
Por Clovis Vieira
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Heloísa Eneida Paes Pinto Mendes Pinheiro, a Helô Pinheiro, completou 80 anos no dia 7 de julho. Como presente, a eterna garota de Ipanema ganhou um festão de suas filhas. Ela ficou conhecida por ter sido a musa inspiradora de Tom Jobim e Vinicius de Moraes para a canção ‘Garota de Ipanema’, que projetou a bossa nova internacionalmente. Helô Pinheiro faz parte da lista das 10 grandes mulheres que marcaram a história do Rio de Janeiro.
A canção, diz a lenda, surgiu de repente, em 1962, quando Tom Jobim e Vinícius estavam sentados em um bar na praia de Ipanema e avistaram uma bela jovem de 17 anos que circulava pela areia a caminho do mar. Ela se chamava Helô Pinheiro e jamais imaginava que alguém lhe observava ou que havia composto uma canção falando de seu andar. É a segunda canção mais executada em todo o mundo, ficando atrás apenas de ‘Yesterday’, dos Beatles.
A CANÇÃO
“A música ‘Garota de Ipanema’ foi um ícone da Bossa Nova, surgida para romper com o tipo de música que se ouvia nos anos 1950, com arranjos muito elaborados. E essa novidade era mais intimista, cantada em tom mais baixo. ‘Garota de Ipanema’ tem a letra e melodia muito simples e é isso o que a torna encantadora, sua simplicidade. A melodia de Tom Jobim usa bastante a dissonância em sua harmonia, que não era uma coisa comum naquela época. Os arranjos eram legais porque quem é músico percebe os sons de 7ªs, de 9ªs, 13ªs”, explicou a musicista Vânia Noronha.
Sobre a poesia de Vinicius de Moraes, a integrante da Academia de Letras de São João da Boa Vista, Sônia Quintaneiro Novo pondera: “Olha que coisa Mais linda/ Mais cheia de graça/ É ela, a menina que passa/ Ao doce balanço/ A caminho do mar”. O olhar do poeta Vinicius capta o instante mágico que se traduz e se casa com a melodia perfeita do maestro Tom Jobim. Eis, então, o ‘momentum’ registrado para correr o mundo todo até quando houver corações sensíveis ao mistério da Arte”.
Beatriz Castilho, também acadêmica, falando sobre o poema de Vinicius, aponta: “É interessante notar como o poeta constrói o cenário do Rio de Janeiro. Em vez de imagens da Cidade Maravilhosa, o que se tem é seu reflexo no corpo da mulher que passa, “moça do corpo dourado /do sol de lpanema”. Como num instantâneo, Vinicius funde a imagem da musa à imagem da cidade.

Ainda sobre a poesia, Beatriz completa: “Já na segunda metade da composição, o poeta questiona sobre sua vida (“ah, por que estou tão sozinho / ah, por que tudo é tão triste) e, amplificando a visão daquilo que passa, aponta a fugacidade da própria beleza: “Ah, a beleza que existe / A beleza que não é só minha / Que também passa sozinha”. Tal qual a moça que passa, também a beleza passa. O poeta parte, assim, da experiência sensorial para uma reflexão maior sobre a existência humana, o que faz desta composição uma das obras-primas da música popular brasileira”.
A professora de Língua Portuguesa, Maria José Moreira, argumenta: “Em épocas de ‘sons’ que se fazem tão estranhos a nós, e letras que são verdadeiros ‘descalabros’, relembrar os anos 1950/1960 e o auge da Bossa Nova, faz-nos bem à alma e aos ouvidos!”
Ela diz que ao relembrar esta época “não podemos deixar de citar o grande autor Vinícius de Moraes. Grande escritor, cronista e poeta – especialmente mais conhecido por seus sonetos, foi também excelente letrista”. E aponta que o constante de sua poesia “é o lirismo, a exaltação do amor, dos sentimentos, características essas que ele levou para a música popular alcançando êxito internacional como verdadeiro ícone da Bossa Nova e sua parceria com grandes músicos entre elas a mais famosa com Tom Jobim”, encerrou.