Amor de vó

CLINEIDA JUNQUEIRA JACOMINI
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“Dormir, acordar, dormir, acordar, vida miserável”. Franz Kafka

Aos donos de escolas; todos!

Outro dia numa conversa de avós amorosas, o comentário geral era de como sofrem os netos de hoje! Muita cobrança, provas, deveres mil, madrugar para ir à escola, regras, ordens… Os pais, é certo, querem o bem e futuro promissor para os filhos; já nós, avós, queremos a felicidade deles! Daí passo à relatividade de tudo nessa nossa vidinha tão insignificante. Vamos supor que uma aluna brilhante, que tira a nota máxima em todas as provas; acorda antes das 6h da manhã, eternamente com aquele sono de adolescente; tem três provas dificílimas num só dia; tem prova de livro; faz aqueles testes tipo Eureka que comprovam se o aluno vai bem ou não etc. etc. dos bem hodiernos (e odientos, completo!) Aí ela entra em 5º lugar na melhor escola de Medicina do Estado. Rala muito mais e sempre por 5 anos; passa na prova de residência; fica mais 3 ou 4 anos estudando o tempo todo e depois se forma com todos os laureis, beca, confetes e capelos jogados pra cima e o que vai fazer? Trabalhar, trabalhar, ralar, ralar, até se aposentar! E eu pergunto para meus leitores: isso é vida? É premiação? Onde ficam as tardes modorrentas como dizia a Emília de Lobato, daquelas sem fazer nada, ao sol como lagarto! E as paqueras e olhadas aos mocinhos bonitos que passam na calçada que não é a da fama, mas fazem o coração das moçoilas bater mais forte? A vida passou por essa jovenzinha tão promissora e ela não viu, tal qual a música do Chico e Gonzaguinha. É preciso ter tempo de não fazer nada; simplesmente viver a vida efêmera que, quando se vê, já se foi! Derramada pelas cucuias e virando as esquinas da juventude. Aí chegam as dores, as falhas, a falta de acuidade visual, auditiva, motora…

Quando tinha meus filhos na mesma escola onde lecionava, na hora do intervalo, na sala dos professores uma colega, aliás, várias outras, me perguntavam se meu filho ‘tal’ tinha estudado para a prova do livro. Eu nem sabia o que era isso. Ser bom aluno, vivendo numa fazenda, com a exuberante natureza, largueza de horizontes e tanta vida por viver era um tanto quanto difícil, senão inexequível, impossível mesmo. Mas, pelo menos eles não faltavam às aulas e alguma coisa do ensino sempre ficava na cabeça jovem deles. Um dia não aguentei tanta cobrança de mãe omissa, (reconheço que era!) e desabafei _Meus filhos tiveram hepatite; dois sararam rápido, sem sequelas; um deles, porém teve o sangue por muito tempo ainda irregular no quesito bilirrubina. Isso me deixou tão nervosa, com pensamentos negativos, já imaginando uma ‘doença ruim’ como diziam na roca. Lembro-me de que cortei uma saia em março e só fui costurá-la em novembro. Meus cabelos embranqueceram e o que eu pedia a Deus: _Quero meus filhos vivos e felizes, Senhor! O resto é resto. Minhas colegas pararam de me cobrar e todos os meus filhos se formaram na área de atuação que gostavam. Estou me desnudando aqui porque eu sei que meus leitores me compreendem e gostam de minha sinceridade sempre tão flagrante.

Os alunos não passeiam; não podem faltar às aulas; nem perder provas (e a do livro também). De repente, pegam uma virose, ou o covid, ou uma febre malsã… e aí? Tudo para; tudo muda; tudo se transforma e o medo de perder o filho se agiganta; o panorama se modifica. Então, por que não pensar e repensar seu modo de viver, antes do sofrimento de perdê-lo?

Sofrer por antecipação é errado e faz muito mal, reconhecem todos. Mas antever situações, sanando-as, ou prevenindo-se convenientemente é saudável e conveniente para todos nós. Isso é sabedoria; não sofrimento; esperança; não pessimismo; coisa boa e salutar; não desespero.

Pais: deixem os jovens viverem felizes; com mais alegria e “savoir faire!”.

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