No ano passado, O MUNICIPIO trouxe, nos dias 14 de janeiro e 24 de junho, matérias referentes a estadia da sanjoanense Elisa Pires Martins em Uganda, África, para ser voluntária em um projeto que idealizara.
Aos 27 anos, psicóloga, idealizadora e coordenadora do projeto Escola em Uganda, Elisa voltou recentemente àquele país e local, mas em visita aos pais, em São João, aproveitou para compartilhar os progressos que Uganda tem vivenciado desde que estivera lá, em 2017.
“Antes, na escola, era comum a punição física aos alunos; agora eles estão mudando essa prática. A violência ainda é muito enraizada na sociedade, em casa, principalmente contra as mulheres e crianças, mas parte do nosso trabalho é realizar grupos reflexivos com o corpo docente, para discutir questões que afetam o ensino e a vida das crianças. Um dos pontos discutidos é igualdade de gênero e direitos da infância”, justificou Elisa.
E acrescentou que, a partir daí, alguns comportamentos se modificaram na escola – as professoras passaram a ter mais voz, as crianças a se sentir mais a vontade para se colocar.
“Também buscamos a aproximação da família na escola. Antes os encontros com a família eram periódicos, para conversar sobre o desempenho escolar, e ficava uma disputa entre família e escola para ver quem era o ‘culpado’ da criança não estar indo bem. Junto aos professores, organizamos outros tipos de encontro, como um ‘open day’, em que as famílias passaram o dia na escola, para ver os desenhos das crianças, conhecer melhor os professores”, narrou Elisa.
Este ano, foi criada uma biblioteca coletivamente e Elisa recordou que a demanda surgiu das crianças. “Antes não havia livros na escola e nós levamos vários o ano passado. Esse ano, as crianças pediram um local onde pudessem ler e cuidar dos livros. Em um mutirão no fim de semana, fizemos a biblioteca inteira juntos: pintamos, fizemos as estantes, encapamos os livros. Divididos em grupo, convidamos a comunidade, todos participaram e foi um momento único – as crianças já se apropriaram do espaço e cuidam da biblioteca com amor e responsabilidade”, disse.
Elisa ponderou que não foi para Uganda na intenção de mudar ninguém, pois considera que, como seres humanos, independente de credo, etnia, classe social, o que se deve buscar é melhorar como pessoa, pois estamos em constante aprendizado.
“É uma troca, aprendemos uns com os outros. A África foi e ainda é tão explorada, nós evitamos reforçar estereótipos. Nosso trabalho é compreender a cultura, os valores, os sonhos, desafios e, juntos, buscar soluções e oportunidades para melhorar. Nós criamos uma relação de confiança e vínculo e eles nos deram a chance e oportunidade de aprender tanto com eles que, hoje mais do que nunca, caminhamos lado a lado, aceitando e acolhendo a força e fragilidade de cada parte”, concluiu ela.
Por Daniela Prado.
Como São João pode participar e ajudar a construir a Escola
Esses dias em que está em São João, Elisa tem visitado algumas escolas, para contar sobre o projeto, em encontros e palestras.
“Minha proposta é trazer uma reflexão e questionamento sobre nosso papel no mundo, privilégios, desigualdade social, visões sobre a África. Essa geração se questiona bastante e traz discussões importantes sobre o machismo, racismo, homofobia e nós, adultos e jovens adultos, temos a função de guiar e criar ambientes para que esses temas sejam discutidos, além de dar liberdade e confiança para que as crianças e adolescentes se expressem”, pontuou Elisa, completando que, na onda de retrocessos e ódio crescente entre as pessoas que tem ocorrido no mundo, a escola deve ser um local de transformação, de acolhimento e formação de valores.
E o projeto Escola em Uganda vem tentar levar um pouco disso para a escola, para fazer parte desse processo.
“O projeto Escola em Uganda surgiu da demanda de construir um novo espaço físico para a escola St. Mary. Desde o começo de 2017, realizamos um trabalho com a comunidade para envolvê-la nessa transformação, eles são os reais protagonistas de toda a história e devem estar a frente de qualquer mudança. Nós fazemos um trabalho psicopedagógico na escola e agora estamos no momento de captar recursos para levantar o novo prédio. Já começamos a construção de três salas e, para não parar, estamos com uma campanha de financiamento coletivo”, enfatizou Elisa.
Até o dia 27 de outubro será preciso captar R$ 128 mil reais, divididos em duas etapas – a primeira de R$ 80 mil e, caso não alcancem esse valor, perdem tudo e o dinheiro volta para quem doou.
“Estamos quase chegando nessa meta. Passando dessa, tudo fica para o projeto e precisamos chegar nos R$ 128 mil para construir a escola inteira! Qualquer pessoa pode entrar no site e doar, convidamos todo mundo para participar. Todo e qualquer valor faz a diferença!”, acentuou.
Para doar, acesse o https://benfeitoria.com/escolaemuganda, lembrando que no Youtube, você assiste ao documentário ‘Agali Awamu – Reinventando Ciclos’ e que no site https://escolaemuganda.com/ estão todos os detalhes do projeto. (D.P.)