões, a prefeita Maria Teresinha de Jesus Pedroza (PL) esteve na sessão da Câmara Municipal e presenciou a manifestação exigindo o pagamento do piso. Em reunião a portas fechadas apenas com os vereadores da base governista e membros de uma comissão da saúde, a chefe do Executivo disse claramente que nada poderia fazer acerca dos desligamentos. A reportagem do O MUNICIPIO teve acesso ao áudio da prefeita. “Eu não vou interferir por ninguém que foi demitido. Sabe por que? É problema da empresa. É o ônus que vocês vão pagar por não terem vindo procurar a gente”, enfatizou Teresinha.

Sem chance de reversão do quadro, as mulheres demitidas afirmaram que a intenção do grupo era somente buscar informações. “Porque na empresa Rita Lobato ninguém falava o dia [do pagamento]. Só falaram que seria em novembro, mas por que em novembro? Então, eu e as outras colegas demos a cara à tapa e montamos esse grupo, mas não sabíamos que iria dar essa proporção”, disse a técnica de enfermagem Vânia Aparecida Lousado de Paula.

Inconformada por ter sido mandada embora após seis anos de trabalho, a técnica Andrea Fadini Apolinário não escondeu a revolta por agora estar fora do mercado. “No dia [do desligamento], o gerente do Rita Lobato [teria andado] pesquisando em alguns postos [de saúde] quem tinha montado o grupo. Foi um meio de coagir as pessoas a desistirem de estar comparecendo na Câmara, a desistirem da greve. Tanto que depois das quatro horas [quando houve a demissão], o pessoal todo começou a sair fora do grupo”, lamentou Apolinário.

No Legislativo, a prefeita garantiu aos mais de 600 enfermeiros, técnicos e auxiliares que o pagamento do piso da enfermagem seria feito no máximo até segunda-feira (16). Mas os vencimentos caíram na conta dos servidores da categoria ainda na sexta-feira (13).

Em vídeo postado nesta segunda (16), Teresinha voltou a falar sobre o pagamento do piso da enfermagem. “Apenas estávamos fazendo a parte burocrática, que demora um pouco, e [em] nem um momento a prefeitura se negou a fazer esse repasse. Conseguimos fazer o repasse na quarta-feira (11) para a OS [Organização Social Instituto Dra. Rita Lobato], para a Santa Casa também foi feito, para o Samu, e o pagamento foi feito na sexta-feira. Apenas em torno de 12 funcionários que não receberam por conta de inconsistência de valores repassados pelo Ministério [da Saúde], mas já está sendo resolvido hoje”, afirmou.

POSSIBILIDADE DE GREVE

Antes, no dia seguinte ao anúncio que o piso seria pago, o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Campinas e Região havia comunicado Teresinha que, durante a assembleia realizada com profissionais do Rita Lobato, Santa Casa de Misericórdia ‘Dona Carolina Malheiros’, Consórcio de Desenvolvimento da Região de São João (Conderg) — Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e Instituto de Doenças Renais (IDR), a classe poderia entrar em greve a partir das 6h desta terça-feira (17), se o dinheiro não fosse depositado. “Estamos comunicando sobre a possível paralisação dos trabalhadores”.

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