Vargem Grande do Sul registra 1º caso de febre amarela do ano no Estado

Por Ignácio Garcia
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A Secretaria de Estado da Saúde (SES), por meio do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do Estado de São Paulo, confirmou, na tarde desta sexta-feira (27), que o primeiro caso de febre amarela de 2023 do território paulista foi registrado em Vargem Grande do Sul.

A reportagem do O MUNICIPIO teve acesso ao Alerta Epidemiológico nº.: 02/2023 — Intensificação das Ações de Vacinação contra Febre Amarela — com descrições sobre o caso e informando sobre a intensificação das ações de vacinação.

O documento traz que o primeiro caso trata-se de um paciente do sexo masculino, de 73 anos, residente na zona rural de Vargem Grande do Sul, com início de sintomas em 22 de dezembro de 2022, com relato de febre, dor abdominal, mal-estar geral e colúria.

Segundo consta, em 24 de dezembro, o paciente “relatou inapetência e aumento do volume abdominal”. Nos dois dias seguintes (25 e 26 de dezembro), foi atendido  na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) daquele município e, após apresentar piora do quadro clínico, acabou hospitalizado em 27 de dezembro, com icterícia e confusão mental. Posteriormente, teve alta hospitalar com cura clínica.

O alerta, assinado por Tatiana Lang D’Agostini, diretora-técnica do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do Estado de São Paulo, e Regiane A. Cardoso de Paula, coordenadora de Saúde da Coordenadoria de Controle de Doenças (CCD),  aponta: “Exames laboratoriais inespecíficos com alteração das enzimas hepáticas, Sorologia reagente e RT-PCR detectável para Febre Amarela”.

O texto ainda traz que o “paciente nega deslocamentos e não foi vacinado contra Febre Amarela”.

Conforme o documento, o Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE) de São João da Boa Vista possui municípios localizados na divisa do Estado de Minas Gerais, que detectou a ocorrência de Epizootias em PNH (Primatas não Humanos — macacos) confirmada e em investigação de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.

DE SUSPEITO A CONFIRMADO

Na quarta (25), interlocutores ligados à área da saúde, tanto na cidade quanto em São João, já haviam garantido a confirmação. Tanto é que, na noite de quarta (25), o prefeito Amarildo Duzi Moraes já havia publicado uma postagem no próprio perfil do Facebook tratando  como caso confirmado.

Postagem: prefeito de Vargem Grande do Sul já tinha tratado publicamente do caso registrado (Reprodução/Facebook)

Também antes, a reportagem teve acesso a uma mensagem de texto por aplicativo dando conta do alerta epidemiológico sobre febre amarela e que trazia algumas medidas a serem adotadas: “Neste momento é necessário: Intensificar a vigilância de epizootias de PNH (Primatas não Humanos — Macacos); Intensificar a vacinação de febre amarela em áreas de risco com cobertura vacinal baixa; Priorizar a zona rural; podemos ter recebido novos moradores não vacinados”.

Mesmo assim, a secretaria estadual tratava o caso como suspeito e havia informado que aguardava  resultado de exames. “Não há motivo para preocupação da população para um surto da doença. O caso suspeito está sendo monitorado pelo Centro de Vigilância Epidemiológica e pelo município, que realizam a investigação. […] Nós reforçamos a todos os moradores, não só da região, mas de todo o Estado, a importância de estar com todas as vacinas em dia. Então, você que está em dúvida se está imunizado ou não, procure um posto de saúde mais próximo da sua casa, leve sua carteirinha de vacinação, dos seus filhos e familiares, para que a caderneta possa ser atualizada e você se prevenir não só contra a Febre Amarela, mas contra outras diversas doenças que já existe vacina disponível no SUS”, disse Tatiana Lang D’Agostini, diretora-técnica do CVE do Estado de São Paulo.

A médica sanitarista Marta Salomão, uma das mais respeitadas profissionais de saúde pública do Estado de São Paulo, também tinha recebido o alerta epidemiológico via mensagem e já emitido  algumas considerações.

“A ocorrência de confirmação de caso de Febre Amarela na zona rural de Vargem Grande do Sul, em pessoa não vacinada, mostra a urgente necessidade de orientar a população da zona rural a tomar a vacina contra febre amarela, se ainda não for vacinado”, alertou a especialista, que já presidiu o Instituto Adolpho Lutz.

A especialista lembra que os sintomas mais comuns da doença são: febre, dores musculares, dor de cabeça, perda de apetite, icterícia, náuseas e vômitos, que são comuns a várias doenças. “O agravamento dos casos pode ocorrer com falência do fígado e dos rins, podendo levar à morte”, afirmou.

Salomão comenta que a febre amarela é transmitida por mosquitos Haemagogos e Sabethes, na zona rural. “O vírus circula em matas, e macacos podem ficar doentes e morrer. Assim, a Vigilância da febre amarela deve orientar os moradores e frequentadores de matas a notificarem quando encontrarem macacos mortos para que seja diagnosticado. Os macacos devem ser preservados, pois orientam a vigilância de febre amarela. Não são responsáveis pela doença”, terminou.

A reportagem do O MUNICIPIO continuará acompanhando o caso e trará outros desdobramentos na próxima semana.

CASOS SILVESTRES

Há anos que o Ministério da Saúde informa que não há registro confirmado de febre amarela urbana no País e explica que todos os casos registrados no Brasil desde 1942 são silvestres, ou seja, a doença foi transmitida por vetores que existem em ambientes de mata (mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes).

Sabethes albiprivus

“O que caracteriza a transmissão silvestre, além da espécie do mosquito envolvida, é que os mosquitos transmitem o vírus e também se infectam a partir de um hospedeiro silvestre, no caso o macaco”, pontuou o Ministério da Saúde em 2018.

O órgão esclarecera, na ocasião, que a probabilidade da transmissão urbana no Brasil é baixíssima por fatores como, por exemplo, todos os locais onde foram registrados casos humanos também terem ocorrido casos em macacos e o vírus não ter sido encontrado em mosquitos do gênero Aedes.

PORTAL DA SECRETARIA ESTADUAL

A reportagem acessou o portal da Secretaria de Estado da Saúde (SES), no campo do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) “Prof. Alexandre Vranjac”, para obter dados acerca da febre amarela. O último boletim epidemiológico com dados atualizados sobre a doença é datado de 18 de novembro de 2019.

PARA QUEM QUISER SABER MAIS

Ainda no campo da CVE no portal, consta uma publicação de 2018, contendo 184 páginas e intitulada “O combate à febre amarela no Estado de São Paulo — História, desafios e inovações”. Nela há uma curiosidade relacionada ao médico Adolpho Lutz, que dá nome ao instituto já presidido pela médica sanitarista Marta Salomão.

Médico Adolpho Lutz

A página 29 do capítulo 1 do conteúdo traz: “Como parte de um experimento realizado em dezembro de 1902 e janeiro de 1903 com o propósito de demonstrar a transmissão vetorial, [Emílio] Ribas e Adolpho Lutz, diretor do Instituto Bacteriológico de São Paulo, se deixaram picar por mosquitos que antes haviam sugado o sangue de pessoas com febre amarela. Não manifestaram sintomas, provavelmente porque o contato prévio com a doença lhes havia conferido imunidade contra o vírus, mas outros médicos que se deixaram picar e não haviam tido contato anterior com o vírus apresentaram sintomas de febre amarela”.

Para ter acesso ao conteúdo completo, basta acessar o portal da secretaria estadual.

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