Paz Natural

A paz do mundo sempre é renovada no calendário humano, quando viramos o ano. Comemos romã para dar sorte; pulamos 7 ondinhas no mar; oramos e vestimos branco. Sim! Sempre temos nossas artimanhas para sair tudo certo. Chegamos a ser até caridosos! Nosso senso filantrópico fica mais manifestado… levamos prato de comida retirados de uma fração da nossa ceia farta para levar às famílias pobres; juntamos presentinhos, brinquedinhos baratos para dar às crianças carentes.

Fazemos também promessas para ficarmos bem conosco mesmos: começarmos um regime, fazer exercícios físicos; pretendemos parar de fumar, de beber…Enfim, todo tipo de autoafirmação para nos sentirmos melhores e entrarmos o ano novo mais leves, generosos e confiantes, tudo dentro do nosso micromundo egoísta apartado da vida natural.

Sentimo-nos bem ao dar algo a quem precisa, (parece um ato de caridade que alivia nosso peso na consciência na vida em sociedade); nos faz parecer, de fato, bons, bons ao ponto de ignorar toda pobreza, todo lixo, toda desigualdade evidente no mundo e que, raramente, é sentida por nós de verdade, como espécie e gênero idênticos; (parece que a pobreza é um apêndice da espécie humana que decidimos ajudar pela paz do mundo, vez ou outra).

Andar e trabalhar nas principais favelas da região metropolitana de SP, ver a pobreza de perto ao ponto de sentir que nem todo assistencialismo do mundo chegará, de fato, ali, a quem mais precisa, são fatos que me conectaram ainda mais com o mundo animal que vive ou não vive dentro de nós.

A renovação do ano é apenas mais uma esperança do que uma realidade, se quisermos falar dela, em relação à natureza. Pregar a paz vem de uma ‘leitura’ diferente para o mundo! Vem de uma forma de viver menos acelerada e mais autêntica na essência animal e não a festança na virada do ano religioso e econômico em que vivemos, prometendo, doando, mas não chegando próximo à renovação da espécie humana de fato.

Nossa virada de ciclo correta seria na primavera, onde tudo se renova: a fauna, a flora, os recursos hídricos, a vida em si, essa mesma vida dos animais e das plantas que é nossa também.

A filantropia é um ato moral contendo altruísmo na sua essência; o mesmo ato que vemos, segundo o pesquisador Holandês Frans de Waal, em diversos animais, nos retirando do posto único a ter moral, uma descoberta enorme de que somos mais uma espécie na natureza.

Apesar de ser uma distorção da verdade, ao vermos jogadores caros, cantores milionários ou astros da tecnologia fazendo doações, achamos bonito, mesmo sabendo que realmente cortar da própria carne e dividir o pão seja, sim, um ato verdadeiro em si.

Estarmos dispostos a pregar a paz é aceitar nossa essência animal e ter apenas por existência e continuidade; não por acúmulos que levam à soberba e ao esbanjamento. Ter, sim, reservas plausíveis como a dos animais para o inverno; ter, sim, a vontade de vencer na vida, mas não explorando nossos iguais; ter, sim, compaixão baseada na verdade moral e não para os holofotes! Saber, sim, que homem e animal estão todos juntos querendo um espaço! Só não devemos achar que nosso espaço é mais importante do que o dos demais animais…Estar em paz e usar, sim, os recursos naturais que Deus nos deu de forma leve, sem extrair mais, para acumular mais.

Aí, sim, o ano se renovará na paz, na harmonia, na verdade, no bem querer. E a pobreza, as dificuldades, as carências vão se diluindo como consequência. Caso veja meu irmão com condições de ser, de viver bem, minha felicidade nasce na esperança de uma humanidade melhor.

O assistencialismo do populismo e ‘caridade de resto de caviar’ só nos faz ter mais descrença! Mais do que esperança, ver o mundo de forma natural, e não somente econômica, é o caminho da paz e da verdade!

Plínio Aiub é médico veterinário especialista em animais silvestres

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