Por Mariana Mendes De Luca
Uma vez tomando um vinho com alguns amigos um deles disse: “Esse vinho é muito bom. Nem parece brasileiro”. Afinal de contas, porque não?
Assim como dizer “velho mundo”, pensar que só lá se produz bons vinhos é coisa do passado. A Europa tem sim um grande destaque na viticultura, trazendo para nossas mesas vinhos com amadurecimento, equilíbrio e histórias ímpares. Porém engana-se quem pensa que para ser boa, a garrafa tem de cruzar o Atlântico.
Um dia fiz um teste, envelopei uma garrafa com papel alumínio para que as pessoas não soubessem qual era o vinho. Viam apenas a cor em taça e me perguntavam de qual região ele vinha.
Eu respondi: “Este vinho é daqui”. Tamanha era a surpresa deles, que me perguntaram “Daqui? Do Brasil? É do Sul?”. E aquele vinho vívido em taça, com aromas de frutas jovens era da nossa cidade.
Essa história começa há alguns anos, quando os imigrantes italianos trouxeram consigo mudas que infelizmente não vingaram em nossa região. Logo após, por insistência deles (e sorte nossa) a variedade Bordô desenvolveu-se na região e nos tornamos grandes produtores dessa uva. Com ela são produzidos os vinhos de mesa, aqueles de coloração mais opaca que lembra um suco de uva, com aromas mais rústicos e menos amplitude em boca.
Nesse ponto da conversa você pode me questionar sobre o fato de que esse vinho não substitui aqueles que cruzam o Atlântico, ou que vieram aqui dos nossos vizinhos conhecidos pelo bom Malbec e o inconfundível Tannat.
E foi justamente por isso que pesquisadores insistentes (e mais uma vez, para a nossa sorte) implantaram uma técnica de cultivo que altera o ciclo da videira, fazendo com que ao invés de sua produção acontecer no verão, como acontece em países onde normalmente não chove nessa época, aconteça no inverno que é nosso período com pouca chuva.
Surge então a Dupla Poda ou Poda Invertida que por ser uma técnica nova ainda não tem um nome oficial. Com ela conseguimos produzir os vinhos finos que, por lei, precisam ser feitos a partir de uvas viníferas que possuem a casca mais grossa, são bem doces, podem ser consumidas, porém não são nada agradáveis para isso.
Para que essas uvas se desenvolvam é feita uma segunda poda bem no início do verão, atrasando a entrega do seu fruto que vai acontecer no inverno, época de pouca chuva, fazendo jus ao ditado que diz que quando o produtor de vinho comemora o produtor de soja chora.
E foi assim que a qualidade dos vinhos da nossa região cresceu de forma notória e positiva. Tornando possível fazer aquilo que os italianos tanto tentaram no passado, brilhar a estrela do vinho também nos estados de São Paulo e Minas Gerais.
Um brinde a insistência e conhecimento de todos os que, para isso, trabalharam.