Carta a Paulo Freire

A lição sabemos
de cor,
Só nos resta
aprender.
Paulo Guedes, músico.

Caro Paulo:

A música que essa epígrafe contempla é de autoria de Beto Guedes e anuncia a chegada de setembro, um tempo em que se abrem as flores e brota o perdão. Setembro chegou neste 2021 com muitas situações a serem vividas no chão da escola. Quero lhe falar sobre as adaptações por que alunos, professores e o próprio ensino estão passando desde março do ano passado, de 2020. Confesso que não tem sido fácil!

A mudança está em processo, sempre estará, e neste aspecto temos lembrado muito de seus diálogos com as classes mais vulneráveis e desprotegidas. Nunca foi tão importante uma prática pedagógica para a liberdade. Se a educação pode mudar o mundo, emancipando os educandos, necessário se torna que a nossa atitude como professores neste período de crise seja no sentido de que nossos alunos possam viver essa emancipação para além da escola.

Aprendemos com você que educar nos pede alegria e esperança… aquela do verbo esperançar. Tão necessário quanto trazer o contexto social para a escola foi caminhar lado a lado com a cultura de nossos alunos para que a integração com o seu cotidiano seja efetiva. Não só a escola mudou e revestiu-se de esperança, como também estimulou a busca incessante de nossa reinvenção.

A escrita (nos dedicamos há um longo tempo a isto na escola) deve ser vinculada à realidade do aluno a fim de que não se torne um ato mecânico. Em sua obra intitulada Pedagogia da autonomia você, Paulo, nos provoca a esperança e a alegria, mas sem desprezar o caráter político-pedagógico de nossa ação docente.

Leio porque escrevo ou escrevo porque leio? Esta é uma questão axiológica que ganha vigor na beleza da expressão daquilo que reflito. Nos últimos tempos, a ciência nos mostrou a potencialidade dos estudos para o seu avanço. Terá também mostrado a educação como uma das mais importantes ferramentas que nos levarão à transformação, quiçá a mais importante?

Frase sua que atravessou fronteiras: “Ninguém sabe tudo, assim como ninguém ignora tudo. O saber começa com a consciência do saber pouco. É sabendo que sabe pouco que uma pessoa se prepara para saber mais”.

Aprendemos com você que “o diálogo é uma espécie de postura necessária, na medida em que os seres humanos se transformam cada vez mais em seres criticamente comunicativos. O diálogo é o momento em que os seres humanos se encontram para refletir sobre a sua realidade tal como a fazem e a refazem”.

Seus textos servem para trabalhar numa perspectiva generosa em relação ao ser humano e à sociedade. Sua luta sempre foi para que os avanços pedagógicos dos movimentos progressistas alcançassem a educação dos trabalhadores.

Aprendemos com você sobre a necessidade de ampliar o número de escolas em tempo integral, remunerando bem os professores, tendo direção competente e bons currículos.

Estimado Paulo: a pandemia e a quarentena atuais revelam a possibilidade de outras alternativas, as sociedades se adaptando a novos modos de viver quando necessários para o bem comum. Influenciados por suas lições de vida, vemos que precisamos pensar em alternativas ao modo de viver e de conviver nestes tempos desafiadores do século XXI. Que bom ter aprendido tanto com sua obra enriquecedora e com sua vida exemplar!

Warlen Fernandes Soares é pedagoga é especialista em Psicopedagogia (PUC-Campinas) e em Educação Especial (Unisal), mestre em Educação (PUC-Campinas) e professora na rede municipal de ensino de Campinas.

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