Por Mariana Mendes De Luca | @marianamdeluca
Vinho e feijoada são duas coisas que eu não recuso o convite em qualquer estação do ano. Mas tudo o que me agrada em cada um separadamente, me deixa curiosa em saber se de fato, juntos também me agradariam.
A feijoada é o cassoulet brasileiro e reza a lenda que ela foi criada pelos escravos no século XVIII, a partir de restos de carne de porco junto a feijão preto que eram dados para eles se alimentarem e assim, terem força para exercer o trabalho braçal.
Essa história já ganhou diversos desdobramentos e, inclusive, já gerou até algumas dúvidas em historiadores, se realmente a feijoada foi criada em nosso País.
Mas independentemente de onde ela tenha surgido, o fato é que a combinação dela com os acompanhamentos como arroz, couve, laranja, farofa e torresmo tem origem em um antigo restaurante no Rio de Janeiro, que funcionou até a década de 1940, por isso, ela é reconhecida como um prato típico brasileiro.
Ainda segundo a lenda, os escravos tinham acesso a cachaça e a tomavam junto com o prato. Anos depois, quando no interior de São Paulo surge a caipirinha, rapidamente a associamos a feijoada.
Alguns especialistas em vinhos que defendem a ideia de que é possível harmonizar feijoada com vinho, alegam que a associamos a caipirinha por conta dessa herança deixada pelos escravos e ainda ao fato de que na época, o vinho era consumido por uma pequena parte da elite brasileira e por isso não criamos o hábito em apreciar um vinho com feijoada, como fazem os franceses com seu prato típico, o cassoulet, por exemplo.
Isso acontece porque no mundo do vinho sempre procuramos harmonia entre o que se come e o que se bebe. E essa harmonização pode acontecer por similaridade ou contraste.
Para escolher como será feita é necessário analisar o protagonista do prato, ou seja, aquele ingrediente que mais se destaca. Por exemplo, em uma moqueca baiana, o destaque vai para o dendê, em um strogonoff e em uma boa macarrona com molho vermelho quem se destaca, é claro, é o molho.
Mas e na feijoada? Qual é o elemento que ganha o destaque do prato?
Tem o amargor do feijão preto, a doçura da laranja, a carne é salgada e curada e em alguns casos, a acidez da pimenta. São muitos aromas e sabores em uma feijoada, dessa forma cada um iria ter uma perfeita harmonia com um vinho diferente.
Por isso já vi especialistas que harmonizam feijoada com espumantes, por conta da sua acidez e frescor, enquanto outros pensam totalmente ao contrário e preferem vinhos tintos e tânicos por conta da gordura do prato, mas eu sou da opinião de que em time que está ganhando, não se mexe.
Se no País que não se discute o fato de que a cerveja é gelada e a caipirinha é de cachaça, a feijoada combina com o verdadeiro “CCC” – Cerveja, Caipirinha e Cama, nada mais.
Fazendo jus ao tema de hoje, vou pela primeira vez, na décima quinta crônica, substituir minha taça de vinho do brinde final, por uma caipirinha (ou por uma cerveja gelada, como preferir) para dizer: um brinde e até A Próxima Taça.