Médico diz que regionalização não causa prejuízo à Santa Casa

A crise na Santa Casa de São João da Boa Vista continua sendo um dos assuntos mais debatidos entre as autoridades dos municípios e preocupa os cidadãos.00

Porém, as justificativas para a enorme dívida, que ultrapassa os R$ 40 milhões, são diversas.
A regionalização é um dos apontamentos e alguns defendem que ela é a responsável pela crise do hospital.

Mas, essa não é a opinião do diretor do DRS 14 (Departamento Regional de Saúde), o médico Benedito Westin. Ao O MUNICIPIO, o diretor afirma que a verba recebida para atendimento da média e alta complexidade e pelo atendimento regional é suficiente e, muitas vezes, até sobra, como demostraram, segundo ele, os levantamentos feitos pelo Conselho Gestor em 2013 e 2016.

Westin revela que a Santa Casa perde cerca R$ 1 milhão e 200 mil de sua receita SUS por mês se suspender essas ações, as quais são previstas em números de procedimentos e não mais pela tabela SUS (contratualização), e também as verbas do Pró-Santa Casa e Sustentáveis, que são voluntárias repassadas pelo Governo Estadual. “O valor do Pró-Santa Casa foi calculado sobre a produção da entidade que, à época, totalizava 70% dos procedimentos que deveria executar. Então, o prejuízo não é em razão da regionalização, mas sim de outras questões. Muitas vezes até sobra dinheiro deste convênio”, diz.
Benedito Westin conta que o levantamento feito em 2013 e em 2016 deixa claro que a questão não é a regionalização. “A verba que ela recebe é suficiente”.

E ele ressalta que neste momento a Santa Casa precisa decidir o que ela quer. “Viver da ilusão da década de 90 ou se modernizar e vir acompanhar toda a legislação que vem a respeito disso. A legislação definiu, através do Decreto 7508 de 2011, quais são as regiões de saúde e a Santa Casa pertence a uma. Ela quer se isolar? Deixar de ser da região de saúde e ficar sozinha?”, questiona.

O médico diz que por ser privada, a Santa Casa decide seu destino, porém reforça que o serviço privado de saúde é complementar. “Então, o Estado compra aquilo que lhe interessa. Se ela não tem interesse em fornecer a complexidade que ela tem, o Estado não é obrigado a comprar as outras coisas. Ou seja, se a Santa Casa deixar de ser regional ela perde de cara R$ 1 milhão e 200 mil mensais aproximadamente, correspondentes à média e alta complexidade e ao recurso ofertado pelo Estado do Pró-Santa Casa e Sustentáveis”, explica.

De acordo com o diretor do DRS 14, pelos números levantados, estes valores representariam cerca de 40% da receita da Santa Casa. “Você tira 40% do seu faturamento da noite para o dia?”, pergunta.

OS SANJOANENSES
Outra questão que Benedito Westin abordou é sobre como ficará a situação dos sanjoanenses caso a Santa Casa deixe de ser regional. “Sem a regionalização, provavelmente os sanjoanenses terão que ir para outros municípios. Hoje não funciona mais como antes, que paravam os serviços e o dinheiro ficava. Isso não acontece mais. Hoje o dinheiro sai junto. Parou de atender a região, o dinheiro será transferido para onde os atendimentos forem realizados”, detalha.

Segundo o médico, a política do Estado é a de valorizar os hospitais de referência e a Santa Casa de São João é um deles. “E a Santa Casa está querendo deixar de ser um dos 115 hospitais referência que recebem Pró-Santa Casa e Sustentáveis”.

Benedito Westin já alerta que o fim da regionalização pode tornar a Santa Casa de São João, em especial a alta complexidade, inviável. “O tomógrafo, por exemplo, você calcula um aparelho para tantos 100 mil habitantes. Isto é pela economia de escala. Com certeza a população de São João não dá para manter um tomógrafo. Ele vai ficar inviável economicamente. E ele estraga por dois caminhos, pelo uso e pelo desuso. Então, se não tiver demanda vai deixar de ter alta complexidade. O Estado não vai bancar alta complexidade aqui para atender apenas o sanjoanense”, ressalta.

E o diretor do DRS 14 faz vários questionamentos: “O sanjoanense vai deixar de ter escala de urgência de ortopedia, de neuro, de cirurgia? E todo o doente que chegar grave vai ser transferido? E o sanjoanense que precisa de uma cirurgia cardíaca não vai ter mais a região para atender? Fica aqui, já que São João não quer receber o vizinho? Sair da regionalização é sair do sistema”, adianta.

E finaliza apontando para o risco que a Santa Casa corre se optar por sair da regionalização. “Para uma empresa desaparecer ela não precisa diminuir de tamanho, basta parar de crescer. E a Santa Casa quer diminuir de tamanho?”.

NÚMEROS
Dados públicos no site do Ministério da Saúde, através do TabWin, demonstram que entre 2016 e 2017 a regionalização representa apenas 8% dos atendimentos na Santa Casa de São João.

Ou seja, 92% dos atendimentos realizados no hospital são de sanjoanenses.
Já a evasão, número de sanjoanenses que são atendidos em outras regiões de saúde é de 31%.

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