Agronegócio e Música

A música sempre nos acompanhou, inclusive aquelas que provém da natureza: a música dos ventos, do balançar das árvores, o assobio fino cortando os prédios, os pássaros e toda a melodia que soa dos instrumentos de Deus no planeta.

Os sons que saem dos instrumentos tocados por nós, geram a música que sempre esteve ligada à nossa alma, a que eleva o estado de espírito, sacode os ossos e relaxa os músculos. Além deste estado de sonoridade e movimento variável que a música nos traz, ela ainda nos remete muito às épocas que vivemos e também representa os segmentos da sociedade. Assim como o rap nasceu do gueto, o pop no dance, o clássico no erudito e, o rock, que nunca envelhece.

Mas, nada representa tão bem nosso país como a música caipira e, essa sim, mudou muito desde sua raiz na década de 1920, apresentando tão lindamente o cenário do meio rural na letra de “Tristeza do Jeca”, de Angelino de Oliveira.

Desde então, na década de 1930 com Raul Torres e Florêncio compondo “hinos” regravados por muitos: “Cabocla Tereza” e “Chico Mulato”, que projetaram duplas como Tonico e Tinoco, alavancando o gênero da música caipira para música sertaneja e abrindo a mente e os corações do setor produtivo do agronegócio que ali se alicerçava de vez.

Antes, as dificuldades de morar na roça eram ecoadas na música caipira com muita ternura. Depois, o setor rural foi se ampliando e se tecnificando, acompanhado das letras, das toadas e da musicalidade do gênero sertanejo.

O Agro da década de 1950 a 1990 deu um salto imenso. A vida caipira foi embora do campo e os componentes da sociedade rural foram ganhando novos tons, novas realidades, novos atores, novas famílias. Milionário e José Rico entoavam com suas ‘gargantas de ouro’ aquilo que já representava a pujança em algumas músicas que enalteciam nosso Centro Oeste, berço dos grãos e da pecuária. A música sertaneja também agia como o setor de logística do agro, expandindo sua produção na triste melodia de “Sonho de um caminhoneiro”, deixando quase que de vez o “Vai e vem do carreiro” de José Fortuna e Carlos Cesar.

Desde então, as mudanças do gênero sertanejo vêm fazendo a narrativa dessa evolução… Foi quando ‘o fio de cabelo apareceu no paletó’ e mostrou que não era mais somente o jeans que vestia o sertanejo. O ambiente de leilões, de exposições, de negócios para importação e exportação de produtos do Agro ganhara de vez uma posição longe da vida difícil do campo. A esperteza do mundo dos negócios proporcionou cenários mais complexos nas relações humanas. As paixões, as traições, as disputas do café com o gado, com a soja e outras ‘comodities’ tomaram lugar do refrão da canção: Recordação: “Adeus, lagoa, poço verde de esperança… Meu tempinho de criança que não volta nunca mais” tão bem cantada por Sérgio Reis. Depois que o Agro veio à tona de forma mais comercial, nasceu o engajamento dos jovens para ciências agrárias, biológicas e veterinárias.

Momento este em que, o sertanejo universitário, cheio de shows para abastecer o mercado das produtoras, passa a trazer o cotidiano dos meninos da pecuária que ‘NÃO PARA, NÃO PARA…’ de Léo Targino e Rapha Soares, montados em seus tratores automáticos nos campos de cultura, onde não se vê mais um só caboclo à moda antiga.

Bora! Que estamos no começo do plano safra… “sorta o som, DJ!”

Plínio Aiub é médico veterinário especialista em animais silvestres

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