PF apreende 6,2 toneladas de cafeína para ‘batizar’ cocaína

Por Ignácio Garcia
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Na quinta-feira (30), São João da Boa Vista e outras duas cidades do interior paulista foram alvos da Operação ‘Car Wash’, força-tarefa da Polícia Federal de Ribeirão Preto, em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e a Polícia Militar, para desmantelar quadrilha que desvia produtos químicos controlados, principalmente a cafeína, para aumentar o rendimento da produção de cocaína e ampliar os lucros com tráfico de drogas. De acordo com a investigação da PF, o bando movimentou R$ 60 milhões nos últimos cinco anos e produziu em torno de 26 toneladas de cocaína ‘batizada’.

Produto: estimulante que leva cafeína seria usado para aumentar volume de cocaína vendida na região de Ribeirão Preto (Reprodução/g1/Divulgação/Polícia Federal)

A ação, que envolveu cerca de 40 equipes, obteve na Justiça autorização para cumprir 15 mandados de prisão temporária e 21 de busca e apreensão em Ribeirão Preto, Rifaina e São João. Segundo o O MUNICIPIO apurou, na cidade, o foco dos agentes federais foi um empresário, proprietário de uma loja de suplementos alimentares, que se valia do negócio legalizado para a compra da cafeína. Em um depósito no local, os policiais apreenderam 6,2 toneladas de cafeína. Eles também teriam ido a uma casa em um condomínio de luxo da cidade, mas não foi informado se seria ou não do empresário.

Conforme informou o portal g1 Ribeirão e Franca, o esquema criminoso contava com a empresa de suplementos, que tinha autorização para a compra da cafeína e depois a destinava para a produção das drogas. Pelas investigações, o plano também era financiado pela venda de automóveis de luxo e esportivos.

Ao portal de notícias, o promotor de Justiça Frederico Melonne, do Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), explicou que a cafeína foi adotada por ser imperceptível ao usuário final da droga. A substância é encontrada em analgésicos e estimulantes, por exemplo.

“A cafeína é o produto utilizado para dar maior volume e, como consequência, aumentar o faturamento, porém sem alterar o aspecto do entorpecente e conferir uma falsa percepção nos sentidos, como dormência de mucosa e excitação. É com essa finalidade de fazer o que se chama de batismo, acrescentar cocaína já sintetizada para aumentar o volume do faturamento”, comentou.

Segundo a Polícia Federal, ao menos 18 pessoas estão envolvidas na quadrilha, cuja estrutura básica contava com financiadores, fornecedores, traficantes locais, além de pessoas que tinham as contas bancárias utilizadas para a movimentação de recursos financeiros.

PRISÕES E APREENSÕES

Dezesseis pessoas foram presas — sendo 15 delas em cumprimento a mandados temporários expedidos pela Justiça e uma em flagrante, esta localizada em uma casa no bairro Ipiranga, zona Norte de Ribeirão Preto, onde funcionava um laboratório de refino. Todas foram encaminhadas à sede da Polícia Federal em Ribeirão Preto. Ainda houve apreensões de documentos, armas, munição, dinheiro e seis carros de luxo avaliados em R$ 6 milhões.

“Atingimos duas pontas: a ponta do tráfico, do traficante que fica mais nas regiões mais periféricas; ao mesmo tempo, a gente pegou o pessoal do condomínio de luxo, de classe média alta. Atuamos tanto em cima do tráfico no dia a dia como daqueles que passaram a vender produto químico, só que tinham um aspecto mais aceitável, digamos assim, porque não era a droga, era produto químico”, afirmou, ao g1, o delegado da Polícia Federal de Ribeirão Preto, Marcellus Henrique Araújo. Ele também disse que os entorpecentes se destinavam exclusivamente à região de Ribeirão Preto: “Em um determinado tempo, eles conseguiram movimentar 8 toneladas de cafeína e, segundo as estimativas que já existem de estudo a respeito da mistura da cafeína com a cocaína, essa quantidade que foi identificada possibilitou a produção de 26 toneladas de cocaína e é uma cocaína que ficou aqui na região de Ribeirão Preto, não era cocaína destinada ao tráfico internacional”.

Os suspeitos devem responder pelos crimes de associação para o tráfico, tráfico de drogas, vendas de medicamentos sem licença, porte de arma e lavagem de dinheiro, conforme a PF.

A força-tarefa também obteve o bloqueio, o sequestro e a apreensão de bens e valores dos investigados. Se condenados, os investigados podem cumprir penas que variam de 19 a 55 anos de reclusão. (Com informações do g1)

 COMO FUNCIONAVA O ESQUEMA

 — Um empresário, dono de uma loja de suplementos alimentares em São João da Boa Vista, se valia do negócio legalizado para a compra da cafeína;

— Ao todo, foram compradas 8 toneladas do produto para misturar à cocaína;

— A cafeína era distribuída aos traficantes, que a acrescentavam à pasta base de cocaína e assim conseguiam aumentar a margem de lucro;

— O dinheiro obtido pela quadrilha era utilizado em um esquema de lavagem, envolvendo a compra e a venda de carros de luxo esportivos, avaliados de R$ 800 mil a R$ 1 milhão cada;

— A investigação apontou três frentes de atuação da quadrilha: os fornecedores, que desviavam a substância para os traficantes locais; os financiadores, responsáveis por custear parte da operação de compra da cafeína por meio da negociação dos veículos; e os traficantes, responsáveis pela venda dos entorpecentes;

— Com o dinheiro obtido com o esquema, os fornecedores e os financiadores bancavam uma vida de luxo, com casas em condomínios fechados de alto padrão e carros luxuosos;

— A droga tinha como destino usuários na região, e não o tráfico internacional.

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