Em um cenário dominado pela desigualdade, individualidade, conflitos generalizados ao redor do mundo, pobreza e outras mazelas, apresento-lhes agora o que, na minha visão, trouxe-nos até esse modelo falido de organização mundial. E não tenho dúvidas: o principal fator de degradação da humanidade está intimamente relacionado com a maneira com a qual governos, empresas e a sociedade vêm atuando quando, soberbamente, optaram por transformar os seres humanos em mero meio de produção e não um fim em si mesmo.
O dinheiro virou um bem, produto, algo a ser produzido independente de gerar benefícios para a sociedade. Vou até um pouquinho mais longe. Independente de gerarmos dinheiro pelo dinheiro, o próprio acréscimo do PIB também já não reflete, há tempos, aumento na qualidade de vida. O que nos sugere buscar urgentemente novos mecanismos mais eficazes para medir o desenvolvimento humano.
Mas, de volta ao nosso tema central, pergunte-lhes: por que, se dinheiro não tem vontade própria, chegamos a essa situação, fora de qualquer propósito, surreal, de degradação humana e ambiental? A resposta é simples. Em decorrência do maior problema que temos atravessado nas últimas décadas: a falta de líderes. Pela falência no processo de preparação de novas lideranças, capazes de juntar pessoas em torno de objetivos comuns, de colocar os seres humanos em primeiro lugar.
Líderes que valorizem o ser humano, não o poder, e tenham a destreza de propor e negociar novas formas viáveis de existência humana, catalisando os diferentes anseios das pessoas e endereçando-os com suas devidas especificidades. E que, ao respeitarem a diversidade humana, tenham a capacidade de extrair o melhor de cada um.
Um verdadeiro governante, um verdadeiro líder acorda, todos os dias, perguntando-se: estou fazendo tudo o que eu posso para melhorar a vida das pessoas? Minhas ações estão preservando o planeta? Estou tornando a população dependente de esmolas ou agindo para torná-la autossustentável? O que eu preciso aprimorar, em mim, para que possa melhorar a vida do meu semelhante?
No mínimo, necessitamos de lideranças que mantenham a integridade, o discurso e a prática coerentes, capazes de ouvir, de serem humildes, de reconhecerem seus próprios erros e corrigirem os caminhos, quando necessário.
A verdade, nesse caso, é uma só: se deixarmos tudo como está, se seguirmos com esse modelo existencial, centrado no dinheiro, precisaremos dedicar um esforço infinitamente maior, do que hoje precisamos, para formar líderes que ajudem a transicionar o atual modelo de sobrevivência para um modelo digno de existência. Líderes: sem eles, continuaremos sem esperança. Com eles, criaremos um novo mundo.
Henrique Medeiros é especialista em gestão, psicanalista e autor do livro