Por Bruno Manson
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A atual situação da saúde pública tem sido alvo de críticas por parte da população em São João da Boa Vista. Na noite de quinta-feira (24), Aron Igor Pacheco Faria, de 38 anos, faleceu na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), o que gerou comoção e questionamentos nas redes sociais. Conforme apurado, ele era paciente crônico renal e a família vinha lutando para conseguir uma internação.

Na quarta-feira (23), o rapaz não estava bem e deu entrada na UPA, sendo transferido logo em seguida para a Santa Casa ‘Dona Carolina Malheiros’. Lá, após avaliação médica, recebeu alta em menos de 24 horas. No dia seguinte, Aron passou mal e precisou ser encaminhado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) novamente à Unidade de Pronto Atendimento, onde veio a falecer.
A morte dele levantou indagações sobre a alta médica precoce no hospital e os procedimentos adotados na UPA, além de expor a frágil situação em que se encontra a saúde pública sanjoanense.
NOTA DE ESCLARECIMENTO
Diante da repercussão deste caso, a Prefeitura de São João da Boa Vista publicou uma nota de esclarecimento sobre este falecimento. De acordo com o médico Farid Farrage Abd El Fatah, diretor-técnico da Unidade de Pronto Atendimento, Aron deu entrada na UPA na quarta-feira (23), ocasião em que foi realizado o primeiro atendimento. “Durante esta avaliação, a equipe médica identificou a necessidade de transferência do paciente para a Santa Casa de Misericórdia local, procedimento que foi realizado no mesmo dia. Após atendimento na Santa Casa, o paciente recebeu alta médica ainda no dia 23”, informou. “No dia seguinte, 24 de abril, o paciente retornou à UPA, sendo transportado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) devido a um quadro de hipoglicemia. Importante ressaltar que o paciente era portador de doença renal crônica e encontrava-se em fila de transplante”, destacou o médico.
De acordo com Farrage, após a correção do quadro de hipoglicemia, Aron apresentou complicações clínicas, com provável quadro de acidose metabólica, condição que pode desencadear parada cardiorrespiratória. “Diante da intercorrência, a equipe médica iniciou imediatamente os procedimentos de reanimação, que foram mantidos por 40 minutos, conforme estabelecido em protocolo. Infelizmente, apesar de todos os esforços da equipe, a parada cardiorrespiratória foi irreversível, resultando no óbito do paciente”, relatou.
Segundo o diretor-técnico da UPA, o corpo do rapaz foi encaminhado ao Serviço de Verificação de Óbito, conforme procedimento padrão nestes casos. “A UPA de São João da Boa Vista reafirma seu compromisso com a transparência nas informações prestadas à população e expressa suas condolências aos familiares e amigos do paciente”, concluiu o médico.
SANTA CASA
A reportagem do O MUNICIPIO entrou em contato com a assessoria da Santa Casa ‘Dona Carolina Malheiros’ para saber um posicionamento deste caso, uma vez que há críticas em relação à alta médica dada a Aron em menos de 24 horas. Até o fechamento desta edição, o hospital não se manifestou.

MINISTÉRIO PÚBLICO
Em contato com o jornal, o Conselho Municipal de Saúde anunciou que levantará este fato e outros casos que tem apurado ao conhecimento do Ministério Público. “Chegaram a este conselho diversos relatos de suposta negligência, falhas no acolhimento e omissões de conduta profissional, alguns deles envolvendo casos de óbitos que poderiam ter sido evitados, segundo familiares e testemunhas. Diante da gravidade dessas situações, não podemos nos calar e nem admitir que vidas continuem sendo perdidas por falhas no sistema público de saúde”, relatou Rafael Santana, presidente do órgão.
De acordo com ele, o promotor de Justiça, Leonardo Meizikas, que possui atribuições na área da saúde na Comarca, será convidado para participar de próxima reunião ordinária do conselho, que ocorrerá nesta quarta-feira (30), às 18h, no auditório do Departamento de Saúde. “Nessa ocasião, discutiremos ações urgentes a serem adotadas com o apoio do Ministério Público e da sociedade”, relatou.
Além da reunião, Rafael também adiantou que pretende convidar o promotor para acompanhar uma visita técnica à UPA, a ser realizada com a presença de conselheiros de saúde, com o objetivo de avaliar as condições estruturais, operacionais e assistenciais da unidade, identificar falhas e propor medidas corretivas imediatas. “O Conselho Municipal de Saúde manifesta sua total indignação diante do cenário atual e reafirma seu compromisso com a defesa da vida, da dignidade do cidadão e da qualidade dos serviços públicos de saúde. Tomaremos todas as providências legais e regimentais para que os responsáveis por omissões e irregularidades sejam identificados e responsabilizados. Saúde é direito de todos e dever do Estado. O conselho não se calará”, finalizou.