Chile ‘funciona’ em meio à sua pior crise social

Manifestação: passeatas pacíficas são realizadas na avenida Libertador Bernardo O’Higgins, na capital chilena (Pedro Souza/O MUNICIPIO)

Franco Junior e Pedro Souza
De Santiago

Há 48 dias, completados nesta quarta-feira (4), teve início no Chile uma série de protestos contra o governo do presidente Sebastián Piñera, explodindo, assim, a pior crise social vivida pelo país em três décadas.

Tudo começou pelo aumento das tarifas do metrô e uma cadeia de reivindicações visando mais benefícios à população. Desde então, nada funciona em sua totalidade por lá, fazendo com que até mesmo turistas tenham dificuldades para se locomover e conhecer diversos pontos das cidades chilenas.

O grande conflito, atualmente, após os terem acatadas a maioria dos pedidos e conseguirem que o governo faça uma nova constituição, é em relação ao abuso de força policial nas manifestações, o que já resultou em mortes e perda de visão de civis.

Diariamente ocorrem protestos nos municípios chilenos, principalmente na capital Santiago, onde linhas de metrô são fechadas por manifestantes e passeatas – pacíficas em sua maioria – ocorrem pelas avenidas mais importantes da cidade.

A reportagem do O MUNICIPIO esteve na capital chilena, na última semana, e traz ao leitor o relato do que foi visto em meio à crise no país, que atrai milhões de turistas brasileiros anualmente.

Revolta: pichações, como no acesso à estação Plaza de Armas, fazem parte do cenário (Pedro Souza/O MUNICIPIO)

DA PACIFICIDADE AO MEDO
Em meio a uma manhã tranquila na capital chilena na avenida Libertador Bernardo O’Higgins, onde está localizado o centro histórico de Santiago, em que turistas se deslocam para conhecerem prédios como La Moneda, passeatas são realizadas com frequência, o que fez com que não exista acesso para que se possa, ao menos, tirar uma foto em frente ao prédio. As ruas adjacentes ao imóvel estão fechadas e não há como chegar nem mesmo perto do local.

Os problemas de transporte também são evidentes: estações como Santa Lucía, Universidade Católica e La Moneda, por exemplo, que dão acesso aos principais pontos turísticos da avenida, são fechadas em diversos momentos do dia, impossibilitando a vida de chilenos que precisam se locomover para trabalhar e de turistas que buscam apenas passar bons momentos na cidade.

De um instante de passeata pacífica, o cenário logo muda com a simples passagem de um carro de polícia. A revolta contra os pacos, como os policiais são ‘apelidados’ no Chile, é grande, o que faz com que, imediatamente ao avistar uma viatura, assovios de alerta sejam proferidos pelos manifestantes e a pacificidade se transforme em caos.

Infiltrados nas manifestações, que reúnem famílias, idosos, crianças e estudantes por exemplo, existem os baderneiros – sempre com o rosto coberto para evitar respirar gás de pimenta – que querem entrar em conflito com os pacos e arremessam pedras e garrafas na direção dos carros e caminhões policiais.

Desta forma, quem está por perto é obrigado a correr caso não queira ser atingido e se transformar em vítima, seja por conta do que é arremessado ou por ser confundido com um manifestante pela polícia. Gás de pimenta logo é disparado pelos policiais, o que torna insuportável o simples caminhar. E como as estações de metrô nas proximidades da manifestação ficam fechadas, o único jeito é correr e encontrar uma rua mais calma para pedir um táxi e ir para outra região da cidade. O que se torna complicado, pois muitos usuários usam a mesma estratégia, demorando mais o encontro de um motorista disponível.

O ponto de conflito mais comum entre pacos e desordeiros em meio às manifestações é na ligação das avenidas Libertador Bernardo O’Higgins e Providencia, onde está localizada a estação Baquedano, principal ponto de metrô de Santiago (algo como a Sé, em São Paulo).

Pacos: apelido dado aos policiais chilenos, alvos de manifestantes nos protestos (Pedro Souza/O MUNICIPIO)

ONDE IR?
Com a instabilidade do centro histórico, o refúgio para quem está de passagem pela capital chilena é o bairro Providencia, chamado de centro turístico.

Por lá, diversos bares – entre eles El Subterraneo -, pontos comerciais e o famoso Sky Costanera – maior prédio da América Latina, com 300 metros de altura e 64 andares, em que há um shopping e também é possível ver Santiago do ponto mais alto do imóvel -, por exemplo, estão localizados.

Nesta região, os sinais de que algo está instável no país só é percebido por diversas pichações (em quase todos os estabelecimentos), por vidros quebrados em variados prédios e pelos alertas, com assovios, quando uma viatura policial é vista.

É possível ‘curtir’ a viagem a Santiago, atualmente, ficando apenas no bairro Providencia, mesmo com o caos que atravessa o Chile. Nas próximas matérias, O MUNICIPIO trará outras opções do que pode ser feito para fugir das manifestações nas também cidades turísticas de Val Paraíso e Vinã del Mar, além da opção para visitantes quando não há neve: Cajón del Maipo.

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