Uma mistura de pensamentos toma conta da minha meia vida, e nem tudo é culpa da idade ou das limitações. Ao mesmo tempo que comemoro quase três décadas de profissão passando por sensações que não me desconectam do passado de estudante e que ainda é presente, recentemente, conclui mais uma etapa de estudo onde precisei defender uma tese de conclusão de curso, o famoso TCC…Senti o mesmo nervosismo de um aluno jovem no seu primeiro desafio frente a uma banca examinadora… nada fácil!!! Por outro lado, vejo tramitar em votação, lei para extinguir a necessidade do diploma de médico veterinário. Um absurdo!!!
Criada no decreto Nº 23.133 de 09 de setembro de 1933 pelo então Presidente da República Getúlio Vargas, comemoramos o dia do veterinário que, para mim, é como um segundo aniversário.
Estudamos muito para esta profissão e acho difícil compara-la as demais profissões biológicas. Creio que nenhuma outra profissão tenha uma entrega tão grande interespécie como a medicina veterinária. Cuidamos de tantas coisas que, hoje mesmo, você já deve ter usado ou consumido algo de origem animal que passou pelas mãos desse profissional, seja no couro do sapato, no cabo do pente, na muçarela do lanche ou mesmo no bife do prato.
No ambiente acadêmico em que vivo observo muito empenho das universidades em se adequar aos modos novos de ensino, as diferentes e crescentes linguagens dos jovens, as tecnologias de inovação ao estudo, a forma de estudar, de entender e de se comunicar… tudo isso tem mudado muito a edificação cultural do mundo; cultural no sentido educacional, mas também de cultural artístico, “veja os aplicativos, os podcasts, os youtubers, as novas maneiras de atender!!!”
Ao mesmo passo, os jovens, os nem tão jovens e os de meia idade que estão com sangue ativo nas veias e não querem parar de estudar, se desdobram para acompanhar a velocidade que o cérebro tem que adquirir para captar informações. Mudanças que merecem respeito e admiração nesse mundo veterinário que tem sangue, tem pus, tem conta, tem cirurgia, comportamento, envolvimento e amor.
Sou grato a tudo que o estudo da medicina veterinária me dá e dá ao mundo na forma do cuidado com a proteína animal, no cuidado da vigilância sanitária, no controle de zoonoses, na epidemiologia, na clínica dos animais de companhia, na ecologia, ao meio ambiente, na medicina veterinária esportiva e em tantos outros ramos que é só doação, compaixão e disciplina para que nossa relação com os animais seja, justa, harmônica e sem ganância.
Vivemos a era da inclusão, muitos tem acesso aos estudos, seja presencial, híbrido ou on-line, hoje, querer estudar é possibilidade, não é dificuldade. Pecamos muito ainda no ensino de base em rincões distantes, mas não podemos negar que, uma força de vontade, um sonho e com fé podemos chegar onde quisermos, com educação, estudo e ideação.
Mas, não se engane! Ao pegar o canudo, lá dentro tem apenas um papel escrito certificado, certificando que você se tornou um profissional, mas a sua jornada até sê-lo será julgada pela sua conduta e caráter ético. Não se forma pra si próprio, se estuda para doar algo em troca para o mundo, e no nosso caso, para os animais que muito precisam da nossa sapiência em enxergar que são nossos irmãos de reino.
Plínio Aiub é médico veterinário especialista em animais silvestres