Educação Animal

Senta… deita… fica! Comandos que marcam a história do adestramento dos cães. Um relacionamento antigo que as pessoas tinham com seus animais que, a princípio, eram animais funcionais,  os cães eram adquiridos pela família muito em função de guarda pessoal e da propriedade privada e, por isso, havia uma relação de trabalho, a mesma que deu origem a domesticação dos cães.

A educação de um animal, especialmente o cão, é fundamental para o nosso convívio, precisamos de vozes de comando, de ordens absorvidas, de controle e, sobretudo, de uma hierarquia leal entre o animal e as pessoas. Cães são “sedentos por comandos”. Faz parte da alcateia às funções de cada indivíduo e, eles necessitam disso na mesma medida que nós necessitamos não subestimar sua inteligência. Educação tem que ser firme e verdadeira. Comandos dirigidos dentro da estrutura social de uma alcateia são feitos com olhares, gesticulações corporais, rosnados, lambidas e, às vezes, ataques enfáticos (equivalente a um puxão de orelha para os mais teimosos). De certo modo, nossa maneira de educar os filhos era assim também. Existia um respeito maior na hierarquia familiar, algo que dava ordem no conjunto de muitas famílias, bastava um olhar, um sinal, que as crianças respeitavam (haviam  exceções) mas, não precisava dar um celular, um tênis novo ou prometer algo em troca de fazer cumprir uma tarefa. A obediência era na base do princípio e não o “suborno”. Alí se transmitia o ensinamento e isso dava um caráter leal a personalidade e qualidade do laço.

Mas, isso vem se perdendo no mundo da velocidade, tanto no âmbito humano onde não se pode mais falar nada que é ofensa, quanto no mundo animal onde se supõe que educar é dar um petisco. Tornamos a educação rasa na humanidade e estamos fazendo o mesmo com os animais. Educar dá trabalho, requer empenho. Ensinar um comando ao cão sem “suborno” pode levar dez ou mais vezes em tempo do que ele sentar por um biscoito delicioso. Educar a humanidade a conquistar status no campo do altruísmo não trás o retorno rápido do mundo das coisas de consumo tão desejadas.

Isso tem trazido ao contexto um mundo desleal, um mundo falso, uma pessoa interesseira, um cão “vendido” pelo sua gula, um jovem que pode tudo e tem tudo, um cão que não deixa ser comandado sem receber algo em troca, uma completa inversão de hierarquia.

Faço esse paralelo aqui, pois o profissional veterinário se depara com um cão que manda no lar, que tira o marido da cama do casal ou toma posse do sofá, que não permite um corte de unhas, que não deixa limpar um ouvido, que precisa dar um petisco para ser vacinado, completos absurdos que são tidos como engraçados.

Olhe a travessia dos elefantes, o cerco das hienas, os berçários dos pinguins, veja a migração das aves, observe o cavalo selvagem e, sobretudo aprenda a lealdade dos cães conosco, não estrague isso como estamos estragando a sociedade, ansiosa por tudo. A ordem deve existir de um ensinamento, não de uma compra (“suborno”) ou de uma espera que não seja o próprio aprendizado.

Temos mais a aprender com os animais, a natureza é uma escola sem coisas!

Plínio Aiub é médico veterinário especialista em animais silvestres

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