Violar toque de recolher dará multa de até R$ 5.000

Medida mais rígida contra a Covid já adotada em São João valerá a partir de quinta-feira (25), das 20h às 5h, durante 15 dias (Reprodução/Aldeia Criativa)

Com total de 69 mortes registradas desde o começo da pandemia da Covid-19, sendo as seis mais recentes confirmadas na tarde desta terça-feira (23), bem como a disparada de contágios pela doença em São João da Boa Vista pouco menos de completar os primeiros dois meses de 2021, a Prefeitura enrijeceu o combate ao novo coronavírus e decretou toque de recolher a partir de quinta-feira (25) até 11 de março, nos horários das 20h às 5h.

Em comum acordo com a Comissão Covid, Departamento Municipal de Saúde e seus setores de Vigilância Epidemiológica e Sanitária, e anuência do Ministério Público local, a administração municipal determinou que todas as atividades produtivas da cidade encerrarão as atividades às 19h e ficarão interrompidas até as 5h do dia seguinte. Poderão funcionar apenas hospitais públicos e privados, serviços de saúde de urgência e emergência, farmácias, serviços industrias e funerários, além de postos de combustíveis – estes apenas para atendimento de veículos oficiais e funerários.

De acordo com o Executivo, a fiscalização da Vigilância Sanitária continuará reforçada pela Polícia Militar. O cidadão que for abordado circulando pelas ruas – a pé ou de carro – poderá ser abordado e deverá apresentar documento que comprove o motivo do deslocamento.

Em caso de descumprimento do toque de recolher, pessoas físicas que não comprovarem o motivo do deslocamento poderão ser multadas em R$ 120. Já as pessoas jurídicas (PJ) que não seguirem decreto e fizerem uso de bebidas alcoólicas serão multadas em R$ 500. Ainda ficou imposta a multa de R$ 5.000 para a PJ que descumprir o decreto e, em caso de reincidência, além da nova autuação, terá o alvará de funcionamento cassado pela Prefeitura.

O transporte público também será afetado e os ônibus também não irão circular após às 20h. Quando aos ônibus intermunicipais, o passageiro que for abordado, seja na chegada ou saída da cidade no intervalo do toque de recolher, deverá apresentar o bilhete de passagem.

Já os demais setores do comércio – supermercados, bares, lojas de conveniência e restaurantes – deverão encerrar as atividades às 19h e a circulação de pessoas do trabalho para a casa deverá acontecer no intervalo de uma hora – até as 20h. Restaurantes e similares somente poderão atuar em regime de delivery (entrega) de alimentos entre 20h e 22h. A venda de bebidas alcoólicas está proibida, inclusive neste serviço.

“Restaurantes e empresas de delivery deverão se preparar e identificar seus funcionários”, afirmou o diretor de Saúde, Fernando Carlos Delatti, em entrevista coletiva virtual realizada na manhã desta terça-feira (23), com a presença da prefeita Maria Teresinha de Jesus Pedrosa (DEM), o vice Roberto Campos (REDE); Ludimila Barros Zan, a assessora de Saúde; e a diretora de Educação, Eloísa Helena Rodrigues Matielo Ribeiro. O Decreto nº.: 6.725/2021 foi elaborado nesta terça (23) e entra em vigor a partir de quinta (25).

Fernando Delatti: médico e diretor de Saúde, ele defendeu o toque de recolher durante coletiva (Reprodução)

MEDIDA
O toque de recolher foi decidido na tarde de segunda (22), após representantes da administração municipal, juntamente com membros da Comissão Covid, MP e de entidades ligadas ao comércio, se reunirem com a prefeita Teresinha para definirem os rumos da crise sanitária que se intensificou na cidade, que tem registrado aumento expressivo de casos, internações e mortes pela Covid-19. Atualmente, a taxa de transmissão (Rt) em São João, segundo a Vigilância Epidemiológica, está em 3, o que significa que uma pessoa pode infectar outras três.

Na segunda-feira, as alas de enfermaria e a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) exclusivas para a Covid na Santa Casa Dona Carolina Malheiros atingiram seu limite de 100% de ocupação, em ambas.

Segundo Delatti, os dez leitos de UTI Covid estão constantemente ocupados e esgotados. A Enfermaria Covid, que antes contava com dez leitos, passou a ter 12 e agora teve a autorização para a abertura de outros oito novos leitos – totalizando 20.

“Esses oito leitos a mais custam ao município, até junho deste ano, a quantia de quase R$ 3 milhões. Estes orçamentos estão totalmente limitados. E talvez os 20 leitos não sejam suficientes. Se houver necessidade de leito de UTI e não tiver, será encaminhado [o paciente] para a regional. Estamos próximos a isso”, reforçou o titular de Saúde.

Ele também pontuou que os números são alarmantes, com aumento diário no número de infectados, as complicações decorrentes dessa infecção e os recursos municipais sendo utilizados cada vez mais para combater o problema.

“A Prefeitura vem financiando praticamente todos os trabalhos da Santa Casa, a presença do Estado, a Secretaria [Estadual] de Saúde, o Ministério da Saúde, têm sido muito tímidos nesse momento. Não acredito que seja por má fé ou incompetência. Mas acho que essas estruturas estão se armando para socorrer os municípios que estão atingindo o seu limite. E é o caso de São João da Boa Vista”, disse.

Ainda de acordo com o diretor, a prefeitura dobrou o número de plantonistas no Centro Covid, onde havia atendimento médio diário de 40 a 50 pacientes. “Hoje atendemos 120. Então, o desdobramento desse aumento implica em mais leitos de enfermaria e de UTI.”

Delatti ressalta que o aumento “exagerado” do número de infectados, o prolongamento desses doentes nos leitos de UTI, muito mais longos do que a primeira fase, e a rapidez com que esses fatores vêm se agravando, impõe ao Poder Público atitudes mais restritivas.

“As atitudes administrativas de combate à doença, os municípios estão realizando na medida do que podem. A inserção de São João numa política regional de saúde, como aquela que é organizada pela Diretoria Regional de Saúde, a DRS [14], vem contando neste momento um risco de esgotamento. Nós temos em nossa região, na qual São João se insere, praticamente 86 a 90 leitos de UTI. Quando uma cidade tem seus leitos ocupados, ela se socorre através do sistema Cros do SUS, dos municípios que têm leitos em disposição. São João recebeu vários doentes de outras cidades e hoje, infelizmente, recorre a essas outras cidades para dar vazão aos seus doentes que necessitam de um leito de UTI, porque nossos dez leitos na Santa Casa, e sempre em praticamente 90% no Hospital Unimed, estão lotados. Diante disso, temos que seguir medidas restritivas”, afirmou.

E o diretor entende que o toque de recolher vem ‘atacar’ diretamente aqueles grupos mais resistentes a evitar as aglomerações. “Temos muitos grupos de jovens na cidade e essas aglomerações são naturais da juventude. Então, nós temos aglomerações que favorecem em demasia a proliferação. E dentro dessa nova perspectiva de uma infectividade aumentada por uma possível alteração estrutural do vírus (leia mais abaixo), esse perigo se multiplica por dez. Não pretendemos, neste momento, penalizar outras estruturas do município – o comércio e as atividades comerciais […]. Então, acreditamos que o toque de recolher seja não somente efetivo, mas mais justo com as outras unidades produtivas do município”, disse.

Consórcio aponta crescimento na média de casos da Covid-19

Segundo dados do SP-Covid-19 Info Tracker, mantido pela Unesp, USP e Fapesp e atualizados na segunda (22), às 23h20, São João possui 5.561 casos suspeitos, sendo 483 casos ativos, uma média de 3.634 casos por 1.000 habitantes – crescimento de 5,14% em relação aos últimos sete dias.

Pelos dados da Prefeitura, atualizados nesta terça (23), a cidade tem 3.388 casos positivos confirmados desde março de 2020. Há 6.350 casos suspeitos, 3.204 recuperados e 2.226 negativos.

São João: com dados referentes a 16 a 22 de fevereiro, região aparece em 2º ligar no Estado (Reprodução/SP-Covid-19 Info Tracker)

SITUAÇÃO GRAVE
Com 120% de ocupação em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e de 75% em enfermarias, a Santa Casa Dona Carolina Malheiros está em situação complicada. Além da superlotação de leitos, a capacidade de produção da usina de oxigênio do hospital atingiu seu limite e, no mercado, o gás se torna cada dia mais difícil de ser encontrado – não por falta dinheiro ou logística, mas por conta da grande demanda. Já no Hospital e Maternidade Unimed, a taxa de ocupação é de 80% na enfermaria e 50% na UTI.

O MUNICIPIO ouviu, sob caráter de anonimato, médicos da Santa Casa, que se disseram alarmados com a situação, que exige a adoção de medidas mais firmes. Esses profissionais também indicaram que recentes estudos têm apontado que 25% dos pacientes intubados por Covid morrem por sequelas após alta hospitalar. Além disso, resultados preliminares de estudo realizado pelo HCor (Hospital do Coração) e Coalizão Covid-19 Brasil mostram que a taxa de reinternações também é alta.

AGLOMERAÇÕES
Mesmo diante desse cenário, as aglomerações continuam. O MUNICIPIO recebeu denúncias de que alguns espaços de eventos em São João e buffets estão realizando casamentos, sem autorização do Comitê Municipal do Covid-19 – que tem indeferido as solicitações devido às aglomerações.

Um desses eventos – promovidos sem autorização – ocorreu no último final de semana e reuniu cerca de 200 pessoas.

Eventos como esse são potenciais disseminadores de vírus, uma vez que reúnem, além dos participantes, trabalhadores como seguranças, maquiadores, fotógrafos etc. Ainda segundo apuração do O MUNICIPIO, muitos desses profissionais envolvidos nessas festas não autorizadas, estavam ligados à realização de carreatas e abaixo-assinados contra o fechamento do comércio no ano passado e em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Em meio a um cenário de crise na saúde, parece contrassenso a realização de eventos desse tipo.

Mas, mesmo assim, alguns bares insistem na realização de shows com música ao vivo, reunindo grande público, além da capacidade permitida – situação que tem circulado através de vídeos e fotos em aplicativos de mensagem instantânea e redes sociais.
Também os logradouros públicos, especialmente a Praça Cel. Joaquim José, continuam reunindo público de jovens, que buscam o local para socializar.

Sanitarista fala sobre medidas, aglomerações e iminência de novas cepas

A médica sanitarista Marta Salomão, ex-presidente do Instituto Adolfo Lutz e uma das mais respeitadas profissionais de saúde pública do Estado de São Paulo, reforçou que as medidas de restrição mais duras são importantes, desde que haja efetividade na fiscalização contra aglomerações que continuam ocorrendo, e que se persista no cumprimento dos protocolos de prevenção.

“Entendo ser importante que a prefeita insista com a população sobre a importância do distanciamento social, do uso de máscaras e dos cuidados na lavagem das mãos e do uso de álcool gel. Caso nossa população não assuma os cuidados necessários, teremos mais casos, mais mortes e maiores reflexos na economia de nosso município”, alertou.

De janeiro até esta terça (23), foram contabilizadas 34 mortes por Covid-19 em São João. De março a dezembro de 2020, eram 35 o número de óbitos na cidade. Agora, a cidade soma 69, sendo 65 pelo novo coronavírus e quatro por outras causas, mas com a presença da doença.

Perguntada se acredita que uma nova cepa do Sars-CoV-2 pode já estar circulando no município, levando-se em conta o aumento de casos e mortes, ela respondeu: “Para saber se a nova cepa circula em São João, seria necessário encaminhar amostras para o IAL [Instituto Adolfo Lutz] para sequenciamento, caso o município ainda não tenha enviado. Mas, a cepa de Manaus ou a inglesa podem sim estar aqui. E se estiverem, seria importante que pudéssemos saber para aumentar o controle da transmissão”, antecipou.

Acerca desta possibilidade da circulação de novas cepas em São João, o diretor de Saúde Fernando Delatti afirmou que “esses resultados já foram enviados para o Instituto Adolfo Lutz para que ele nos autorize no estudo disso e possamos ter uma resposta”.

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