A palavra ‘Carnaval’ tem origem no latim clássico ‘carnem leváre’, que significa abstenção de carne e foi o papa Gregório Magno (590 – 604) quem teria dado ao último domingo antes da Quaresma o título de “Dominica ad carnes levandas”, que teria gerado a palavra ‘carneval’ ou ‘carnaval’. Nas origens pagãs que remontam o século VI a. C., gregos e romanos costumavam fazer cortejos com uma nave dedicada ao deus Dionísio (ou Baco), festa que em latim chamavam ‘Carrus Navalis’ (Nave Carruagem).
Na Grécia, há pinturas em vasos com figuras mascaradas, desfilando em procissão ao som de música em honra ao deus Dionísio, com fantasias e alegorias. Eram festas pagãs e mitológicas, onde se queriam, com esses ritos, expiar faltas cometidas no inverno do ano anterior e pedir aos deuses a fecundidade da terra e a prosperidade para a primavera e o Ano Novo.
“Quando o Cristianismo surgiu, já encontrou esses costumes pagãos e como o Evangelho não é contra as demonstrações de alegria, desde que não se tornem pecaminosas, ao invés de se opor ao Carnaval, procurou-se cristianizá-lo, no sentido de depurá-lo das práticas supersticiosas e mitológicas”, comentou o padre Alex Fernando Carossi, responsável pela Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Águas da Prata.
Mas diante disso, como o cristão pode participar do carnaval? Para responder esta questão, o pároco relata que é importante meditar sobre a eutropelia, uma virtude comentada por São Tomás de Aquino, São Felipe Neri, São Francisco de Sales e São João Bosco. “Dante Alighieri em ‘O Convívio’, definiu a eutropelia como a décima virtude do cristão. Esta palavra antiga, esquecida, vinda do grego e que significa alegria, brincadeira e bom humor é uma virtude importante. Chesterton dizia que a razão pela qual os anjos voam é que eles levam as coisas com leveza”, explicou.
RETIRO QUARESMAL
Após os festejos do Carnaval, inicia-se a Quaresma, período do ano litúrgico que antecede a Páscoa cristã. “Depois dos dias de folia, se retiram as máscaras e o agito dá lugar à calmaria, o barulho dá lugar ao silêncio e vem o grande tempo da Quaresma, tempo reservado para uma meditação mais profunda sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Igreja nos indica um caminho de quarenta dias de retiro espiritual”, destacou o pároco.
Durante este período, a Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes estará a cada dia propondo um tema a ser meditado pelos fieis. “Missas e exercícios espirituais nos ajudarão a viver o retiro quaresmal”, disse.
A programação especial terá o seguinte cronograma: missa e as orações de Encomendação de Almas às segundas-feiras; missa e meditação das Sete Dores de Maria às terças-feiras; missa e oração ao Senhor dos Passos às quartas-feiras; missa e meditação das Cinco Chagas de Nosso Senhor às quintas-feiras; missa e Via-Sacra às sextas-feiras. Já os sábados e domingos serão reservados à meditação e reflexão dos Evangelhos Quaresmais.
E no quinto domingo da Quaresma acontece a celebração da comovente e piedosa Festa de Passos, antiquíssima tradição da Igreja que conta com três grandes sermões: o Sermão do Pretório, o Sermão do Encontro e o Sermão da Cruz.
ORAÇÃO, JEJUM E PENITÊNCIA
De acordo com Carossi, a oração, o jejum e a penitência são de grande importância neste período de retiro quaresmal. “A oração vem ser a nossa arma, pois com ela colocamos nossos anseios nas mãos do Divino Pai e é exatamente isso que Cristo espera de nós”, afirmou, citando ainda um trecho do livro de Joel, que compõe o Velho Testamento. “Convertei-vos a mim de todo o coração, com jejum, lágrimas e gemidos de luto. Rasgai os vossos corações”, mencionou o padre.
“O jejum e a penitência vêm para nos auxiliar, conforme escreve São Francisco de Sales: ‘Fortifica o teu espírito, mortificando a carne e a sua sensualidade, eleva a Alma a Deus, abate a concupiscência, dando forças para vencer e amortecer suas paixões e prepare o coração para que não procure outra coisa senão agradar a Deus em tudo’”, complementa.
“Talvez tenhamos a tentação de não viver ou de abandonar nosso retiro quaresmal, mas é preciso ter olhos fixos no prêmio que nos espera ao fim desse retiro. Que possamos dizer como São Paulo: ‘Os atletas se abstêm de tudo; eles, para ganharem uma coroa perecível; nós, porém, para ganharmos uma coroa imperecível’”, finalizou o pároco.
TRAJETÓRIA
Natural de Vargem Grande do Sul, padre Alex Fernando Carossi realizou seus estudos de Filosofia e Teologia no Instituto Coração de Maria, em São João da Boa Vista. Formado em Pedagogia pela Unopar, ele foi ordenado sacerdote em 26 de abril de 2002, vindo a atuar como pároco por mais de nove anos na Paróquia Santo Antônio, em Santo Antônio do Jardim.
Em 2011 veio para São João da Boa Vista, permanecendo na Paróquia Senhor Bom Jesus até 2017. Durante este período foi nomeado capelão da Capela de Nossa Senhora de Lourdes, da Santa Casa de Misericórdia Dona Carolina Malheiros. Em 26 de novembro de 2017, ele foi nomeado pároco da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, de Águas da Prata, pelo bispo diocesano Dom Antônio Emídio Vilar.
