Por Ignácio Garcia
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Assim como diversas sociedades médicas brasileiras e internacionais, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos têm destacado massivamente a importância da vacinação infantil contra a Covid-19, médicos especialistas sanjoanenses ouvidos pela reportagem também reforçaram o apelo aos pais para que levem os filhos para vacinar o quanto antes.
Médicos pediatras, Josiane Trafane e Roberto Tiraboschi foram unânimes em alertar os pais quanto à conscientização de que as vacinas disponíveis são seguras e eficazes e sobre a importância de imunizar as crianças rapidamente – haja vista que ainda há certa lentidão no início do processo.
“Não somente em São João, como em muitas cidades, a vacinação em crianças começou mais lenta. Mas tenho certeza que, no decorrer das próximas semanas, os pais começarão a levar seus filhos, tanto porque, nestas últimas três semanas, tivemos aumento brutal do número dos positivados, inclusive de crianças, e a orientação é que se espere 30 dias após a positivação para a Covid para se vacinar”, afirmou a médica Josiane.

A especialista ainda comenta acerca da dúvida e temor que cerca muitos pais. Mas acredita que, aos poucos, irão se conscientizar de que a vacina para os filhos é muito segura.
“O que falo para todos os pais que têm me procurado com essa dúvida: ‘Vacine seu filho ontem’! Ou seja, estamos há pelo menos quatro meses atrasados em iniciar esta vacinação em crianças. Nos EUA, mais de 8 milhões de doses já foram aplicadas em crianças, com a maior segurança. Portanto, não estamos falando de pesquisas, para os céticos, estamos falando de vida real”, argumentou.
Em São João, dados do Departamento Municipal de Saúde compilados até quinta-feira (27) mostram que mais de 1.700 crianças entre 5 e 11 anos foram vacinadas com a 1ª dose nesta primeira semana da vacinação infantil contra a Covid-19. “Consideramos um bom número, porém longe ainda do total de crianças nesta faixa etária no município, que é de 6.434. Esperamos que, na próxima semana, a procura pela vacina infantil continue por parte dos pais, já que é de extrema importância que estejamos todos vacinados e protegidos contra a doença”, informou a Pasta.
DOIS DESTAQUES RELEVANTES
A pediatra Josiane Trafane ressalta que, em primeiro lugar, que pelo menos 2.700 óbitos em indivíduos de 0 a 18 anos ocorreram no Brasil durante a pandemia. “Este número, quando pensamos nas milhões de crianças brasileiras, até parece pouco. Mas se considerarmos que doenças imunopreveníveis (como sarampo, meningite, poliomielite e outras), onde crianças recebem a vacina, e por isso ficam protegidas, praticamente não”, lembrou.
A médica vai mais além quando fala sobre os óbitos por tais doenças citadas e questiona: “Por que então não evitar mortes se temos vacinas seguras contra a Covid?”.
Um segundo aspecto levantado por ela: “sem falar em óbitos, falando em sequelas pós-Covid, temos a Covid longa, a síndrome inflamatória multissistêmica (esta sim causando miocardites e pericardites em crianças pós-infecção “benigna” por Covid), temos o auto índice de obesidade, de suicídio em adolescentes, de depressão, tudo isso devido à falta de convívio social, ao luto pela perda de entes queridos, analfabetismo pelo tempo fora das escolas, falta de atividade física etc. Enfim, resumo que teremos sérios problemas pelos próximos 10 anos ou mais”, alertou.
E recentemente com a explosão de casos da variante ômicrom e o aumento da taxa Rt (de transmissão), Josiane relata que, “na condição de profissional de saúde, não consigo atinar ter uma vacina segura e não vacinar. Não sou eu indicando a vacina: é a OMS [Organização Mundial da Saúde], o CDC [Centro de Controle de Doenças], as sociedades médicas brasileiras e estrangeiras, a Sociedade Brasileira de Imunizações, enfim, quando eu indico a vacina, é pautada naquilo que a ciência diz. Fico pensando naqueles profissionais de saúde que têm a coragem de ir em rede social falar mal de vacina e bagunçando a cabeça dos pais. Onde estão buscando estas informações? É muita manipulação de dados, pois a maioria desconhece os dados estatísticos, ou os manipula de acordo como lhe convém”. E, na condição de mãe, Josiane diz: “agradeço todos os dias por ter vacinado minhas duas filhas e rezo pelos pais das 2.700 vidas de crianças que se foram devido a esse vírus”.

ALERTA
Josiane Trafane comenta que a intenção dela é alertar os pais que estão indecisos e os entende, pois recebem diariamente nas redes sociais informações das mais diversas e contraditórias.
“Peço que se lembrem de que a vacina está conosco desde o século XVIII e muitas vezes ela foi questionada, mas sempre no final foi ovacionada e se mostrou o melhor caminho para prevenção de doenças”, disse.
Lembra , ainda, que a mortalidade infantil teve uma diminuição importante e a vacina é uma das corresponsáveis por isso. “Não se deixem influenciar por fatores políticos ou qualquer outro e, se seu médico, seu fisioterapeuta, sua amiga enfermeira ou farmacêutica disser pra você que não vai vacinar o próprio filho, lembre-se que o fato de ser profissional de saúde não exime um cidadão de ter defeitos, de errar, ou de ter um pensamento diferente. Temos um poder acima de todos nós que é o conhecimento, e um fruto de extrema importância nesta busca pela prevenção e combate a doenças: é sem duvida a vacina”, enfatizou.
Na mesma linha de Josiane, o também pediatra Roberto Tiraboschi, com anos de experiência em imunização, fala sobre as complicações mais graves da Covid-19 que podem acometer os não vacinados, especificamente as crianças.
“A Covid-19, pode sim, produzir complicações graves em crianças não vacinadas. Além das milhares de hospitalizações e centenas de mortes (de acordo com os dados oficiais fornecidos pelo Ministério da Saúde nos seus Boletins Epidemiológicos), temos a doença Covid-19 de longa duração e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), todas elas de potencial gravidade nesse grupo etário”, alertou.
VACINAS APROVADAS PARA CRIANÇAS
Tiraboschi relembra que, no momento, existem duas vacinas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso em crianças; e a principal diferença entre as duas está na composição.
Segundo explica, a vacina Pfizer infantil tem como mecanismo uma nova tecnologia. “O imunizante utiliza o RNA mensageiro sintético (1/3 da dose da vacina Pfizer adulto), que auxilia o organismo humano a gerar anticorpos contra o coronavírus. Ela é indicada para crianças de 5 a 12 anos de idade e pode ser aplicada em crianças imunodeprimidas”, afirmou.
Já a vacina CoronaVac, o pediatra comenta que o imunizante tem como princípio ativo 0,5 ml do antígeno do vírus inativado Sars-CoV-2 (mesma formulação da vacina adulto). “Ela é indicada para crianças e adolescentes de 6 a 17 anos de idade. Não está autorizada a aplicação em imunodeprimidos”, completou.
Por fim, o especialista orienta que, para agilizar a vacinação da criança, é aconselhável efetuar o cadastramento no #Vacinaja, lembrando que os pais e/ou responsáveis pela criança devem sempre ter em mãos documentos de identificação.
“Finalizando, gostaria de sugerir aos pais/responsáveis para analisarem com bastante cuidado as informações veiculadas nos diversos meios de comunicação a respeito de vacinas em crianças. Vacina salva vidas!”, concluiu Tiraboschi.
Orientações a favor da vacinação contra a Covid-19 em crianças
a) A segurança da vacina indicada para crianças de 0 a 12 anos de idade, além de aprovada por diversas Agências Reguladoras de vários países, inclusive pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), também já conta com milhões de doses aplicadas em outros países (ex. Estados Unidos), com resultados de segurança muito satisfatórios;
b) A vacina da Pfizer, aprovada no Brasil para crianças, é um produto específico e com dose adequada para a faixa etária de 5 a 12 anos de idade;
c) A Covid-19 pode desenvolver formas graves da doença em crianças não vacinadas, conforme informes do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos;
d) Proteção Individual: “o acesso da criança à vacina contra a Covid-19 é um direto que deve ser assegurado, o qual conta com a maioria dos brasileiros, conforme expresso em consulta pública realizada sobre o tema pelo Ministério da Saúde”. (Sociedade Brasileira de Pediatria – SPB);
e) Proteção coletiva: quanto maior o número de pessoas vacinadas na população, menor a circulação do vírus e, assim, melhor controle da pandemia;
f) Retorno seguro da educação infantil, possibilitando a frequência às aulas presenciais com maior segurança.