Variantes e vertentes

Quando começamos intensificar o modelo político e econômico de globalização entre os países, tomamos a decisão de uma vertente que parecia inevitável aos olhos da humanidade. Da década de 80 para frente, fomos quase que guiados naturalmente para isso. Era muito vantajoso estreitar laços entre povos de todos os países, continentes e ainda misturar as culturas e as artes.

Enfim, parecia e ainda pode parecer que é só vantagem: comprar, vender, negociar, fechar acordos, distribuir mercadorias, agilizar a logística, mais aviões, navios, caminhões, trens, tudo, absolutamente tudo, movimentado pelo dinheiro para o homem, transações financeiras que no velho oeste foram assaltadas a cavalo, hoje estão a um toque na tela. Criamos laços econômicos e de desenvolvimento tecnológicos incríveis, geramos super-astros milionários com seus dispositivos e seus sistemas novos de se viver interligados ao mundo “trancados” nos apps. Quer algo da China manda vir, sentado no banco da praça você fecha um curso da Nova Zelândia, você compra uma passagem para Nova York, o ingresso de um show, assiste a imagem de um acidente, de uma catástrofe, tudo realmente ficou acessível após a globalização tecnológica.

O diretor de uma grande multinacional e sua equipe (após a globalização, as grandes multinacionais ficaram gigantes em suas grandes fusões), pega o jato que vai da Europa para Ásia fechar mais uma expansão de seus negócios por lá. Após as reuniões diárias nos escritórios dão como bem sucedido o negócio e saem para jantar e comemorar. Na mistura das culturas e artes é escolhido um prato típico, um animal da fauna local, uma iguaria e bem exótico. De lá da Ásia vão para América do Norte, onde fica a matriz da grande holding, ajeitam as documentações com reuniões e reuniões e, novamente, saem para comemorar junto com dois asiáticos que vieram para dar treinamento da língua aos funcionários estreitando as culturas. Após a alegria acalorada entre comemorações sobre a vertente que a empresa está tomando e os frutos econômicos que ela está gerando e colhendo, resolvem investir na América do Sul e… a história continua e diversifica com intensa circulação de pessoas viajando o mundo, a negócio, a passeio, ao desfrute, ao crime e a todo interesse humano.

Também continua com os reflexos do mundo desigual como as imigrações dos países pobres e em conflitos deste mundo que, globalizou, mas, não cumpriu o que estava no pacote de desenvolvimento humano. Essa variante de desenvolvimento humano ainda não atingiu a todos, ao que parece, só atingiu quem já tinha o dinheiro para abastecer o jato.

Outras variantes foram esquecidas quando se promoveu o plano de globalização, parece que esqueceram do fluxo gênico que o trânsito de pessoas pelo mundo está carreando. São microrganismos que estão sendo ingeridos de um animal servido ao prato exótico do outro lado do mundo, microrganismos que vem nos fômentes dos viajantes, nas cargas, na flora intestinal, nos pulmões, no ar condicionado, uma gama de microrganismos que tem genética estável no seu local de origem, mas se torna variável em outros continentes estabelecendo o paraíso para variantes genéticas.

As variantes estão ai! Estamos atônitos, alguns ricos demais, outros pobres demais mas todos perplexos de como um “inimigo” de muitas variantes pode mostrar ao mundo que eles também estavam fazendo “negócios”, trocando “culturas”, se misturando. Parece que estamos entendendo que não é só a economia que se beneficiou da globalização, esses microrganismos também. Eles não precisam muito para nos alertar que correria demais não vale a pena e que, se olharmos como vivem os animais, veremos que precisamos de pouco, do essencial e que cada um tem seu nicho ecológico, seu habitat, que dinheiro na frente disso, só dá confusão.

Plinio Aiub é médico veterinário, especialista em animais silvestres

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