Circolo Italiano di Andradas lança site sobre imigração

Na quinta-feira (21), data em que foi comemorado o Dia Nacional do Imigrante Italiano no Brasil, aconteceu o lançamento do site institucional do Circolo Italiano di Andradas (MG), que traz a História da Imigração Italiana na cidade. O evento ocorreu na Assea (Associação dos Engenheiros e Agrônomos de Andradas), localizada à rua Eduardo Amaral, nº.: 800, na cidade mineira.

A programação incluiu discursos das autoridades municipais, palestras e a entrega ao público do site institucional, feito com duas finalidades principais: contar a História da Imigração Italiana no município e ser um acervo histórico digital a respeito, contendo documentação e informações sobre o tema.

A mídia contém, ainda, entrevistas gravadas em áudios e vídeos, dados e documentos digitalizados, que são fruto da contribuição não só das famílias de descendentes de italianos de Andradas, mas também de alguns outros municípios, em especial de São João da Boa Vista.

“A grande maioria dos imigrantes italianos que foi para Andradas saiu de suas fazendas em São João entre o final do século 19 e começo do século 20. Uma entrevista feita com Ricardo Sasseron, em 2003, um dos descendentes que se afixou em Andradas, ilustra um pouco a relação de muitas famílias italianas de Andradas com o município de São João da Boa Vista”, disse o pesquisador Carlos Eduardo Rovaron, doutorando em História Econômica  pela USP (Universidade de São Paulo) e que terá no site um ensaio produzido por ele.

De acordo com Rovaron, no site é possível encontrar tal entrevista concedida por Sasseron – filho de imigrantes italianos radicado em Andradas – e que traz alguns relatos sobre a história dele, desde o nascimento, em 22 de março de 1917, na antiga Vila Caracol, hoje Andradas. A entrevista, comenta o historiador, mantém na íntegra a característica da linguagem do entrevistado, típica da região.

“(…) Minha família veio da Itália; meu pai veio em 1893. Ele veio trabalhá na lavoura de café. Veio sortero. A minha mãe veio um pouco depois. Foi morá na mema fazenda, Fazenda do Refúgio, fazenda do Ernesto de Oliveira, no município de São João da Boa Vista. Lá, eles se casaro, tiverooito filho. Em 1.910 o meu pai veio morá aqui em Andradas procurano terra aqui, veio morá aqui, onde é minha até hoje essa terra”, contou.

Perguntado pelo pesquisador se acreditava que a imigração teve a ver com a região hoje ser de pequenas propriedades e sítios, Ricardo Sasseron respondeu: “Tem, tem muito! Aqui, principalmente aqui em Andradas, mas em São João da Boa Vista tamem. Porque os colono que saía das fazenda, que não foi só no Refúgio que veio colono italiano, em outras: Pratinha, Retiro, Paradô e muitas fazenda, e… As principal era essas, porque, então eles viero, de perto que, ficaram sitiantes em São João da Boa Vista, em Santo Antônio do Jardim, aqui em Andradas, em Ibitiura, tudo italiano que foi comprando os pedacinho de terra, fazendo uma chacrinha, e por ali foro aumentano, trabalhano com a família e aumentano a propriedade”, relatou, completando de quem as famílias italianas compravam: “Geralmente de fazendero.”

De acordo com o pesquisador Rovaron, tanto esta entrevista, como muitas das outras coletadas pelo CircoloItalainodi Andradas, em 2018, estão repletas de referências a São João e suas fazendas de café.

“Esta ligação da História de Andradas com a de São João conduziu-nos até o acervo pessoal de documentos do Dr. Joaquim Cândido de Oliveira Neto, por ser um dos descendentes do coronel Ernesto de Oliveira, citado na entrevista de Sasseron”, afirmou.

À reportagem do O MUNICIPIO, o historiador recordou que, para surpresa dele, o acervo documental de Dr. Joaquim contém cartas que comprovaram sua suspeita: a de que havia uma estreita relação da família Oliveira de São João da Boa Vista com Martinho da Silva Prado Junior, importante personagem histórico e membro de poderosa e tradicional família de São Paulo, que viveu entre o final do Império e começo da República.

Conforme Rovaron, Martinho, juntamente com o irmão Antônio, esteve por trás de iniciativas para o fim da escravidão, para a construção de ferrovias e de políticas promotoras da imigração europeia no Brasil.

“Foi ele e seu amigo sanjoanense Joaquim José de Oliveira, ancestral do Dr. Joaquim, os responsáveis pela extensão de um ramal da Ferrovia Mogiana, desde o Povoado de Cascavel, atual Aguaí (SP), até Poços de Caldas (MG), passando por São João. E certamente também foi ele o responsável pelo intenso fluxo de imigrantes que adentrou São João da Boa Vista e transbordou para outras localidades, dentre as quais Andradas, no lado mineiro da divisa dessa zona de fronteira”, revelou.

DIGITALIZAÇÃO

A digitalização dessa documentação inédita, importante para a história regional, tanto de Andradas e Poços de Caldas, como de São João, estará disponível no site, além de contribuições de pessoas também de Águas da Prata, como Clineida Junqueira, proprietária e moradora da Fazenda Santa Maria, propriedade também receptora de imigrantes italianos que foram para Andradas. “Como o Dr. Joaquim, ela nos forneceu preciosa documentação sobre o assunto”, finalizou.

Por Ignácio Garcia.

Veja mais fotos da noite do lançamento do site: