Família de servidor morto contesta condições de trabalho

Por Marcelo Gregório
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As condições as quais trabalhava o servidor público Lucimar Leme, 48, morto no sábado (5) vítima de ataques de cães da raça fila no canil da Prefeitura de São João da Boa Vista, seriam “complicadas”, conforme relatou à reportagem do O MUNICIPIO a viúva dele.

Josiane Cristina de Oliveira Meneghine, que também é servidora pública municipal, atua no mesmo local onde o marido perdeu a vida. “Nós íamos trabalhar juntos e no final do dia retornávamos”, recordou.

Lucimar Leme: pai de uma filha, adorava animais, de acordo com a família (Reprodução/Redes Sociais)

Leme tinha 17 anos de Prefeitura e ultimamente exercia a função de auxiliar de serviços gerais no recém-criado Departamento Municipal de Bem-Estar Animal, enquanto que a mulher pertence ao quadro efetivo da Vigilância Ambiental, ambas repartições situadas no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) do Jardim Vila Rica. “As condições de trabalho lá eram complicadas. A culpa não é dele. Ele era muito confiante no manejo. Eu ouvi falar que ele entrou [na baia] sem necessidade e isso não é realidade”, disse a mulher.

Questionado pela reportagem, o diretor responsável pela pasta, Willian Silva, garantiu que o canil não oferece riscos durante as atividades diárias exercidas pelos servidores.  “O manejo dos animais é completamente seguro. Tanto é que a perícia esteve segunda-feira (7) para averiguar o local”, assegurou Silva.

PRECISA DE MELHORIAS

Sobre possíveis melhorias no canil, o diretor não contrariou e explicou que aguarda o envio de recurso por meio de emenda parlamentar, sem especificar a quantia. “Certamente irá contribuir muito para o aprimoramento de nossos atendimentos. É importante deixar claro que muito antes deste triste fato ocorrer, já vínhamos estudando melhorias, tanto nas baias, como também [nas] salas para atender os animais que estiverem adoecidos”, afirmou.

SITUAÇÃO ANORMAL

As investigações apontam que Leme foi encontrado na baia 10, que estava devidamente trancada, por dentro, com os quatro cachorros, fugindo da normalidade. Ao O MUNICIPIO, o diretor explicou: “para fazer a limpeza da baia ou mesmo colocar alimentos, o servidor não tem contato algum com os cães”, assegurou Silva.

No entanto, a mulher da vítima contrariou a informação de que o canil teria um compartimento exclusivo para o tratamento dos cães. “No boletim de ocorrência fala que fica uma cela vazia, e na verdade não fica nenhuma cela vazia”, negou a servidora.

PLANTÕES

Meneghine deixou claro que, ultimamente, o servidor comparecia ao canil aos fins de semana para o desempenho de atividades. “Todos os sábados, ele estava indo ajudar os outros [servidores] que estavam lá fazendo o plantão. E nesse, como era o dia dele, não foi ninguém para dar um apoio, suporte extra. Eu também costumava ir junto, [mas] aí esse dia eu tinha marcado para fazer outras coisas, e não fiquei junto com ele. Então, ele ficou sozinho. Ele estava ‘so-zi-nho’ lá dentro”, manifestou a viúva.

O diretor reforçou que o trabalho ocorre há três décadas. “Cada final de semana é um servidor que vem trabalhar, pois é feita uma escala de plantão. Este procedimento ocorre há tempos, desde a época em que existia o canil na avenida Durval Nicolau, ou seja, já faz quase 30 anos que essa rotina de trabalho existe”, pontuou.

ORIGEM DOS ANIMAIS

Os quatro cães da raça fila que atacaram o homem chegaram ao CCZ, junto com outros oito animais da mesma raça, após denúncia de maus-tratos. O resgate dos bichos ocorreu, em 21 de julho, durante operação policial no Jardim Santa Clara. “O que acontece é que ele pegou um dos cachorros, deixou para fora e por algum motivo ele entrou na cela que estavam esses quatro [fila]. E que são filhotes de pouco mais de um ano. Não estavam em idade adulta ainda. Os que são adultos mesmo, nesse dia ele não chegou a tratar”, explicou Meneghine.

OS ATAQUES

Ainda não se sabe ao certo o momento em que houve os ataques. “Notei que ele não chegou em casa [previsão era 12h], falou que iria pagar umas contas depois [do trabalho]. Fui lá para ver se alguma coisa poderia ter acontecido. Eu vi o carro [dele], mas não consegui entrar por causa do cachorro que estava solto do lado de fora. Aí, fui localizando o telefone do Wilian diretor e de um outro tratador. Na hora que eu vi, ele estava caído lá, eu até achei que ele estava vivo ainda, mas já não estava mais. O Samu [Serviço de Atendimento Médico de Urgência] chegou e confirmou o óbito”, descreveu.

PAIXÃO POR ANIMAIS

Morador no Jardim Industrial, Leme era pai de uma filha e adorava animais segundo a família. “Ele era alegria em pessoa. Muito dedicado [e] queria [fazer] um curso de adestrador para cuidar dos cachorros”, revelou a prima Elisabete Leme. O servidor público foi enterrado no dia seguinte, no domingo (6), no Cemitério Municipal São João Batista.

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1 COMENTÁRIO

  1. Muito triste!!!!! Lucimar muito querido pelos amigos e colegas na Prefeitura Municipal. Lu morreu no estrito cumprimento do dever!!!!! Vai deixar muitas saudades!!!!! A esposa e também colega de Prefeitura Josiane, a filha Larissa, aos familiares, amigos e seus colegas da Zoonose os nossos sinceros e profundos sentimentos.
    Antonio Carlos Amorim Godoy – Peco
    Ex. Presidente do Sindicato dos Servidores Municipais

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