Michael Douglas da Silva, suspeito de assassinar Mayara, é preso em São João da Boa Vista

BRUNO MANSON
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Após uma longa busca, a polícia localizou e prendeu Michael Douglas da Silva, 28, na tarde de quarta-feira (18), na Serra da Paulista, em São João da Boa Vista. Ele é suspeito de assassinar com 28 facadas a estudante Mayara Roquetto Valentim, no domingo (15), crime que teve repercussão nacional e gerou grande comoção na região.

A prisão foi feita pela Polícia Civil e pelo Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) da Polícia Militar de Piracicaba (SP). O individuo estava com o celular da vítima no momento da prisão e poderá responder por latrocínio – roubo seguido de morte –, que tem pena maior que o homicídio comum. Até o momento, ele ainda não tem advogado de defesa.

Captura: Michael Douglas da Silva é preso em São João da Boa Vista (Divulgação/Polícia Civil)

LOCALIZAÇÃO

Testemunhas se depararam com o suspeito na região de mata na Serra da Paulista. Um sitiante disse que Michael chegou a pedir comida. Diante desta informação, a polícia – que já fazia buscas na área desde segunda-feira (16) – fez um cerco e conseguiu localizá-lo. Ele estava com uma arma de fogo, um canivete e o celular da vítima escondido na cueca. A Polícia Civil contou com o apoio da Polícia Militar e o canil da Guarda Civil Municipal de Vargem Grande do Sul para a prisão.

“Pelo apurado preliminarmente foi um [latrocínio] roubo seguido de morte, não um homicídio. Mayara chegou até aquele ponto da caminhada, parou para descansar. Ele estava dormindo no local porque tinha fugido do crime ocorrido no sábado. Lá ele encontrou a Mayara e tentou ali efetuar o roubo. Ela teria fugido ou reagido e ele a matou”, disse o delegado Fabiano Antunes de Almeida.

LATROCÍNIO

O latrocínio, que é considerado crime hediondo, consiste em: “forma qualificada do crime de roubo, com aumento de pena, quando a violência empregada resulta em morte. Está enquadrado no artigo 157, §3, II do Código Penal, que consta no capítulo dos crimes contra o patrimônio e não dos crimes contra vida como muitos pensam”. A pena prevista é de 20 a 30 anos de prisão e multa. Michael deve passar por audiência de custódia e pode ser encaminhado para alguma penitenciária da região.

O CRIME

Mayara tinha saído por volta das 11h do domingo (15) para fazer uma caminhada e não retornou para casa. Preocupados, os familiares da jovem foram ao Plantão Policial e registraram um Boletim de Ocorrência, informando o desaparecimento. Após o registro, amigos saíram à procura dela. Por volta das 22h, uma das pessoas que ajudava nas buscas encontrou a estudante na área conhecida como ‘Vale dos Gnomos’, caída próxima à Pedra do Urubu – distante cerca de 3,9 km de onde ela morava.

O Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar foram acionados, mas a universitária já estava morta. De acordo a PM, o corpo dela já apresentava rigidez cadavérica e tinha sinais de violência. A área foi isolada e a Polícia Civil foi chamada para averiguar o caso. Durante a perícia foi possível verificar que a vítima possuía ferimentos de faca nas costas, braços, pescoço, peito e nádegas. Conforme apurado, ela foi apunhalada 28 vezes durante o ataque. Também foi constatada uma lesão na orelha direita, aparentemente causada por mordida.

Ao averiguar o local do crime, a equipe policial localizou um anel – próximo à vítima – e um óculos de sol, que estava um pouco distante do corpo. Ainda foram encontradas quatro latas de cervejas espalhadas no local.

INVESTIGAÇÃO

Diante do crime brutal, iniciou-se uma minuciosa investigação para identificar o responsável pelo assassinato de Mayara. Em meio às diligências, a Polícia Civil coletou uma série de pistas que apontavam Michael como o suspeito do crime. O rapaz estava foragido por tentar matar uma vizinha no dia anterior [sábado], em uma pensão na região central da cidade. Durante a investigação, descobriu-se que ele esteve nas imediações da residência da jovem e até havia pedido comida para alguns moradores locais. “Foram efetuadas outras diligências sendo que foi possível identificar que Michael estava na companhia de Mayara por volta das 11h30 no domingo, pouco antes da mesma ser morta”, comentou o delegado Fabiano Antunes de Almeida, em entrevista ao O MUNICIPIO.

A partir daí, a Polícia Civil solicitou o apoio do canil da Guarda Civil Municipal de Vargem Grande do Sul e iniciou buscas pelas imediações do local do crime. Os cães farejadores encontraram uma lona e um par de chinelos pertencentes ao suspeito, além de vestes. “Não restam dúvidas de que Michael Douglas da Silva foi o autor do bárbaro crime praticado contra a vítima Mayara. Foram realizadas buscas em sua antiga residência, contudo ele ainda não foi localizado”, relatou o delegado.

 

Sinistro: apartamento do suspeito tinha inscrições perturbadoras na parede

Antes de cometer o assassinato, Michael estava hospedado em uma pensão na região central da cidade. Na manhã de sábado (14), ele tentou matar uma mulher que estava hospedada ao lado do apartamento onde estava.

Conforme apurado, o sujeito encontrou a moradora no corredor do estabelecimento e a chamou para ajudá-lo a colocar um guarda-roupas no lugar. Sem desconfiar de nada, a vizinha entrou no apartamento dele para auxiliá-lo e foi arrastar o móvel. Repentinamente, Michael deu uma coronhada na cabeça dela, com um revólver calibre 22.

Apartamento: inscrições na parede faziam menção a crimes brutais que tiveram repercussão nacional (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Logo em seguida, o agressor apontou a arma para o tórax dela e apertou duas vezes o gatilho, porém, os tiros não dispararam. Houve luta corporal e ela começou a gritar por socorro. Diante desta reação, ele fugiu do local, deixando cair uma munição no chão. Um inquilino escutou os gritos e correu atrás dele, mas sem sucesso. A vítima foi socorrida e a Polícia Militar foi chamada. Foi registrado um Boletim de Ocorrência na ocasião e o delegado Jorge Mazzi representou pela prisão temporária de Michael, pedido que foi concedido pela Justiça.

Foram realizadas buscas pelas polícias Militar e Civil, mas não foi possível descobrir o paradeiro do sujeito na ocasião. De acordo com familiares, ele tem esquizofrenia.

MENSAGENS

Ao apurar este fato, a reportagem do O MUNICIPIO tomou conhecimento do ambiente mórbido que era o apartamento onde Michael estava hospedado. No interior do imóvel, ele deixou mensagens rabiscadas na parede, que demonstram o quanto a mente já estava perturbada. Uma delas traz uma suástica, com os dizeres “Satanás” e “Esse será amigo”, logo abaixo.

Ao lado desta mensagem também está escrito “Massacre de Suzano” – referindo-se ao massacre escolar ocorrido em 13 de março de 2019, em uma escola estadual do município de Suzano (SP), onde dois ex-alunos mataram a tiros cinco estudantes e duas funcionárias da unidade de ensino.

Também chama atenção a inscrição “Lázaro Barbosa”, nome do assassino que ganhou notoriedade em junho do ano passado, após matar quatro pessoas de uma mesma família no Distrito Federal.

CARTA

Além das mensagens, a Polícia Civil encontrou no local uma carta, com frases desconexas e um teor bastante pesado, falando sobre morte. “Pelo jeito, ele tinha muita raiva da família por tê-lo tirado de casa”, comentou Antunes. “Está até circulando uma outra carta nas redes sociais. A letra é bem parecida com essa carta que temos apreendida”, completou o delegado. No entanto, ele relata que essa carta que circula nas redes sociais ainda não chegou ao poder da Polícia Civil.

 

Morte de universitária gera comoção

Nascida em 27 de janeiro de 1999, Mayara Roquetto Valentim tinha um futuro promissor pela frente. Ela era estudante do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e sonhava em ser professora. Por conta dos estudos, ela passava a maior parte dos seus dias em Campinas (SP) e vinha visitar a família em São João da Boa Vista nos fins de semana.

Vítima: Mayara era estudante do curso de Ciências Biológicas da Unicamp (Divulgação/Redes Sociais)

Em nota, a Unicamp explicou que Mayara ingressou no curso de Ciências Biológicas em 2017. Ela encerrou o bacharelado no segundo semestre de 2021 e estava cursando a licenciatura. Diante da notícia deste assassinato, a Diretoria do Instituto de Biologia da Unicamp determinou luto de três dias.

O corpo de Mayara foi velado na segunda-feira (16) no velório da Santa Casa Dona Carolina Malheiros, ocasião marcada pela grande comoção de familiares e amigos. O enterro ocorreu na manhã de terça-feira (17) no Cemitério Municipal de São João da Boa Vista.

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