‘Zé Lopes’: 96 anos de histórias

 

 

 

 

 

 

 

Aos 96 anos, o sanjoanense José Rezende Lopes esbanja vitalidade e permanece com aguçada memória, sua marca registrada desde cedo.

Residindo hoje no Recanto Santorini, em Águas da Prata, para onde se mudou em razão da idade e de problemas de saúde que enfrentou, Zé Lopes, como é carinhosamente chamado por amigos, recebeu a reportagem do O MUNICIPIO para um bate papo.

À beira de um lago, o sanjoanense contou um pouco de sua história e lembrou passagens interessantes da política da cidade. Fez questão de ressaltar que está feliz onde reside. “Aqui é o paraíso. Tenho visita todo dia e leio jornal toda semana. Me atualizo pelo O MUNICIPIO”.

A INFÂNCIA

José Lopes conta que teve uma vida comum e  muito alegre no bairro do Pratinha, onde nasceu. De família grande, eram em 17 irmãos: ele, o oitavo. Mas a vida de trabalho começou cedo – logo ao sair do grupo escolar, foi trabalhar em numa farmácia. “Não tive essa de jogar bola, de brincar. Fui trabalhar na Farmácia Santa Elisa, do Peixotinho, na Rua Saldanha Marinho, em frente à fábrica de sanfona do Satorello. A farmácia era em cima do córrego”.

Zé Lopes lembra que os irmãos seguiram o pai na agricultura, o que ele não quis para si. “Eu não fui descascar  cebola e alho, eu fugi disso. Eu fui para São Paulo aos 17 anos, estudar. Arrumei um emprego na Drogasil, Rua Barão de Itapetininga, farmácia que vendia 200 contos por dia”, diz.

Na volta à São João, ele conta, foi para trabalhar com o ‘Zé Trafane’. “Ele falou: ‘José Lopes, você vai mudar para São João e vai trabalhar comigo na Farmácia do Alfredinho. Ele falou que vende a farmácia fiado para nós’. Ele deu 10 meses e com 90 dias a gente já estava com o dinheiro para pagar”.

Junto com Trafane, Zé Lopes  abriu uma farmácia no centro da cidade. “Nós cercamos o mercado. Montamos a Drogacentro na esquina do grupo escolar. Tinha um tal de Rei do Pano lá e eu dei 10 contos para ele e ele me vendeu o ponto. O prédio ali era da Santa Casa, deve ser até  hoje”, recorda, com sorriso no rosto. Foram 36 anos de trabalho nesta farmácia.

POLÍTICA

Na vida política, Zé Lopes revela que entrou a convite de Ângelo Simões Arruda. “Ele era um jovem inteligentíssimo, criado pelo Plínio Salgado. Ângelo era muito amigo do Dr. Oliveira Neto, ele se hospedava lá e vinha para a farmácia conversar. Eu entrei no Partido Integralista por causa dele”.

Mas, tempos depois, Zé Lopes, por influência de Manuel Assunção Ribeiro, muda para o Partido Comunista de São João, elegendo-se vereador. “Vereador era de graça. Não tinha salário. Nós trabalhávamos por idealismo. Todos eram idealistas, todos queriam um futuro melhor para São João, para a sociedade”.

O SEGREDO DA VITALIDADE

Quase chegando aos 100 anos, Zé Lopes esbanja energia e não dá sinais de cansaço físico, nem mental. Ele conta o segredo dessa sua vitalidade. “Todo mundo me via por todo lado de São João e me oferecia carona e eu nunca aceitava. Está aí o segredo. Eu tive muitos automóveis, mas andava apenas a pé. Isso me deu esse rejuvenescimento de 96 anos. Se estivesse usando automóvel estava com reumatismo e gordo”.

Aos amigos, que ele não vê há algum tempo, Zé Lopes deseja paz, amor e amizade. “Um abraço e saúde para todos”, finalizou o bate papo de cerca de uma hora.

 

‘O Zé Ruy foi o melhor e o Octávio Bastos merece uma estátua’

Questionado sobre quem foi um bom prefeito para São João, Zé Lopes não hesita e diz: “De vanguarda é o Octávio Bastos, esse cara é um herói, esse cara merece uma estátua”.

Ele atribui esse elogio a Octávio, principalmente pela criação da Faculdade de Direito. “Ia ser uma cadeia ali. Foi um marco divisório para São João. Se você começar a contar os ônibus à noite, que trazem alunos de toda a região, você fica bobo. O Octávio, ao invés de deixar construir uma cadeia em São João, conseguiu fazer a faculdade, que trouxe o dinheiro para a cidade que nenhum industrial trouxe”, aplaude.

Já o melhor na preferência de quem acompanhou boa parte da história de São João foi José Ruy de Lima Azevedo. “Ele era muito amigo do Carvalho Pinto, governador de São Paulo. O que o Zé pedia, o Carvalho Pinto atendia. Ele asfaltou a Avenida Dona Gertrudes. O Zé Ruy não foi brinquedo, não. E um homem inatacável, ele vivia na fazenda, nunca se meteu em nada, então não tinha nada para falar dele. Ele aproveitou e fez o que tinha que fazer. Foi esse o melhor prefeito que São João já teve”.

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