Caminho da Fé: senador quer ‘criar’ rota existente há 20 anos

Por Marcelo Gregório
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Membros da Associação dos Amigos do Caminho da Fé (AACF) estão de olho em Brasília (DF) assistindo de forma indigesta e apreensiva aos trâmites da proposta do senador astronauta Marcos Pontes (PL-SP). Ele pretende ‘criar’ a rota turística ‘Caminho da Fé’. Detalhe: o percurso religioso de Águas da Prata a Aparecida, ambos municípios paulistas, já existe há 20 anos.

Aprovado no Senado, o Projeto de Lei nº 2.992/2023 será analisado pela Câmara dos Deputados e, posteriormente, poderá seguir para sanção presidencial. A expectativa da AACF é para que a ideia seja interrompida. “Estivemos no Gabinete do senador, em Brasília, nos apresentando e apontando as considerações sobre o instrumento. Após a visita, estamos analisando os desdobramentos para podermos assertivamente nos posicionarmos”, explicou a gestora-executiva, Camila Bassi Teixeira.

Prova: existência da marca do ‘Caminho da Fé’ desde 2003 em página do portal do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, do Ministério da economia (Reprodução/INPI)

CONTATO SEM SUSPEITA

A gestora disse que em março deste ano, um dos assessores do senador contatou a associação, com sede em Águas da Prata, e fez uma espécie de pesquisa sobre a rota turística. Na ocasião, ninguém suspeitou que a conversa poderia causar tamanho incômodo. “Entraram em contato conosco e dispusemos das informações solicitadas. Após meses sem comunicação, tivemos conhecimento do projeto de lei já em processo de análise de validação pelo Senado. E somente a partir desta ciência é que iniciamos os contatos para entender do que se tratava”, afirmou Teixeira.

MARCA REGISTRADA

Segundo consta no site do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a marca ‘Caminho da Fé’ é registrada pela associação pratense, a qual atua em sua proteção e conservação. Perguntada se a ideia do senador poderá afetar o trabalho, a gestora pontuou: “Não temos informações precisas dos impactos da proposta. Tão logo tenhamos, comunicaremos em nossos canais os desdobramentos do projeto”.

É PRECISO MAIS

Em entrevista à Rádio Senado, Marcos Pontes assegurou que a ideia é transformar o ‘Caminho da Fé’ na maior rota religiosa de peregrinação do Brasil. O senador enalteceu o trabalho da associação no sentido de sinalizar o percurso para auxílio aos peregrinos, indicar pousadas, locais de descanso e de alimentação, no entanto, acredita que dá para avançar mais. “Isso vai atrair investimentos para essas cidades, mais negócios, mais possibilidades de desenvolvimento e, com isso, certamente nós teremos um melhor conforto para todos aqueles que fazem o caminho, que virão não só desses dois estados logicamente, mas de outros estados, de outros países”, opinou o senador.

Ainda na emissora pública, o astronauta avaliou que a proposta é aumentar dos atuais 20 mil peregrinos anuais para 300 mil pessoas por ano. Acerca da polêmica, a reportagem do O MUNICIPIO entrou em contato com o Gabinete do senador, por telefone e por e-mail, para saber se ele tinha conhecimento da existência da rota. A assessoria dele chegou a afirmar que o próprio Pontes responderia aos questionamentos, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.

Camila Bassi: gestora diz que AACF prioriza projetos de restauração ambiental, entre outros (Reprodução/semeia/Leo/Click Caminho)

O PERCURSO

Inspirado no milenar ‘Caminho de Santiago de Compostela’, na Espanha, o ‘Caminho da Fé’ está em atividade desde 2003. Dados de 2022 apontam que 51 municípios paulistas e 21 cidades mineiras fazem parte do trajeto. A rota até Aparecida soma mais de 2.000 quilômetros e dispõe de pontos de apoio, infraestrutura e informações. Aproximadamente 400 quilômetros atravessam montanhas da Mantiqueira entre estradas vicinais, trilhas, bosques e asfalto.

CONTINUIDADE DO TRABALHO

Mesmo diante de incertezas, a gestora enfatizou que a AACF dará continuidade ao método de planejamento estratégico utilizado nos últimos anos e intensificará a qualificação de mão de obra, além de investimentos em infraestrutura e projetos de restauração ambiental. “Pretendemos continuar dando todo o auxílio e gestão necessários para que ele continue atuando tão positivamente nas comunidades e pessoas que interagem e vivem do ‘Caminho’. Acreditamos que o sucesso do ‘Caminho’ está reverberando pelos quatro cantos do Brasil, sendo referência, inspiração e modelo de gestão eficiente e participativa”, concluiu Teixeira.

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