Por Ana Paula Fortes
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Quinta-feira (30), a Igreja Católica celebra o Mistério da Eucaristia – Sacramento do Corpo e Sangue de Jesus Cristo, representados de maneira figurada pelo pão e vinho. A festa de Corpus Christi é uma das mais antigas do catolicismo em todo o mundo, tendo sido oficializada em 1264, pelo papa Urbano IV. Segundo os registros da Igreja, Santa Juliana de Mont Cornillon, em 1258, numa revelação particular, teria recebido de Jesus o pedido para que a festa fosse introduzida no Calendário Litúrgico da Igreja, a Festa de Corpus Domini. A comemoração foi trazida para o Brasil pelos colonizadores, no século 16, devido a sua importância em Portugal.
“Ela acontece sempre em uma quinta-feira, em alusão à Quinta-feira Santa, quando se deu a instituição deste sacramento. Durante a última ceia de Jesus com seus apóstolos, Ele pede que celebrem Sua memória comendo o pão e bebendo o vinho que se transformariam em seu Corpo e Sangue. Esse dia é um convite para uma meditação sobre o valor e a importância da Eucaristia em nossa vida”, explicou padre Thiago Caldeira de Oliveira, pároco da paróquia Nossa Senhora do Rosário.
Santa Juliana
Nascida em 1191, nos arredores de Liège, na Bélgica, Juliana ficou órfã aos cinco anos de idade, sendo confiada, juntamente com a sua irmã Inês, aos cuidados das monjas agostinianas do convento-leprosário de Mont Cornillon. Mais tarde, Juliana, já então uma monja agostiniana, passa a ter visões que pediam para a Igreja celebrar a Eucaristia. As visões foram relatadas ao padre Thiago Pantaleão, que se tornou o papa Urbano IV em 1261.
Foi precisamente o bispo de Liége, Dom Roberto de Thourotte que, após hesitações iniciais, aceitou a proposta de Juliana e das suas companheiras e instituiu, pela primeira vez, a solenidade do Corpus Christi na sua diocese, precisamente na paróquia de Sainte Martin. Mais tarde, também outros bispos o seguiram, estabelecendo a mesma festa nos territórios confiados aos seus cuidados pastorais. Depois, tornou-se festa nacional da Bélgica.
O milagre de Bolsena foi o motivo final para que a festa mundial de Corpus Christi fosse decretada oficialmente. A determinação ocorreu somente em 1264, seis anos após a morte de irmã Juliana, em 1258. Santa Juliana de Mont Cornillon foi canonizada, em 1599, pelo papa Clemente VIII.
O Milagre de Bolsena
O milagre eucarístico foi o motivo da decisão final de papa Urbano IV em instituir a celebração de Corpus Christi. Foi em 1263, quando o padre Pedro de Praga celebrava a Missa na Capela de Santa Cristina e a hóstia começou sangrar sobre o corporal, após a consagração. Este sinal ocorreu quando o padre teria duvidado da presença real de Cristo na Eucaristia.
Neste período (1262-1264), o papa Urbano IV residia em uma comuna chamada Orvieto, próximo de Bolsena. Assim que tomou conhecimento do milagre, ordenou ao bispo Giácomo que levasse as relíquias de Bolsena para Orvieto, em procissão. Quando o papa encontrou os fiéis caminhando, com a relíquia eucarística, pronunciou as seguintes palavras: “Corpus Christi”.
Na Catedral de Orvieto, estão guardados os objetos sacros, os corporais, o cálice e a patena que foram utilizadas quando aconteceu o milagre Eucarístico. Assim como se pode ver a pedra do altar manchada do sangue proveniente da hóstia consagrada, em Bolsena. Diante do milagre a solenidade de Corpus Christi é oficialmente instituída.
Programação
A Solenidade de Corpus Christi é marcada por uma procissão, onde o Santíssimo Sacramento é levado, normalmente pelo sacerdote, para percorrer as ruas na companhia nos fiéis.
“Como tradição, nesse dia a Eucaristia sai às ruas para demonstração de fé do povo nesse Jesus que se faz presente no meio de nós. A procissão lembra a caminhada do povo de Deus, que é peregrino, em busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento esse povo foi alimentado com maná, no deserto. Hoje, ele é alimentado com o próprio Corpo de Cristo”.
Em São João, a celebração desta data, tão importante para os católicos, acontecerá com a reunião de todas as paróquias da cidade, às 8h, em frente ao Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e será presidia pelo bispo diocesano, Dom Eugênio Martins.
“Logo após, sairemos em procissão em direção a nossa igreja Catedral, onde em frente a ela, será dada a benção com o Santíssimo Sacramento”, finalizou padre Thiago.
Tapetes coloridos reuniam centenas de fiéis em sua confecção
Em São João da Boa Vista, durante muitos anos, havia a tradição de enfeitar as ruas por onde passaria a procissão de Corpus Christi. Fiéis de todas as paróquias, todos os sacerdotes da cidade, alunos e professores de várias escolas do município se debruçavam sobre o asfalto e criavam figuras alusivas à comemoração. Em geral, eram os professores de Arte quem criavam os desenhos que seriam coloridos com os mais diversos materiais: tintas variadas, pó de café, raspa de couro, sobras de tecido, serragem de madeira, areia etc.
Os tapetes coloridos tiveram origem em Portugal e foram trazidos para o Brasil durante a colonização (entre os séculos XVI e XIX). Para a Igreja Católica, a prática remete à acolhida de Jesus em Jerusalém, “quando as pessoas cobriram as ruas de ramos e mantos para a passagem do Messias”, afirmam os historiadores.
ÚLTIMO TAPETE
Na edição de 13 de junho de 2009, este jornal registrou que as chuvas que caíram em São João durante todo o período de Corpus Christi obrigaram o cancelamento da confecção do tapete colorido. As ruas por onde procissão passaria são de grande declive e isso faria com que as águas das chuvas provocassem o escorrimento das artes, desmanchando todo o trabalho. Na cidade de Matão (SP), onde essa tradição percorreu naquele ano 12 quarteirões, grande parte da confecção do tapete também foi cancelada.
Na edição de 29 de junho de 2011, o jornal publicou que o tapete colorido foi ‘estendido’ no Bairro Alegre, no entorno da Capela de Santa Cruz. Pó de café, serragem e sal grosso foram usados para desenhar e colorir o asfalto no local, com a ajuda de fiéis e sacerdotes de todas as paróquias. Talvez, tenha sido este o último ano em que o trabalho de enfeitar as ruas tenha sido realizado. A procissão de junho de 2012, de acordo com reportagem do O MUNICIPIO, publicada na ocasião, já não contou com a realização do tapete.