Li há pouco na imprensa uma carta de leitor que fazia referência a artigo do advogado e escritor Pedro Maciel, o qual, com muita verve e destemor, elogiava o atual governo da República pelas suas realizações e pelas difíceis e necessárias políticas de Estado que tem empreendido. Infelizmente não guardei a carta para estampar o nome do leitor missivista. Mas retive a conclusão a que chegou o leitor tanto quanto o articulista Maciel: o que tem faltado ao governo é uma bem bolada estratégia de comunicação.
Segundo se diz, por falta de boca no trombone o governo federal tem sido pessimamente avaliado pela opinião pública, pelo mercado concentrado na Faria Lima, por grande parte da mídia impressa, falada e audiovisual, sem falar no massacre das redes sociais e no rolo compressor das falsas notícias. Em reação a isso, o governo está procurando rearticular sua política comunicativa. O primeiro passo foi a nomeação de um novo ministro de comunicação. A escolha recaiu num publicitário, Sidônio Palmeira, que já trabalha numa campanha de combate às falsas notícias e de divulgação dos feitos do governo. O lema do novo ministro é a frase do Chacrinha: “Quem não se comunica, se estrumbica”. (Quem torceu o nariz para o verbo estrumbicar, informo que já está oficializado no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, 5ª. Ed., p. 352, 4ª Coluna, linha 23).
Antecipando-se ao trombeteio do ministro Sidônio, o presidente do BNDES Aloizio Mercadante saiu na Ilustríssima da Folha, de 12 de janeiro, com um artigo intitulado “Eles estão voltando”. É um texto longo, que ocupa duas páginas do tabloide. O editor do suplemento resumiu o artigo: “Depois de anos de retrocesso e predomínio de uma agenda política reacionária, sustenta o autor, o Brasil voltou a inspirar o mundo como exemplo de combate à pobreza, desenvolvimento econômico e enfrentamento da crise climática, mas o governo Lula enfrenta a intolerância de quem olha o país pelas lentes do crescimento predatório e da ideologia da desigualdade”. O texto do resumo não é meu, é do editor. Palmas para ele.
Gostaria de esclarecer que não sou filiado ao PT nem a qualquer partido. Mas, como o governo vem sendo enxovalhado, penso que é mínimo dever de um sincero democrata dar a público a voz dos que o defendem. Mesmo estando bem-feito o resumo do jornal, pretendo abordar alguns tópicos do autor do artigo. Este trecho vale a pena, pois esclarece o título: “Eles estão voltando a sair da pobreza e da miséria. (…) Apenas em 2023, cerca de 13 milhões de pessoas saíram da condição de fome no Brasil…”. Adiante: “Eles estão voltando ao emprego. A taxa de desemprego (…) caiu para apenas 6,1%, a menor da nova série histórica do IBGE”. Depois de abordar o que considera os êxitos na reindustrialização e na produção-exportação de alimentos, Mercadante aponta para a formação de um grande mercado interno de consumo: “De fato, eles estão voltando também à renda e ao consumo”.
“Com isso, as vendas no varejo aumentaram 12,2% em 2024 e, no último Natal, cresceram nada menos que 5,5% nos shoppings… Tudo isso estimula a nossa economia: os investimentos voltaram também e já atingiram a taxa de 17,6% do PIB”.
“O Brasil com Lula voltou a ter a confiança do mundo. Lideramos o G20 e vamos estar à frente do Brics e da COP30”. Mercadante ressalta a diminuição do desmatamento da Amazônia e do Pantanal, onde a redução foi de 77,2% em 2024 sobre 2023. Mostra também o aumento da receita e a reforma tributária, que ocorre após 40 anos de expectativa. O IPCA – diz o artigo – deve ser de 4,9% em 2024 e cair para 4,5% em 2025.
“Não há gastança nem descontrole.” Depois de “um populismo fiscal eleitoral sem precedentes” pelo “governo negacionista” anterior, há um “trabalho incansável para recuperar as finanças públicas”.
Aloizio Mercadante conclui: “De fato o Brasil voltou. Voltou para inspirar o planeta com seu exemplo de solidariedade, de justiça social, de combate à pobreza e à fome, de busca de equilíbrio ambiental e de paz”.
Agora é a vez do leitor concluir. Fiz o meu dever de divulgar o outro lado.
Sérgio Castanho é escritor, doutor em Filosofia e História da Educação, professor da Unicamp, titular da Academia Campinense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Campinas.