Por Marcelo Gregório
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As altas temperaturas previstas para os próximos meses na região Sudeste, em razão do fenômeno El Niño, ligaram o sinal de alerta em São João da Boa Vista porque a cidade tem registrado, nesta época do ano, incêndios em extensas áreas verdes com graves consequências para a economia, agricultura e saúde da população.
A iminência de novos casos motivou a reportagem do O MUNICIPIO a procurar especialistas nas áreas de meteorologia, biologia, pneumologia e agronomia, com a finalidade de obter opiniões relevantes e orientações acerca do assunto.




O FENÔMENO
Segundo o Instituto de Meteorologia (Inmet), as ondas de calor previstas têm a ver com a atuação do El Niño. Trata-se do aquecimento acima da média das águas do Oceano Pacífico na região da linha do Equador que altera a circulação de ventos e a distribuição de chuvas em todo o planeta. “O principal impacto é o aumento de chuvas no Sul do País. Já nas regiões Norte e Nordeste há uma diminuição nos meses de outono e verão, enquanto que no Sudeste e Centro-Oeste não existem evidências de efeitos no padrão característico das chuvas”, afirmou Maytê Coutinho, meteorologista do Inmet e doutora em Ciências Climáticas.
A elevação da temperatura média do ar nas últimas décadas intensificou os fenômenos meteorológicos e climáticos, conforme avaliou a consultora em clima. “Temporais intensos e secas recorrentes são exemplos. Uma das consequências sentidas no Brasil, recentemente, foram os eventos de onda de calor em pleno inverno”, apontou Coutinho.
QUEIMADAS NA REGIÃO
Conforme já publicado pelo O MUNICIPIO, áreas verdes distribuídas em São João e Águas da Prata, como a Serra da Paulista e o Parque Estadual da cidade vizinha, foram bastante danificadas em anos anteriores por causa das queimadas. Embora as temperaturas aumentem, o biólogo Igor Benevides, secretário de Meio Ambiente em Águas da Prata, assegurou que existem ferramentas capazes de reduzir tragédias ambientais. “Como a elaboração de aceiros por parte dos proprietários rurais. Essas faixas [de terra limpa e sem vegetação] nos entornos das matas e propriedades minimizam o alastramento do fogo”, citou Benevides.
A educação ambiental é outro instrumento essencial nas ações preventivas para que tragédias históricas não voltem a acontecer. “Nossa região é rica em recursos naturais, principalmente estando aos pés da Serra da Mantiqueira, assim havendo bastante vegetação, recursos hídricos e ventos abundantes, fatores ambientalmente importantes e que podem ser prejudicados com prejuízos incalculáveis”, avisou o coordenador da Brigada de Incêndio pratense.
SAÚDE AFETADA
Nos municípios paulistas, o Inmet adiantou que a temperatura do ar deverá continuar acima da média histórica em setembro, outubro e novembro. Na área da saúde, as ondas de calor e o clima seco contribuem para o agravamento de várias doenças, entre elas, as respiratórias. “O tempo seco facilita a dispersão de poluentes no ar e também dos agentes causadores de alergias, como poeira, pólen e pelos de animais, contribuindo para um aumento das crises de rinite e asma nos pacientes alérgicos. A baixa umidade do ar também deixa a mucosa das vias aéreas sensíveis e por isso mais suscetível a infecções por vírus e bactérias, sendo comuns as gripes e os resfriados nessa época e até mesmo casos de Covid-19, que voltaram a subir nos últimos dias. A melhor saída é sempre se manter hidratado”, afirmou Graciely Guimarães, médica pneumologista, que atua em São João.
PREJUÍZOS NA AGRICULTURA
Na agricultura, os dias muito quentes podem acarretar prejuízos consideráveis aos produtores, segundo o engenheiro agrônomo Thiago R. Bovo. Por isso, existe a preocupação com as ondas de calor em terras sanjoanenses. “Altas temperaturas diminuem a umidade do solo e aumentam a evapotranspiração vegetal, ou seja, menos água disponível e perda acentuada. Como consequência, menor produção e, em casos mais extremos, perda total da plantação. Outra consequência é o risco elevado de incêndios, por conta da vegetação mais seca. Pensando em produção animal, temos influência negativa no crescimento, aumento de custo para obter trato, e com nascentes e cursos d’água mais limitados, os animais também podem enfrentar dificuldades para ter acesso à água”, ressaltou Bovo, também especialista em regularização fundiária e ambiental.